Maioria
de operações ocorre com navios atracados. Expectativa de STS em alto-mar na BA
e no ES
• Dados da Diretoria de Portos e Costas da Marinha apontam que as operações
atracadas (double banking) de ship-to-ship (STS) em portos e terminais
portuários nacionais foram as mais executadas em 2019, seguidas pelas operações
em mar aberto e fundeadas. De acordo com a DPC, as operações em mar aberto
ainda ocorrem apenas na área autorizada da Bacia de Santos. No entanto, o setor
percebe movimentações para que áreas das costas do Espírito Santo e da Bahia
iniciem esse tipo de operação este ano ou em 2021, tendo em vista a expansão
desse segmento de mercado em águas jurisdicionais brasileiras.
A atividade ship-to-ship está incluída na resolução 811/2020 da Agência
Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), publicada em meados
de março. A nova regulamentação, que revisou a portaria ANP 170/2002, consiste
em regulamentar essa atividade e atualizar as exigências para a autorização do
transporte de petróleo, seus derivados e biocombustíveis a granel por meio
aquaviário. A norma também permitirá ao órgão regulador levantar estatísticas
mais precisas acerca do exercício da atividade de ship-to-ship no Brasil. Até o
fechamento desta edição, a ANP ainda não havia fechado dados consolidados sobre
a atividade em 2019.
A ANP considera que a versão levada à segunda audiência pública, no ano
passado, não apresentava sobreposições. A agência ressalta que a nova
regulamentação foi debatida com outras instituições, tal como a DPC e a Agência
Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq). “Buscamos esclarecer e demonstrar,
ao longo do processo de regulamentação, que a resolução não trazia conflitos de
competências”, salienta a ANP. Desde a publicação da resolução 811, não houve
emissão de manifestação específica sobre operações.
A Normam-08, em seu capítulo 6, divulga os procedimentos para as operações
ship-to-ship. Desde a atualização em dezembro de 2019, a norma abrange todas as
operações e cargas de ship-to-ship, inclusive as de gás natural liquefeito
(GNL), tendo em vista que o guia de STS da Sociedade Internacional de
Operadores de Petroleiros e Terminais (SIGTTO, na sigla original) compreende
todo o universo de cargas de ship-to-ship.
A DPC informou que não há registros de acidentes com poluição nos últimos 12
meses encerrados em abril de 2020. A DPC vem acompanhando operações STS em todo
o Brasil. “As avaliações da presença física de representantes da DPC são de
muita importância para a verificação do cumprimento das normas da autoridade
marítima vigentes e das boas práticas internacionais, além da troca de
experiências e informações com os operadores desse segmento”, informa a
diretoria.
O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(Ibama) informou que não houve aumento no número de autorizações para operações
ship-to-ship ao longo dos anos. O órgão alega que a consulta ao número de
solicitações para esse tipo de operação não é simples, pois os requerimentos
são inseridos individualmente em cada processo.
O Ibama trata somente de operações com navios em movimento, enquanto as demais
modalidades são objeto de fiscalização de órgãos de controle marítimo, como
capitanias dos portos e Antaq. Atualmente, o instituto trabalha na revisão da
instrução normativa 16, que regulamenta os procedimentos técnicos e
administrativos para emissão de autorização ambiental para operações STS em
águas nacionais. A expectativa do órgão ambiental é de que a nova versão da
IN-16/2013 seja publicada ainda em 2020.
O complexo portuário e industrial de Suape (PE) avalia que demanda por
operações ship-to-ship é crescente e com boas perspectivas para os próximos
anos. Hoje, as operações STS em Suape correspondem à movimentação de gás
liquefeito de petróleo (GLP), petróleo bruto e derivados. Em 2019, o porto
contabilizou 338 navios envolvidos em operações ship-to-ship, totalizando
4.176.795 toneladas de produtos. Petrobras e Transpetro são as empresas parceiras
que atuam junto ao complexo nessas operações.
O diretor de gestão portuária de Suape, Paulo Coimbra, destaca que, até hoje,
as operações têm ocorrido livres de qualquer acidente ou incidente. Coimbra
conta que todas as operações são orientadas por profissionais tanto da
Petrobras e da Transpetro, quanto da diretoria de meio ambiente e
sustentabilidade, além dos órgãos de controle e fiscalização.
Ele revela que há um estudo em desenvolvimento para operações em mar aberto
apoiadas pela estrutura do Porto de Suape, mas que ainda está em fase
embrionária. “Todas as novas operações são norteadas por simulações, operações
em vazio e intenso acompanhamento da capitania dos portos e da praticagem”,
acrescenta Coimbra.
