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Segunda parte de levantamento apresentado pela Antaq concluiu que portos brasileiros estão preparados para mudanças climáticas que se aproximam, mas chamou atenção para impactos de chuvas e aumento do nível do mar
O diretor-geral da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), Eduardo Nery, disse, nesta terça-feira (6), que os portos brasileiros estão preparados para as “mudanças climáticas que se avizinham”. Para a agência, não existem riscos altos, no entanto deve-se manter a atenção aos de nível médio, que podem ser observados em função de chuvas e de aumento do nível do mar. A Antaq avalia que, de modo geral, o risco estrutural é baixo em função das características construtivas e de operação das infraestruturas e equipamentos que já foram dimensionados para suportar as cargas operacionais dentro de limites de condições climáticas adversas.
Na visão da agência, essa realidade pode estar mudando pouco a pouco, o que fará com que a adaptação de equipamentos, máquinas e infraestruturas com tecnologias mais modernas e que resistem melhor às condições de umidade possam prevenir paralisações e prejuízos financeiros significativos ao porto.
As conclusões fazem parte da segunda parte do “Levantamento de Riscos Climáticos e Medidas de Adaptação para Infraestruturas Portuárias”, desenvolvido pela consultoria I Care, e divulgada durante a 28ª reunião extraordinária da diretoria colegiada da Antaq, realizada na manhã de hoje. A primeira parte, divulgada no final de 2021, elaborou um ranking dos portos sob o maior risco climático entre 2021 a 2040 e 2041 a 2060.
Nery acredita que o levantamento contribui para que a Antaq siga aprimorando seu trabalho e oferecendo às administrações portuárias mecanismos para aumentar a eficiência das operações. “Assim, impedindo ao máximo perdas operacionais e garantindo que a infraestrutura dos complexos permaneça o mais íntegra possível, a fim de evitar paralisações”, explicou na apresentação do estudo.
Na reunião, a diretora da Antaq, Flávia Takafashi, ressaltou que o estudo busca identificar os riscos e impactos em portos pela mudança do clima na movimentação de cargas, bem como a proposição de medidas mitigadoras visando preservar a competitividade de instalações portuárias. “Essas informações são cruciais para apoiar a autoridade portuária a identificar e priorizar medidas de adaptação”, destacou.
No evento, foram apresentados os resultados dos impactos causados pela crise climática no Porto de Santos (SP), Rio Grande (RS) e Aratu (BA), bem como a investigação de riscos e impactos de vendavais, chuvas e aumento do nível do mar. Em Santos, o estudo avaliou que o porto tem como probabilidades de ocorrência, tanto no período atual quanto no futuro chuvas fortes e persistentes e ventos de fraco a moderado. Segundo o levantamento, as ameaças climáticas de maior probabilidade de ocorrência são as chuvas e o vento forte, que podem causar impactos sobre o acesso viário ao terminal, equipamentos de içamento, entre outros.
Localizado em Candeias da Bahia, o Porto de Aratu opera desde 1975 e é gerido pela Companhia das Docas do Estado da Bahia (Codeba) e a maior parte da movimentação de carga é de petróleo e derivados, produtos químicos e orgânicos e fertilizantes. A localização do porto faz com que os riscos não sejam muito elevados, mas com o aumento do nível do mar, essa realidade pode ser modificada. De acordo com o relatório, as ameaças de maior probabilidade de ocorrência atualmente ou no futuro são de chuvas persistentes e ventos fracos, embora não criem impactos importantes.
A Antaq salientou que ventos fracos e chuvas fracas são comuns e vão continuar a ser, porém observa-se um aumento de frequência para chuvas fortes e ventos moderados no futuro. Se essas chuvas forem ‘muito frequentes’, se tornarão um risco principalmente para a operação de produtos sólidos, que não podem ser operados em condições de maior umidade.
Apesar dos ventos fortes não serem frequentes, a maior parte das infraestruturas não são impactadas por eles e os que são, não apresentam grau de severidade. Em vento moderado, as infraestruturas podem ser afetadas mas todas com risco baixo. Em geral, as infraestruturas que apresentam maior risco são berços, transportador contínuo, infraestrutura de armazenagem e equipamentos de içamentos. Não existe infraestrutura sob o risco estrutural ou funcional no porto.
Assim como Aratu, o Porto de Rio Grande apresenta potenciais paralisações nas operações e, de acordo com a agência reguladora, elas já são observadas devido a mudanças climáticas como chuvas que interrompem o carregamento de granéis sólidos, que paralisam as operações dos contêineres. O segmento tem o maior grau de risco dentre os avaliados e em relação às severidades estruturais e operacionais. A maior preocupação envolve as infraestruturas de berço, edificação, acesso viário, equipamentos de içamentos e transportador contínuo que apresentam níveis de severidade moderado e fraco. Somente o risco operacional atingiu o nível mais alto na avaliação dos riscos do porto.
O Porto de Rio Grande é voltado à movimentação de produtos agrícolas (soja, fertilizantes), contêineres e celulose e as probabilidades de ocorrência, tanto no período atual quanto no futuro, são chuvas e vento sul-sudoeste. O relatório destacou ainda que os riscos altos têm relação com os ventos fortes que vem da direção sul-sudoeste, mas o porto também está sob risco de eventos de chuva forte.
Fonte: Revista Portos e Navios