Os reservatórios do campo estão localizados nos blocos S-M-974 e S-M-1038, que foram adquiridos pela empresa no 5º Ciclo da Oferta Permanente de Concessão (OPC) da ANP. A ideia é que esses recursos sejam conectados ao projeto de Neon, com o objetivo de mitigar os riscos

A Karoon Energy quer desenvolver a descoberta do campo de Piracucá com o objetivo de mitigar o risco e, consequentemente, aumentar a atratividade do projeto de Neon, informou o CEO Global da empresa, Julian Fowles, em entrevista à Brasil Energia. Os reservatórios de Piracucá estão localizados nos blocos S-M-974 e S-M-1038, da Bacia de Santos, que foram adquiridos pela Karoon no último dia 17, no 5º Ciclo da Oferta Permanente de Concessão (OPC) da ANP. Os blocos estão situados a aproximadamente 17 km do campo de Neon, também em Santos.
“A Petrobras descobriu esse reservatório anos atrás. Nós já tínhamos olhado essa oportunidade, mas entendemos que agora seria o momento de adquirir. Existem vários poços perfurados em Piracucá, mais até do que temos em Neon, e isso significa que temos um bom banco de dados para nos ajudar com a Decisão Final de Investimento (FID, na sigla em inglês) do projeto de Neon. Em resumo, o que estamos tentando fazer é mitigar o risco em Neon, e isso significa que temos que ter o maior volume [de recursos] possível nessa área”, explicou Fowles.
Marco Brummelhuis, country manager da Karoon Energy no Brasil, afirmou que desenvolver a descoberta de Piracucá é uma via de mão dupla, tendo em vista que esses reservatórios “talvez não sejam bons o suficientes para serem desenvolvidos sozinhos”. “Existem motivos pelos quais a Petrobras não prosseguiu com o desenvolvimento dessa descoberta. O meu entendimento é que existe um mix de óleo e gás que faz o reservatório ser, de alguma forma, complicado, mas acreditamos que podemos desenvolver essa área em combinação ao projeto de Neon. E isso é ótimo porque estaremos desenvolvendo recursos que, caso contrário, seriam deixados de lado”, completou Fowles.
A ideia da Karoon para o projeto de Neon é que o campo e seus reservatórios próximos – como Goiá, Neon West e, agora, Piracucá – sejam desenvolvidos a partir de um único FPSO, semelhante ao que ocorre no FPSO Cidade de Itajaí, que processa os volumes dos reservatórios de Baúna, Piracicaba e Patola, também localizados na Bacia de Santos. “Nós pensamos, no passado, em desenvolver Neon a partir de um tie-back para Baúna, mas acabou não sendo a opção preferível por conta da distância, de cerca de 75 km. Como agora conseguimos agregar mais volumes para o projeto, faz sentido ter um FPSO específico para Neon”, disse Brummelhuis.

Marco Brummelhuis, country manager da Karoon Energy no Brasil (Foto: Divulgação Karoon)
No momento, a companhia busca um FPSO com capacidade de cerca de 40 mil bpd que possa ser reaproveitado para o projeto de Neon. “E a aquisição do FPSO Cidade de Itajaí [em maio deste ano, após contrato firmado com a Altera&Ocyan] foi e será ainda mais importante porque aplicaremos o conhecimento adquirido nessa atividade no projeto de Neon. Também queremos ser proprietários do FPSO de Neon”, explicou o CEO.
A Karoon estima que Neon vai produzir cerca de 40 mil bpd a partir de 2029 – momento em que a produção em Baúna, atualmente de 25 mil bpd, poderá iniciar o seu declínio. E, com o possível desenvolvimento dos outros prospectos, como Goiá, Neon West e Piracucá, a produção da companhia australiana no Brasil poderá ser estendida para além de 2040.
Negociações para o FID de Neon
Atualmente, a Karoon está na fase de levantamento de taxas, termos contratuais e conceitos para os contratos do projeto de Neon, que incluem, por exemplo, uma sonda de perfuração, um FPSO reaproveitado, equipamentos de subsea (como dutos, flowlines, e umbilicais) e fornecimento de energia elétrica.
“Temos que entender os custos de todos esses contratos para, então, desenhar um perfil e entender o quanto precisaremos investir. Estamos ainda nos estágios iniciais de negociação; temos que endereçar várias incertezas antes de eu convencer o board a se comprometer com os custos do projeto no tempo que queremos”, esclareceu Fowles. A empresa pretende investir cerca de US$ 1,2 bilhão no FID de Neon – valor correspondente a sua capitalização de mercado.
Nos próximos meses, a Karoon pretende iniciar as discussões do projeto com potenciais parceiros. “Mesmo que ainda não tenhamos ido ao mercado, já temos uma lista de empresas que apresentaram interesse em Neon. Isso não significa que elas vão entrar efetivamente no projeto, mas é bom ver esse nível de interesse. Esperamos trazer um parceiro para o projeto antes do FID, mas talvez a decisão seja tomada justamente junto ao FID”, explicou Julian.
E é possível que esse potencial parceiro seja uma companhia brasileira. “Não as majors, obviamente, porque acredito que é um projeto muito pequeno para elas, mas temos sim interesse em empresas brasileiras, e também em outras empresas da América do Sul, assim como empresas internacionais que ainda não estão no Brasil”, comentou o CEO.
Segundo as análises da Karoon, Neon possui entre 65 a 80 milhões de barris de óleo recuperável. A companhia espera tomar a decisão final de investimento do projeto em cerca de 12 meses, em meados de 2026.
Outros blocos adquiridos no 5º Ciclo da OPC
A companhia australiana arrematou outros quatro blocos na última rodada da ANP: S-M-1484, S-M-1605, S-M-1358 e S-M-160, que estão localizados a cerca de 80 km a sudeste do campo de Baúna. No entanto, não há uma campanha de exploração programada para essas áreas no curto prazo.
“A aquisição desses quatro blocos foi uma oportunidade para ampliarmos o conhecimento geológico ao redor de uma área onde já operamos. Mas ainda estamos definindo onde perfurar, se vamos mesmo perfurar, se vamos fazer sísmicas novas… por isso arrematamos esses blocos com baixos níveis de compromisso. O que queremos, de fato, é conduzir mais estudos. Talvez, em torno de dois anos, vejamos algumas coisas que possam ser mostradas ao mercado”, disse Fowles.
O próximo passo da companhia é o projeto de Neon, por ser um desenvolvimento greenfield. “A Magda [Chambriard, CEO da Petrobras] afirmou, recentemente, que não existe futuro para uma empresa de petróleo sem exploração. E agora temos esses três pontos de foco: um campo produzindo, um campo que esperamos desenvolver, e as áreas de exploração. E tudo isso na Bacia de Santos, numa seção que não foi olhada com esse nível de detalhe anteriormente”, finalizou.

Ativos da Karoon no Brasil (Imagem: Divulgação Karoon)
Fonte: Revista Brasil Energia