No café da manhí da diretoria da Petrobras com a imprensa, a primeira pergunta foi feita pelo responsável por esta coluna. José Sérgio Gabrielli foi inquirido sobre a manutenção ou não da política de conteúdo local, diante do Custo Brasil – pressionado por um dólar que, mesmo diante de altas recentes, ainda está baixo – e em razão de ofertas de estaleiros estrangeiros, basicamente asiáticos da China e Coréia. Perante toda a diretoria e mais de 100 jornalistas – e ainda com transmissão online pela Agência Petrobras – Gabrielli reafirmou sua crença e do governo Dilma no conteúdo local, ou seja, na contratação de peças e equipamentos – basicamente navios, navios-sonda e plataformas – no Brasil.
Como se sabe, até 2020 há perspectivas de se precisar de 105 plataformas, 542 barcos de apoio e, quanto a navios, a Transpetro tem encomendas de 49 unidades, que podem ir a 60. As encomendas totais são estimadas em US$ 20 bilhões por ano.
Não se está questionando a palavra de Gabrielli, principalmente porque não são decisões individuais, mas de governo, envolvendo diversos fatores, desde emprego e encomendas internas a gastos, remessas e até parcerias políticas com outros países.
Teme-se que a rica China, por exemplo, troque créditos para a Petrobras por encomendas. Mas logo após o encontro da gigante brasileira com a imprensa ocorreram dois fatos altamente negativos para a indústria nacional.
De forma lacônica, a Petrobras anunciou o cancelamento da licitação de 21 navios-sonda e, como cada um custa em torno de US$ 800 milhões, estão em jogo em torno de US$ 17 bilhões. Essa interrupção tem ocorrido em outros casos.
Quando a estatal acha os preços altos, suspende a licitação e depois consegue valores mais baixos. No entanto, isso coincide com boatos sobre propostas tentadoras de estaleiros estrangeiros, não só à Petrobras, mas na base governo a governo. Diz a nota: A companhia iniciará imediatamente a negociação com as duas proponentes, Ocean Rig do Brasil Ltda e Sete Brasil Participações S/A., tendo como objetivo a obtenção de melhores condições.
O segundo fato preocupante é o anúncio de que a Sete Brasil assinou acordo para construção de sonda, no valor de R$ 1,5 bilhão, com o grupo coreano Keppel. Embora o texto oficial diga que a obra será feita no Brasil, não se sabe que parte virá do exterior. Um dado que não pode ser esquecido é que a Sete Brasil tem 10% de capital da Petrobras e 13% do Petros – fundo que é independente para certos temas e, em outros, é totalmente obediente à empresa-míe Petrobras.
Portanto, há muita preocupação no ar. Defensores do conteúdo local temem que, dos 21 navios-sonda necessários à estatal e também em relação a plataformas e até navios, a participação estrangeira aumente, seja com importação direta de unidades ou com a fabricação de grande parte no exterior e simples complementação no Brasil.