O complexo industrial e portuário de Pecém (CIPP) também demonstra grandes
expectativas para operações STS. A última operação desse tipo de carga em
Pecém, nessa modalidade, foi há aproximadamente cinco anos. “Estamos em
constante contato com a Transpetro para realizar o transbordo de combustíveis,
que é feito nessa modalidade de navios ship-to-ship”, conta o diretor de
operações do complexo do Pecém, Waldir Sampaio.
Sampaio explica que a operação depende de licença do Ibama para a movimentação
desse tipo de carga no terminal de múltiplas utilidades (TMUT). A aposta é que
as características do porto permitem outras modalidades de operações STS. Ele
afirma que o porto pode fazer operações STS com granéis, por exemplo. Sampaio
lembra que, durante os quase dois anos, em que o porto operou esse tipo de
carga, o índice de acidentes foi zero. O parceiro do porto nessas operações
naquele período foi a Transpetro.
Investir em novos terminais é visto no setor como mais oneroso do que
aproveitar estruturas existentes e adaptá-las para garantir fluidez maior
dessas operações de transbordo. O vice-presidente do Conselho Nacional de
Praticagem (Conapra) e prático do Rio de Janeiro, Otávio Fragoso, lembra que, a
partir do aumento de produção na Bacia de Campos, deixou de haver terminais
suficientes para movimentar óleo e o ship-to-ship se tornou alternativa viável
nessa logística.
No Rio de Janeiro, operações STS são feitas regularmente no Terminal da Baía da
Ilha Grande (Tebig) e, mais recentemente, no T-Oil, localizado no complexo do
Porto do Açu. Na Baía de Ilha Grande, já ocorreram operações STS com navios
fundeados. Em 2015, porém, o Ibama proibiu a operação na área de proteção
ambiental e o STS fundeado foi considerado de risco maior do que com navios
atracados. Daí em diante, passou a ser realizada apenas com o navio atracado no
terminal. Hoje, são feitas com frequência operações STS no píer 1 e 2 do Tebig,
com quatro navios atracados.
Fragoso destaca relevância do tema segurança operacional e ambiental nesse tipo
de operação. O prático enfatiza que basta ter um acidente para que as
autoridades retirem autorizações de operações de transbordo de óleo na
localidade atingida.
Ainda existem desafios como operações STS noturnas e transbordo com navios em
movimento, que requerem uma série de testes e simulações. O Conapra dialoga e
colabora com dados e estudos para tornar essas operações as mais seguras
possíveis. O conselho mantém convênio com Tanque de Provas Numérico da
Universidade de São Paulo (TPN-USP).
Os pesquisadores realizam simulações no tanque para definir padrão, quantidade
de rebocadores, para ajudar a definir condições especiais e quantidade de
práticos. Os resultados são compartilhados com a Marinha, com autoridades
portuárias e com operadoras. A Petrobras define a demanda exata e a praticagem
simula limites de vento, por exemplo. São avaliadas questões como a amarração e
o número de rebocadores necessários para garantir a segurança e a viabilidade
econômica da operação. “Hoje, com simulador, se consegue avançar bastante antes
que as operações comerciais sejam autorizadas”, destaca Fragoso.
Durante a pandemia, as atividades presenciais foram suspensas e as simulações
de manobras com comandantes e práticos não estavam sendo realizadas, bem como
os ensaios no tanque de ondas do TPN-USP. Essa suspensão causará acúmulo de
tarefas no retorno das atividades presenciais, o que demandará talvez turnos
extras de trabalho ou atividades nos fins de semana. A finalização da
construção de um novo simulador de manobras de operações ship-to-ship, que
estava prevista para ser entregue no final de abril, foi adiada por conta das
restrições.
O professor Eduardo Aoun Tannuri conta que os pesquisadores vêm trabalhando
remotamente e mantendo, a cada dois dias, reuniões dos líderes das equipes com
seus times, onde são repassadas as tarefas e planejadas as atividades. “Neste
período, não estamos parados. A equipe está executando pesquisas, simulações
fast-time, estudos de amarração, modelagem hidrodinâmica, análises conceituais
PIANC, dentre outros trabalhos que dispensam a presença nos simuladores”,
destaca Tannuri.
Os pesquisadores também aproveitaram o período para incrementar o banco de
dados de mais de 250 navios e de portos, atualizar a versão do sistema de
visualização (com mais realismo e efeitos gráficos), incluir novos efeitos
hidrodinâmicos (como squat com fundo variável) e construir um novo simulador
full-mission com soluções tecnológicas inovadoras. O objetivo, segundo o
professor, é garantir a vanguarda tecnológica na área de simulação de manobras
navais.
Fonte: Revista Portos e Navios