
José Augustro Castro acredita em recuo de Trump sobre tarifas de 50%, mas teme que taxação sobre produtos importados do Brasil permaneça alta para alguns segmentos após negociações
O presidente executivo da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, disse nesta sexta-feira (11) acreditar que a diplomacia é o melhor canal para contornar a crise política entre os governos brasileiro e americano por causa do anúncio de tarifas de 50% dos Estados Unidos sobre os produtos brasileiros a partir de 1º de agosto.
Ele afirmou à Portos e Navios que ainda é cedo para avaliar o cenário, já que as medidas norte-americanas foram tornadas públicas na quarta-feira (9), mas espera que as negociações evoluam até 31 de julho e que consigam reverter ou reduzir os prejuízos que seriam causados ao comércio exterior brasileiro se a taxação for mantida em nível tão elevado. “Muita coisa vai acontecer nos bastidores”, previu.
Castro revelou que, apesar de o correto ser o cancelamento das sobretaxas, porque não refletem decisões técnicas, não está otimista de que as tarifas sejam mantidas no patamar atual, de 10% para a maioria dos produtos, e debitou isso à questão política e à intempestividade do presidente americano. A expectativa do presidente da AEB é de que Trump recue um pouco, mas previu que, mesmo com algum recuo, a cobrança sobre o que os Estados Unidos compra do Brasil não deve ficar abaixo de 30% para alguns segmentos. “Acredito em algo entre 30 e 40%”, disse.
Para Castro, também do lado brasileiro os políticos deveriam sair do protagonismo e deixar a negociação para os diplomatas e setores técnicos, porque, em disputas políticas, as interpretações podem piorar o cenário. “O presidente Luiz Inacio Lula da Silva não deveria ter falado nada. Esse é assunto para diplomatas”, afirmou.
O presidente executivo da AEB classificou como ‘sem nenhum respaldo técnico’ as tarifas anunciadas por Trump, que só devem adotadas contra países inimigos ou com problema graves, o que não é o caso do Brasil. Mas disse temer que as ações do governante americano causem danos colaterais ao país, com parceiros comerciais ficando temerosos de comprar produtos brasileiros e sofrer retaliações americanas, lembrando a ameaça de sobretaxar quem negociar com os membros dos BRICS.
Castro disse que o presidente dos Estados Unidos nada fez de bom desde que tomou posse e que suas ações intempestivas sem respaldo técnico e intromissões no comércio com países e blocos econômicos criam instabilidade, imprevisibilidade e prejuízos a todos, lembrando, entre outras, o esvaziando da Organização Mundial do Comércio (OMC), hoje inoperante. “Ele destroçou a OMC e se mete em qualquer país”, comentou.
Para o presidente executivo da AEB, o governante americano usa o poderia econômico dos Estados Unidos para tentar se impor e que, com medo de sofrer sanções, quase todos, inclusive blocos como a União Europeia, não reagem. Segundo Castro, o único país que tem capacidade de reagir às ações de Trump é a China, como demonstrado na recente disputa de tarifas que terminou, por enquanto, com um acordo.
Ele acredita, no entanto, que pressões internas nos Estados Unidos, principalmente de setores que dependem muito da importação de produtos brasileiros podem influenciar em recuos de Trump e citou como exemplo o café e o suco de laranja. Castro afirmou que, se as tarifas forem mantidas nesses segmentos, elas impactarão nos preços aos consumidores e gerarão protestos deles, inclusive nas redes sociais, que têm grande poder de repercussão.
Mas, mesmo se houver negociação que reduza o patamar das tarifas que serão cobradas, ele admite que exportações brasileiras perderão vendas paras os Estados, entre eles os de aviação, com a Embraer, de soja, de minério e de petróleo. E, para Castro, não será fácil destinar os produtos a outros mercados em curto período.
O presidente executivo da AEB disse temer que as instabilidades causadas pelas ações do presidente perdurem por todo o tempo de mandato que lhe resta, porque ele age por impulso e não baseado em estudos e recomendações técnicas. “É difícil mudar a cabeça do Trump”, concluiu.
Fonte: Portos e Navios