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Clippings - 13/04/22

TGS de olho no mercado de eólicas offshore no Brasil

Para João Correa, country manager da TGS, o Brasil é a Arábia Saudita dos ventos

Em entrevista ao PetróleoHojeo country manager da TGS no Brasil, João Correa, analisa o mercado e o mapa exploratório brasileiros, a atividade sísmica no contexto de alta dos preços do petróleo e, sobretudo, o reposicionamento estratégico da companhia frente à transição energética. “O Brasil é um dos principais espaços em que a TGS opera e não pretendemos perder. Então, vamos continuar mantendo nossa posição privilegiada no mercado, seja no óleo e gás, seja nas eólicas, seja em outra alternativa energética”, disse o executivo. Confira:

Como o Brasil está posicionado na estratégia global da TGS?

O Brasil tem um papel de destaque para nós no que se refere ao número de pedidos, de licenças ambientais, no número de projetos que realizamos nos últimos cinco anos. Os nossos dados fornecem suporte para o regime de bids e agora a oferta permanente. Normalmente, você vê que nós temos dados em quase todos os setores offshore. Afinal, a TGS possui maior biblioteca de dados 2D, que são os primeiros dados que se compram pra poder fazer uma oferta, o que nos coloca em destaque dentro desse cenário das rodadas de oferta de blocos exploratórios. Nós temos um escritório aqui, que cada vez está mais fortalecido. Diante disso, o Brasil é uma das nossas prioridades, temos aqui um papel de protagonismo que esperamos não perder.

Diante do cenário de alta do petróleo, a TGS acredita que haverá um impulso da atividade sísmica no Brasil?

Com o conflito na Europa, voltamos a perceber a importância dos combustíveis fósseis na matriz energética. Então, claro, a transição é uma meta super importante, mas a realidade se impôs. Começamos a perceber que recursos que já estavam ficando encalhados e projetos exploratórios de nova fronteira serão reconsiderados. Eu acho que o vazio que a Rússia vai deixar na matriz energética, no suprimento de petróleo e gás no mundo, vai fazer com que os investimentos sejam direcionados para lugares onde há estabilidade política. Então, o Brasil se apresenta como um lugar seguro, com grandes grandes reservas ainda a serem descobertas, como na Margem Equatorial, que está praticamente inexplorada, e também a Bacia de Pelotas, duas grandes fronteiras exploratórias que vão atrair atenção. O que temos percebido é um aquecimento, uma volta de interesse de empresas grandes que haviam declarado intenção de encerrar atividades em áreas de nova fronteira. Eu acho que isso vai se reverter muito em função da guerra na Ucrânia.

Por conta de um conflito tudo mudou de uma hora para outra…

É porque não é um simples conflito, é um conflito na Europa. A gente está diante do que tecnicamente se pode considerar uma Terceira Guerra Mundial. A ordem política mundial está se movendo. Como ela vai ser daqui a um ano, dois anos ou três anos? Não sabemos. Que não vai ser igual a pré-2022 não vai, acho que não tem como ser. Você vai começar a questionar verdades que foram absolutas para nós, para minha geração. Eu nasci no domínio do dólar, o dólar é uma moeda de referência. Será que o dólar vai continuar como moeda de referência, o que irá acontecer? As pessoas precisam de calor pra enfrentar aquele frio insuportável do Norte da Europa. E, infelizmente, o mundo não está preparado pra substituir o petróleo por renováveis. Eu acho que vai haver um reposicionamento estratégico. Talvez, a gente tenha que avançar mais em eficiência energética pra tentar cumprir o que já foi pactuado. Mas o vácuo deixado por um país produtor, como a Rússia, balança os alicerces do planeta.

Como anda a sísmica para o pré-sal além das 200 milhas? Teve algum avanço nesse sentido?

