A aquisição da britânica Expro pela gigante alemí Siemens na Europa, em negócio de 470 milhões de euros anunciado em março deste ano, já começa a ter seu reflexo no Brasil.
A multinacional estuda nacionalizar a produção de componentes como sensores e conexões para o mercado de distribuição e transmissão de energia submarina para atender a demanda em crescimento do setor de petróleo e gás. A empresa avalia investir em uma linha desses produtos na planta de São Paulo ou no Rio de Janeiro. A primeira tem a facilidade de encontrar fornecedores e, no Rio de Janeiro, a vantagem é estar próximo a grandes clientes como Petrobras, OGX, Shell e Chevron.
Segundo o diretor da divisão de óleo e gás da Siemens no Brasil, Welter Benício, a empresa aposta no mercado brasileiro por creditar à demanda local o título de maior centro de aplicação de tecnologia submarina no mundo, pois a perspectiva da empresa é de que esse mercado poderá atingir volumes globais de 2 bilhões de euros até 2020. Uma importante parcela desse volume de negócios está ligada ao desenvolvimento de novos poços, principalmente, com o pré-sal. O executivo, porém, não descarta os negócios na área tradicional conhecida como o pós-sal.
A maior parte da produção de petróleo no Brasil ainda está na camada do pós-sal, e essa condição ainda vai perdurar por um bom tempo, mas sem dúvida a exploração da megarreserva irá acentuar a condição de liderança do Brasil na exploração do mineral em águas ultraprofundas, analisou Benício. Por isso, a aquisição da Expro completa, de forma importante, o portfólio de equipamentos de transmissão de energia elétrica no leito do mar, é um complemento tecnológico aos equipamentos que já fornecemos ao setor, afirmou.
E é justamente para atender à necessidade de conteúdo nacional que a Siemens quer trazer a fabricação desses componentes para o Brasil. Esse plano, explica Benício, já existia na Expro antes de ser alvo da aquisição da multinacional. Só aceleramos esse processo para podermos aumentar a nossa capacidade de produção em uma área já existente, disse Benício, acrescentando ainda que, dessa forma, o investimento será menor do que seria se o plano de expansão englobasse a construção de uma nova fábrica.
O intuito é continuarmos fazendo a montagem dos conectores, e passarmos a fabricar componentes para que, futuramente, tenhamos a possibilidade de desenvolver algumas pesquisas de desenvolvimento do subsea powergrid [rede submarina de energia], disse o executivo. Ele lembrou que a companhia terá um centro de Pesquisa e Desenvolvimento no Rio de Janeiro que poderá desenvolver novas tecnologias para esse tipo de produto no País e que esses investimentos fazem parte dos US$ 600 milhões que a empresa investirá no Brasil até 2016, tendo como foco o aumento do conteúdo nacional da Siemens.
Energia no mar
O subsea powergrid é uma rede submarina que fornece eletricidade para equipamentos no leito do mar e permite a produção e processamento de óleo e gás a partir de módulos instalados a até 3 mil metros. Benício explicou que essa rede pode transmitir energia de unidades de geração em terra ou embarcada em plataformas de petróleo que operem poços de exploração e produção dos hidrocarbonetos remotamente. Nessa última opção é que a Siemens pretende avançar.
Os produtos da companhia recém-adquirida, explicou o executivo, são complementares aos sistemas já fabricados pela Siemens e são aplicados em manifolds (coletores), árvores-de-natal e sistemas de subsea power.
Nossa solução para o segmento de transmissão de energia submarina é aplicada, por exemplo, em um campo de petróleo que não é grande o suficiente para justificar a instalação de uma plataforma, então, a empresa pode explorar esse campo de uma plataforma ou navio-plataforma que está distante até 50 quilômetros, explicou. Essa instalação é similar à que se tem em uma fábrica, porém, com a ’marinização’, ou seja, com condições de ser colocado no fundo do mar e que tenha capacidade de controlar vazão, bombear o volume produzido para a plataforma e, para tudo isso, mandamos a energia a essas unidades, continuou.
Segundo ele, a rede elétrica submarina pode ajudar a aumentar a capacidade de produção de um reservatório no leito do mar e viabiliza economicamente esses pequenos campos.
A Expro faturou cerca de 90 milhões de euros no ano passado e ficará sob o controle da área Energy da Siemens, divisão que apresentou receita global de 27,6 bilhões de euros e recebeu novos pedidos totalizando quase 35 bilhões de euros, segundo dados da própria empresa.