
Presidente do Conselho de Administração da Associação enxerga vizinhos da América Latina e países da costa Atlântica da África como destinos potenciais para produção nacional
O Brasil precisa ampliar suas parcerias no comércio internacional para evitar que medidas de caráter político e sem fundamentação técnica, como a imposição unilateral de tarifas de importação de 50% sobre produtos brasileiros anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sejam gravosas para o comércio exterior do país. A receita é de Arthur Pimentel, presidente do Conselho de Administração da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), que cita os vizinhos da América Latina e os países da Costa Atlântica da África como destinos potenciais para a produção nacional.
Apesar de estar esperançoso de que o governo norte-americano amplie a lista de mercadorias excluídas da sobretaxa de 40% sobre a taxa de importação anterior, de 10%, que era cobrada sobre a maioria dos bens oriundos do Brasil que chegam aos Estados Unidos, Pimentel alerta que o caso deve servir de lição para empresários e governo. “É uma lição, um aprendizado, para o Brasil ficar mais ligado no que acontece nesses momentos e à geopolítica”, disse à Portos e Navios.
Para Pimentel, um dos resultados desse aprendizado deve ser entender a necessidade de diversificar ao máximo as parcerias comerciais e os destinos de produtos brasileiros. Ele cita que a pouca interação com os africanos do outro lado do Atlântico e os sul-americanos deve ser uma meta a ser superada, principalmente para a exportação de manufaturados, que são produtos de maior valor e que geram mais receita. “Os sul-americanos são nossos vizinhos e a costa Atlântica da África está diante do Brasil, condições que são favoráveis logísticas para a integração”, apontou.
No caso dos sul-americanos, ele defende a necessidade de acelerar os projetos de ligação do Brasil, por hidrovias e ferrovias, a portos do Oceano Pacífico, como o de Iquique, no Chile. Ele considera um caminho para reduzir custos de transporte e facilitar a entrega de mercadorias em países como Peru, Equador e Colômbia e aos da América Central, além da vizinha Bolívia, nesse caso por rios e por trens.
Além da proximidade e da facilidade de transporte de mercadoria nesses casos, se os projetos de integração forem concluídos, ele considera as necessidades de importação de bens dos países das Américas e da África como atrativos a mais para serem parceiros e compradores dos produtos produzidos no Brasil. Além disso, citou as similaridades culturais e de gostos como fatores a seres considerados.
Pimentel ponderou que, para conseguir atingir com mais benefícios esses mercados, sem menosprezar a importância da exportação de commodities, é preciso investir na ampliação da capacidade e da qualidade da indústria brasileira. Por isso, ele acha fundamental investir pesado num programa de reindustrialização do Brasil, com participação ativa de bancos de fomento, como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). “Precisamos discutir a reindustrialização. Buscar a produção de manufaturados. Mas a gente só consegue se tiver crédito”, afirmou.
Nesse sentido, ele vê com bons olhos acenos que partem da administração do BNDES em direção aos empresários. Segundo ele, o principal banco de fomento brasileiro tem procurado representantes do setor produtivo e ligados ao comércio exterior em busca de projetos que possam incentivar a industrialização, a ampliação das vendas externas do Brasil e a conquista de parcerias que tragam mais alternativas ao comércio exterior do país.
O conselheiro da AEB diz que esse é melhor caminho para mitigar imprevisibilidades como a criada pela administração do presidente Donald Trump. Ele acredita que faltou uma boa estratégia do lado brasileiro porque, desde o começo da administração do presidente americano, havia sinais de que ele tomaria medidas contra o Brasil e contra outros países. “Do lado brasileiro, não houve uma estratégica crítica, para prever o que estava vindo”, avaliou.
Segundo Pimentel, todo o primeiro semestre de 2025 foi marcado por incertezas para os exportadores brasileiros, até a consumação do anúncio das tarifas de 50% sobre os produtos brasileiros. A situação atual é considerada mais grave porque as medidas do governo americano não se baseiam em questões técnicas ou econômicas. “Quando começaram essas informações, elas tinham como pano de fundo a China e o BRICS. Agora, está mirando no Brasil”, disse.
Ele acredita que faltou do governo brasileiro se antecipar e buscar um p’lano B’, já que o aumento de tarifas estava no horizonte. Para Pimentel, o Brasil deveria ter buscado logo negociar, mas levou tempo para começar. “Quando procuraram a negociação, o outro lado não quis. E agora não quer conversar”, comentou.
O presidente do conselho administrativo da AEB elogia, no entanto, os setores empresariais brasileiros que se esforçaram para mostrar, inclusive aos importadores americanos, que o aumento de tarifas indiscriminadamente traria prejuízos também à economia e aos consumidores dos Estados Unidos. Pimentel entende que foi esse esforço que levou à exclusão de centenas de produtos da lista dos sobre os quais serão cobradas as taxas de importação de 50%
Como as negociações continuam e há outros setores essenciais para os americanos ainda punidos com as taxas de 50%, Pimentel acredita que a lista dos excluídos das cobranças que inviabilizam as vendas de produtos brasileiros de vários segmentos seja ampliada. “Acho que não vai parar por aí. Espero que as negociações levem a novas exclusões”.
Pimentel acrescentou que a AEB ainda não tem um balanço do volume de cargas que deixaram de ser enviadas do Brasil para os Estados Unidos desde que, em 9 de julho, Trump anunciou que elevaria as tarifas sobre as exportações brasileiras. Ele disse que a associação tem informações de que contratos foram cancelados ou suspensos à espera da definição do governo americano e espera que sejam retomados, apesar das incertezas e da insegurança não terem sido superadas.
Fonte: Portos e Navios