Com relação à região além das 200 milhas, nós fizemos um levantamento de dados 2D, usado como base pela ANP que desenhou, definiu e ofertou blocos, além da Zona Econômica Exclusiva. Esses blocos, infelizmente, não foram arrematados. Nós temos, também, um levantamento 3D da região. Ao que parece, uma das questões que levou a falta de participação das empresas foram algumas indefinições com relação aos royalties que devem ser pagos a autoridade internacional marítima, e como esses royalties se relacionam com os royalties que também devem ser pagos ao Brasil, um adicional a esse valor do que já é exigido por ler no Brasil pode causar uma dificuldade para que o projeto seja economicamente viável. E, também, de licenciamento ambiental. Ouvi de clientes, que a questão ainda não está completamente pacificada. Então, falta dar garantias ao mercado de que essas questões estão resolvidas, que essas regras estão claras, e aí eu acho que esses blocos serão arrematados. Estas questões sendo resolvidas poderemos confirmar o enorme potencial além das ZEE, pois nossos estudos demonstram que o pré-sal da Bacia de Santos continua, muito além das 200 milhas, sobre a área que o Brasil já reivindicou na ONU, e que tem direito a explorar, exemplo de outros países como foi o Canadá. Então, nós estamos aí, aguardando o desfecho, mas nós já fizemos, a TGS já fez o investimento, tem dados 2D, tem dados 3D que abrem grandes oportunidades para o país além das 200 milhas, na Bacia de Santos.

Diante da lacuna de conhecimento existente sobre o potencial geológico brasileiro nas bacias sedimentares terrestres, a TGS avalia expandir seu portfólio de atuação para o onshore do país?

Eu acho pouco provável. Porque, eu sou formado em geologia, trabalhei na Petrobras durante 18 anos, trabalhei no onshore, era praticamente um cara de terra, fui pro mar quando entrei pra TGS. Infelizmente, nosso onshore não tem escala, a menos que tenhamos uma surpresa muito grande na Bacia do Paraná. Na época que eu trabalhava, lembro que tinha uma dificuldade tecnológica muito grande pra poder ver o que tem abaixo do basalto ali da Bacia do Paraná, além de ser muito caro. Todas as nossas bacias onshore são bacias que podem ser interessantes para a indústria de médio e de pequeno porte. A Shell tentou fazer um levantamento grande, ela fez uma incursão onshore, na Bacia Bambuí, em Minas Gerais, foi bastante ousada ali. Chegaram a encontrar alguns indícios de gás, mas nada significativo. E, principalmente, você só consegue trazer empresas de sísmica, do porte da TGS, caso exista um mercado multicliente ativo, o que não acontece no onshore brasileiro. Você não vai fazer uma mobilização dessa magnitude pra fazer projetos pequenos e sem possibilidade de escala. Se você for olhar o histórico de empresas onshore no Brasil praticamente todas faliram ao longo das duas últimas décadas. Nós tivemos o Reate, que veio para fortalecer o onshore, e que pode criar um ambiente favorável, mas vejo potencial para pequenas empresas, o que não seria o caso da TGS, pelo menos no curto e médio prazo.

Como a TGS está redirecionando a sua estratégia para o cenário de transição energética no Brasil? Há outras atividades que a empresa vislumbra no país, como eólica offshore?

Com certeza. Isso é um motor que está se impulsionando. Todo mundo no mercado de óleo e gás está com um pezinho na transição. Acho que isso é bem natural, porque a transição não é uma ruptura. A tendência é que as empresas, que estão hoje posicionadas no mercado de petróleo e gás, venham assumir posições e talvez até de liderança nesses mercados. A Shell, por exemplo, anunciou um grande projeto eólico aqui no Brasil. O que eles pretendem ter de eólica offshore aqui, no Brasil, equivale a cinco usinas atômicas, então é um negócio de um porte que só uma grande empresa com traquejo em energia tem condições de realizar. Na Europa, a TGS está já está bastante avançada, nosso desafio é trazer estas tecnologias pra cá, temos isso no radar. O Brasil é a Arábia Saudita dos ventos. Nós temos ali, na Margem Equatorial, os ventos alísios que são permanentes ao longo do ano, sempre na mesma direção e com grande intensidade. Então, nós somos uma região com uma vocação muito grande para eólica, já se confirmando em eólica onshore. Então minha resposta é sim, TGS tem a transição como meta, mas, no Brasil, ainda existe um caminho longo a se percorrer na questão regulatória. Ainda não sabemos qual vai ser o modelo adotado para as eólicas offshore. Para nós, claro, um modelo multicliente sempre é o melhor modelo, porque existe mais competição. Você pode arriscar mais investimentos, o que não conseguir com um consegue com o outro. Quando você tem um único cliente você é praticamente um prestador de serviço, e não há diversidade no negócio. Já no modelo multicliente você tem capacidade, grau de liberdade maior para prestar serviço, fazer alguma coisa ainda no risco. Este é o modelo de sucesso adotado para óleo e gás no país, e acreditamos ser o ideal também para o caso da eólicas offshore.

Fonte: Brasil Energia