
A Petrobras negocia com a 3R Petroleum uma parceria envolvendo a refinaria Clara Camarão, no Rio Grande do Norte, disse o presidente da estatal, Jean Paul Prates, em entrevista ao programa potiguar Fórum de Moscow, transmitido no Youtube, na última segunda-feira (11). O negócio só não evoluiu até agora porque a estatal quer incluir no acordo campos de petróleo e a 3R não está disposta a se desfazer deles, segundo fontes que acompanham de perto as conversas.
A venda do Polo Potiguar foi concluída em fevereiro de 2022 e a operação, assumida pela 3R em junho deste ano, após aprovação pela ANP. Negociado por US$ 1,38 bilhão, o ativo envolve 22 campos – três concessões marítimas e 19 terrestres -, além de uma infraestrutura de processamento, refino, logística, armazenamento, transporte e escoamento de petróleo e gás natural no Rio Grande do Norte.
O plano de formar uma parceria com a 3R está alinhado ao pedido do presidente Lula a Prates para que, se não fosse possível evitar desinvestimentos, a estatal se aproximasse dos novos donos dos ativos. A iniciativa também atende à promessa feita pelo presidente da companhia aos empregados do Rio Grande do Norte de que a Petrobras se manterá no Estado e que eles não precisariam ser transferidos para outras unidades da estatal.
Além disso, a retomada do Polo Potiguar é estratégica porque significa o retorno da Petrobras a uma fatia relevante do mercado nordestino, após a venda de ativos de refino – das refinarias Clara Camarão (RN), para a 3R, e Rlam (BA), para o fundo de investimento dos Emirados Árabes Mubadala -, de infraestrutura logística e da Transportadora Associada de Gás (TAG), responsável pela operação de uma rede de gasodutos na região, à Engie e CDPQ.
Ao assumir novamente a Clara Camarão, uma unidade importante de produção de querosene de aviação, a estatal ainda consegue evitar prejuízos com a importação de mais combustíveis. Hoje, o fator de utilização da capacidade do seu parque de refino se aproxima dos 100% e qualquer demanda a mais de derivados obriga a empresa a recorrer ao mercado externo. Ainda pesa o fato de nem todos os ativos do Polo Potiguar interessavam à 3R, de fato, e só foram comprados porque o valor era vantajoso, segundo especialista na área que preferiu não se identificar.
O problema, no entanto, é que, apenas com a Clara Camarão e sem produção de petróleo local, a Petrobras passa a depender do fornecimento de insumo de outras empresas, como da PetroReconcavo, umas das vendedoras de óleo à 3R atualmente, ou do transporte (possivelmente, via cabotagem) do óleo produzido em outros campos da própria estatal.
A 3R, por sua vez, tem interesse em vender a refinaria e sair desse segmento, como informou a investidores em teleconferência, em agosto deste ano. Mas não está disposta a se desfazer dos campos do Polo Potiguar, vendidos a ela pela Petrobras. A área de exploração e produção é o foco do seu negócio. Segundo o diretor Financeiro da companhia, a venda de ativos “pode representar alguma entrada de caixa nos próximos dois trimestres”.
Ao PetróleoHoje, a petroleira independente afirmou, por meio da sua assessoria de imprensa, que avalia constantemente oportunidades de parcerias comerciais e de monetização para a sua produção, mas que não comenta estratégias.
No mesmo sentido, o presidente da Petrobras disse ao Fórum Moscow que não é possível dizer abertamente o que está sendo negociado. “Mas as equipes estão se falando. A gente vai tentar organizar o processo para tentar não prejudicar ninguém. Para quem comprou (3R), estou aberto ao diálogo. São ativos que a gente construiu, conhece, estima muito”, afirmou.
Prates contou também que foi incluída uma cláusula de preferência no contrato de venda do Polo Potiguar que obriga a 3R a oferecer o ativo primeiro à Petrobras caso queira se desfazer dele.
“A única coisa que eu consegui foi pedir à equipe de negociação que procurasse os compradores e dissesse: dá, pelo menos, para fazer uma cláusula de direito de preferência? Se você (a 3R) não se contentar com o que comprou, se achar dificuldades, se eventualmente quiser vender, se investiu e acha que tem que sair, você primeiro oferece para nós? E eles toparam”, disse o executivo.
A avaliação de Prates é de que, com a 3R, a refinaria Clara Camarão não conseguirá vender combustíveis a preços equivalentes ou inferiores aos da Petrobras e que está fadada a vender seus produtos a valores equivalentes aos de importação. Isso porque, segundo Prates, a refinaria está isolada, ou seja, não tem como compor um portfólio de fornecedores de óleo ou fechar parcerias com outras refinarias privadas.
“Ela [a Clara Camarão] ainda tem a vantagem em relação às refinarias de Manaus [Reman] e da Bahia [antiga Rlam], porque as duas não têm nem óleo próprio. A 3R ainda tem a vantagem de ter uma parte do seu próprio óleo, as outras nem isso. Essas refinarias isoladas não têm como cooperar entre elas”, acrescentou.
Localizada no polo industrial de Guamaré (RN), a refinaria Clara Camarão foi projetada para produzir diesel, nafta petroquímica, querosene de aviação e gasolina automotiva. Sob a gestão da 3R, contudo, a unidade está produzindo apenas QAV. A gasolina e o diesel vendido pela 3R são importados, como afirmou o gerente de Novos Negócios da 3R, Kim Pedro, em reunião com parlamentares do Rio Grande do Norte para tratar dos preços dos combustíveis vendidos pela empresa.
Segundo o gerente, os preços do diesel e da gasolina vendidos pela 3R são formados pelos valores de compra, principalmente dos Estados Unidos e Europa, do frete marítimo, de custos logísticos, de estocagem e de tributos. Esse é o mesmo modelo de precificação que era usado pela Petrobras até abandonar o PPI (Preço de Paridade Internacional). Agora, a empresa se vale da sua vantagem de produzir petróleo e combustíveis em seu próprio parque de refino no Brasil.
Procurada por meio da sua assessoria de imprensa, a Petrobras não se manifestou.
Fonte: Revista Brasil Energia