O Porto de Shenzhen ¬- o quarto maior do mundo e o segundo da China em movimentação de contêineres ¬ quer ampliar o comércio de cargas com a América Latina, especialmente com o Porto de Santos. O complexo asiático planeja aumentar a troca de contêineres e, principalmente, importar produtos alimentícios frigorificados do Brasil, devido à alta demanda de seu país.
Os planos de Shenzhen foram revelados pelo seu vice-prefeito, Zhang Siping, e por empresários portuários do país ontem, em São Paulo. Eles vieram ao Brasil para expor os serviços e as oportunidades de negócios com o complexo, que almeja ser o maior do mundo.
Siping explicou que o interesse da região de Shenzhen pela América Latina se dá pelo crescente desenvolvimento econômico dos países que integram o subcontinente, notadamente o Brasil. Outro motivo é o compromisso de comércio bilateral firmado recentemente entre os governos brasileiro e chinês, com a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Ásia.
Sobre sua preferência por Santos, o vice-prefeito de Shenzhen argumentou que o principal complexo marítimo brasileiro é servido por uma zona de produção cujos bens são essenciais para os chineses, como matérias-primas e alimentos.
Tradicionalmente, o complexo asiático importa minério de ferro e soja. Só no ano passado, foram 10 milhões de toneladas recebidas do cais santista. Na exportação, o porto manda ao Brasil produtos de alta tecnologia, como eletrônicos e eletrodomésticos, além de vestimentas.
A China está sofrendo cada vez mais com as restrições dos Estados Unidos e da Europa no fornecimento de alimentos. Por isso que a China precisa importar cada vez mais alimentos, produtos frigoríficos e matérias-primas do Brasil e do Porto de Santos, admitiu o representante do país asiático, que tem 1,3 bilhão de habitantes.
ROTAS
O caminho para ampliar o comércio bilateral com a América Latina, e particularmente com Santos, tem como ponto fundamental a criação de novas rotas marítimas com escalas no cais santista. As linhas que temos hoje para a América Latina são poucas se comparadas com aquelas que atendem outros mercados do mundo. As companhias de navegação que operam no Porto de Shenzhen já estão preparando mais escalas para Santos, afirmou o vice-gerente executivo da Yantian International Container Terminal (YICT), uma das principais operadoras de Shenzhen, Jiang Yansheng, praticamente sendo copiado por outros empresários portuários da nação.
Segundo Yansheng, das 81 rotas regulares que passam pelas instalações da YICT, apenastrês chegam à América Latina. A América do Norte é servida por 31 linhas e a Europa, 28. Ele cita, por exemplo, a presença de Santos apenas uma vez no itinerário da Cosco ¬ armadora controlada pelo governo chinês. Os navios da companhia têm escalas semanais, às quartas-feiras, no cais santista.
Para o vice-diretor administrativo da China Merchant International, uma das grandes operadoras de Shenzhen, Liu Yunshu, das 116 rotas marítimas que atendem os seus dois terminais, Chiwan e o Shekou, apenas sete incluem a América do Sul.
O momento é de ampliação de negócios com os clientes da América Latina, do Brasil, avaliou Yunshu.
Contêineres
O Porto de Shenzhen conta com três grandes conglomerados de terminais de contêineres: o Yantian, o China Merchants (que administra o Chiwan e Shekou) e o Baía DaChan. Juntos, eles devem movimentar 18 milhões de TEUs (unidade equivalente a um contêiner de 20 pés) este ano, quase 3 milhões a menos do que em 2008. Localizado na zona central do Delta do Rio das Pérolas, o porto tem 40 berços reservados para navios de contêineres.
Complexo asiático aposta em agilidade aduaneira
Da Redação
Agilidade aduaneira é a receita do Porto de Shenzhen, na China, para ampliar sua competitividade e atrair cargas. Para as autoridades do complexo, investimentos em equipamentos de fiscalização e controle de cargas, somados à instalação de indústrias alfandegadas, são os principais responsáveis pelo boom da economia nacional.
Shenzhen aposta nos seus programas de rastreamento de cargas para liberar as mercadorias de seus terminais em um dia, em média. No Brasil, são 38 dias. Isso acontece porque todos os procedimentos são feitos com antecedência pela internet. E nossos equipamentos de segurança fazem a checagem dos contêineres, sem ter que abri-los, explicou o vice-prefeito de Shenzhen, Zhang Siping.
Todas as operações aduaneiras acontecem 24 horas por dia, por exemplo. Além disso, o complexo integra a Iniciativa de Segurança de Contêineres (CSI), criada pelo Serviço de Aduana e Proteção de Fronteiras dos Estados Unidos, para rastreamento de cargas.
PORTOS SECOS
Um dos maiores trunfos de Shenzhen frente a outros portos da própria China é a instalação de indústrias alfandegadas -¬ as zonas de processamento de exportação (ZPEs) ou centros logísticos industrias e aduaneiros (clias) brasileiros. Shenzhen tem dois desses recintos.
A operação de uma dessas áreas, em Yantian, é integrada ao terminal de contêineres local, em uma área de aproximadamente 1 quilômetro quadrado. Lá, a carga é consolidada e preparada para o transporte internacional.
Nas zonas alfandegadas, o governo chinês oferece isenções de impostos para exportação. Há incentivos para a movimentação de eletrônicos e produtos agrícolas e de origem mineral. Tudo para tornar as mercadorias mais competitivas.