unitri

Filtrar Por:

< Voltar

Clippings - 16/07/25

Câmara de Comércio estima US$ 10 bilhões de perdas para Brasil com ‘tarifaço’

Diretor da Cisbra avalia que parte desse impacto já começou a ser sentido pelas empresas brasileiras, com cancelamento de contratos e a suspensão de embarques 

O diretor da Câmara de Comércio, Indústria e Serviços do Brasil (Cisbra), Arno Gleisner, estima que, se forem adotadas a partir de 1º de agosto, as tarifas de importação de 50% dos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, anunciadas pelo presidente americano Donald Trump, teriam impacto em torno de US$ 10 bilhões de perdas para as exportações do Brasil. O número representa aproximadamente 3% de tudo o que o país vende para o exterior.

A avaliação é que parte desse impacto já começou a ser sentido pelas empresas brasileiras, com o cancelamento de contratos e a suspensão de embarques, considerando que os navios partindo do Brasil neste momento não chegariam ao destino antes de 1º de agosto, e os importadores americanos estão inseguros por não saber se teriam que pagar a tarifa de 50%.  “A cobrança é feita no desembaraço da carga, em sua chegada aos portos dos Estados Unidos”, explicou Gleisner à Portos e Navios.

Segundo o diretor da Cisbra, o impacto atingiria diversos setores da economia brasileira, desde commodities, como produtos agrícolas, a produtos industriais de maior valor agregado, já que o Brasil é exportador de bens manufaturados para o mercado americano. Ele ressaltou que não seria possível, no curto prazo, destinar a produção para outros mercados. O resultado seria perda de vendas para os Estados Unidos com reflexos em toda a cadeia da economia brasileira, com redução da produção interna e no mercado de trabalho.

“A situação se refletiria nos empregos. Não seria um grande impacto, mas empresas teriam que demitir”, prevê. Mas, segundo ele, com negociação e equilíbrio dos dois lados será possível, apesar do prazo curto, chegar a acordos que evitem a aplicação das sobretaxas ou, pelo menos, sua redução, já que, na sua avaliação, se for mantida a cobrança em patamares tão altos, não só o Brasil, mas também dos Estados Unidos serão prejudicados.

Gleisner avalia que as taxas de 50% levariam a aumento dos preços no mercado interno, redundando em inflação, e criariam dificuldades para empresas americanas de vários setores que dependem de importação de produtos brasileiros para sua própria produção. Diante do quadro de instabilidade causado pelas medidas anunciadas por Trump, que estão sendo contestadas inclusive dentro dos Estados, o melhor caminho apontado por Arno Gleisner para chegar a um resultado que seja bom para todos é o da negociação. “Precisamos negociar. E o Brasil quer negociar”, afirmou.

Ele elogiou a postura do governo brasileiro de adiar a possibilidade de retaliar e de convocar empresários de todos os setores afetados para buscar alternativas que impeçam grandes prejuízos para a economia brasileira, inclusive chamando para a discussão importadores e outros empresários americanos que seriam afetados. “Retaliação seria prejudicial. O melhor é uma negociação”, reafirmou.

Gleisner acredita que a negociação deve evitar as questões políticas e se concentrar nas questões econômicas envolvidas, lembrando que, ao contrário do que argumentou Trump, os Estados Unidos têm superávit e não déficit no comércio bilateral com o Brasil. E esse deve ser o argumento central para reverter ou mitigar os efeitos danosos que a cobranças de taxa de importação de 50% sobre produtos brasileiros pelos americanos causaria às economias dos dois países. “Dos 20 principais países que negociam com os Estados Unidos, o Brasil é o que tem déficit comercial com os americanos”, disse.

Nesse sentido, ele considera que o governo brasileiro deveria ter se preservado de reagir logo no primeiro momento após o anúncio da cobrança da sobretaxa e deveria ter entregado logo a questão à diplomacia brasileira, que classifica como qualificada e porque os diplomatas não são movidos pela política e sabem defender os interesses do Brasil. “A resposta política nem deveria ser dada”, afirmou.

Gleisner disse considerar oportuna a inciativa brasileira de criar uma comissão interministerial e convocar empresários ligados ao comércio exterior para buscar soluções, proposta que é também da entidade que dirige. “A Cisbra distribuiu nota com a sugestão de participação nas discussões de exportadores e importadores, brasileiros e americanos”, lembrou.

Além disso, ele vê como positiva a entrega do comando das discussões em busca de soluções ao vice-presidente Geraldo Alckmin, que é também ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. Ele ressalta a ponderação de Alckmin e o respaldo do conhecimento e da experiência dos técnicos do ministério, que considera importantes para embasar as discussões com o lado americano e mostrar com estudos e dados que o comércio entre Brasil e Estados Unidos tem sido benéfico para os americanos há longo tempo.

Gleisner mostra um pouco de otimismo ao falar da sua expectativa em relação aos resultados das negociações e prevê que, se for superado o impasse e forem mantidas as tarifas em 10% para a maioria dos produtos brasileiros, o Brasil teria a ganhar e poderia ampliar suas vendas. “Temos vantagens em relação a outros países em logística e em proximidade com os Estados Unidos”, comentou.

Reação americana pode ajudar nas negociações
Um aspecto apontado como fator que pode ser positivo para que as negociações avancem é a reação dos próprios americanos. Nesta terça-feira (15), a Câmara de Comércio dos Estados Unidos, a maior entidade de empresários do mundo, com cerca de 3 milhões de associados, e a AmCham Brasil (Câmara Americana de Comércio no Brasil) se manifestaram em conjunto para pedir a suspensão das tarifas de 50% sobre produtos brasileiros a partir de 1º de agosto. Em comunicado, as duas associações empresariais destacam a boa relação comercial com o Brasil e que as sobretaxas têm caráter político e que, se mantidas, causariam prejuízos a vários setores americanos. “A imposição de tais medidas em resposta a tensões políticas mais amplas corre o risco de infligir danos reais a uma das relações econômicas mais importantes dos Estados Unidos e estabelece um precedente preocupante”, diz o documento.

Segundo a nota dos empresários americanos, mais de 6.500 pequenas empresas dos Estados Unidos dependem de produtos importados do Brasil para suas linhas de produção. Além disso, ressaltam que passam de 3.900 as empresas americanas com investimentos no mercado brasileiro, sejam diretos ou indiretos, e a importância do país para o comércio exterior estadunidense. “O Brasil é um dos 10 principais mercados para as exportações dos Estados Unidos e destino de quase US$ 60 bilhões em bens e serviços todos os anos”, afirmam.

Para Arno Gleisner, a reação dos empresários americanos será fator importante de pressão sobre o presidente Donald Trump rever a aplicação de tarifas de 50%. Além disso, ele cita que a manutenção das tarifas em 50% teria reflexo direto no aumento no mercado interno dos preços de produtos que dependem de insumos importados do Brasil.

E os reflexos das tarifas já começam a ser sentidos pelos consumidores americanos. Também nesta terça-feira (15), o Departamento do Trabalho dos Estados Unidos divulgou que a inflação de junho no país avançou 0,3%, a maior alta registrada desde janeiro. Em 12 meses, a taxa chega a 2,7%. Até maio, o acumulado no período de um ano estava em 2,4%. E os economistas debitam a alta da inflação ao aumento das tarifas impostas por Trump a vários países. “Aumento de tarifas de importação geram inflação”, assegurou Gleisner.

Fonte: Portos e Navios