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Clippings - 21/08/09

Fundos de pensão financiarão setor produtivo

São PAULO – Frente à necessidade de diversificar suas carteiras de investimento, as entidades de previdência devem se tornar uma fonte estável para financiar o setor produtivo. Esta é uma das conclusões do estudo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Crise abre oportunidade para fundos de pensão.

Segundo o levantamento, a participação dos títulos públicos deve diminuir dentro do portfólio dessas fundações, abrindo espaço à diversificação da carteira de investimentos. Com a queda da taxa de juros [Selic], a principal fonte de rendimentos dos fundos de pensão brasileiros, que são os títulos públicos, deixa de ser atraente. Com isso, a tendência é o setor procurar outros investimentos para atingir a sua meta atuarial, explicou Adriana Inhures, uma das autoras do estudo.

A presença de títulos públicos é pequena nas entidades de previdência dos países desenvolvidos, onde predominam aplicações em ativos de empresas, quer seja por meio de renda variável, quer seja por meio de títulos de renda fixa. Nos EUA, no Japão e na Alemanha, pelo menos dois terços dos ativos são destinados ao setor privado. Mas no caso do Brasil, do México, da República Tcheca e da Turquia, por exemplo, a concentração das aplicações em títulos públicos chega a patamares de 50% a 75%.

Segundo Inhures, os fundos de pensão são investimentos de longo prazo e, portanto, tornam-se candidatos naturais à captação de recursos para a infraestrutura. O estudo indica os setores de energia elétrica e rodovias, por exemplo, como fortes polos de atratividade, porque, além de proporcionarem uma rentabilidade mais previsível, possuem fluxos de caixa mais estáveis.

Para o diretor superintendente da Fibra – Fundação Itaipu, Silvio Rangel Silveira, a crise de fato gerou oportunidade de diversificação das carteiras, mas com ela vem também o risco. O caminho da diversificação nas carteiras e a menor alocação de títulos públicos são tendências, porque esses investimentos se tornaram insuficientes para cumprir a meta atuarial. Daí a necessidade de variar as aplicações, e, naturalmente, se persistir a queda da taxa de juros do Banco Central, os aportes em títulos públicos devem migrar, afirma.

O diretor superintendente da Fibra diz que será preciso se adaptar à nova realidade, que, segundo ele, vai demandar maior preparo das equipes. Será uma cultura diferente de aplicação, frisou. Ao mesmo tempo, isso vai gerar um dilema, porque os fundos de pensão de menor porte não têm como investir em equipe e devem começar a delegar a gestão para empresas especializadas, disse.

De acordo com Rangel, os fundos de pensão estão em uma situação boa, principalmente se comparados a outros setores da economia. Todos aqueles considerados pecados brasileiros viraram virtudes no momento da crise. Excessos de regulação se mostraram eficientes e, em parte, impediram que os fundos passassem de forma relativamente positiva, ou pelo menos em uma posição privilegiada, contou.

A indústria de fundos de pensão no Brasil ainda não está no nível do mercado nos países desenvolvidos, contudo, nos últimos anos, vem apresentando crescimento. O estudo do BNDES mostra que entre 2002 e 2007 a relação entre os ativos totais das fundações e o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu cerca de 5 pontos percentuais, saindo de 12,8% para chegar a 17,6%. Entre 2007 e 2008, esse indicador recuou para 15,4%, uma perda de 2,2 pontos percentuais, ou 12,5% – reflexo da crise internacional. Este ano, no entanto, houve uma pequena recuperação no valor total dos ativos em carteira dos fundos. Apesar do ambiente favorável para o setor de fundos de pensão, Rangel indica algumas alterações que o sistema aguarda com expectativa. Uma é a criação da Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc); outra é a alteração na Resolução 3.456, que, entre outros pontos, trata do limite legal para investimentos das entidades.

Existe um paradoxo: temos objetivos de longo prazo, mas todo o processo contábil de ativos e passivos tem o viés de curto prazo, ou seja, não se produz o incentivo correto, afirmou. Segundo Rangel, o perfil de longo prazo, pelo critério de marcação a mercado, gera uma volatilidade na precificação, porque não haverá resgate em curto prazo. Caberiam ativo e passivo previdenciário compatíveis, explicou.