Para pesquisador da FGV Energia, comércio com Brasil se insere na estratégia do governo Trump de fortalecer o trade de petróleo e derivados na Margem Atlântica em alternativa à dependência do fornecimento do Oriente Médio

A decisão do governo Trump de incluir o petróleo e derivados na lista de exceções da tarifa de 50% que vai aplicar às exportações brasileiras a partir da quarta-feira (6/8), faz parte do interesse geopolítico do país de ampliar a rota da Margem Atlântica para abastecimento do país e reduzir a dependência excessiva de fornecimento dos países do Oriente Médio, região de elevada conflagração política.
A análise é do pesquisador da FGV Energia, João Marques, para quem os EUA têm interesse estratégico em fortalecer o trade de petróleo e derivados com países da Margem Norte da América do Sul, como Venezuela, Guiana e Brasil, em alternativa ao comércio com países como a Arábia Saudita, Iraque e Emirados Árabes Unidos.
Na avaliação do pesquisador da FGV Energia, as barreiras de comércio com outros países do Oriente Médio ampliam a relevância do Brasil para os Estados Unidos importarem o petróleo brasileiro, que pode fornecer um petróleo de boa qualidade para as refinarias norte-americanas, com menor teor de enxofre e menos emissão de CO₂.
Segundo Marques, as duas grandes petroleiras norte-americanas que estão investindo na produção de petróleo na Guiana, no prolífico bloco offshore Stabroek, com reservas estimadas de 11 bilhões de barris – ExxonMobil, há dez anos, e agora a Chevron, após a compra da Hess – são as mesmas que acabaram de adquirir blocos leiloados pela ANP na Margem Equatorial brasileira, em parcerias individuais com Petrobras e a chinesa CNPC, respectivamente.
O pesquisador afirma que outra demonstração do interesse estratégico do governo Trump com a região foi a recente decisão do governo Trump liberar as licenças da Chevron para venda de derivados da Venezuela para os EUA.
Segundo Marques, o interesse nos EUA no trade de combustíveis do Brasil é comprovado pelos números crescentes do comércio de petróleo e derivados entre os dois países. Ele destaca que no ano passado o Brasil alcançou um recorde de vendas de petróleo para os EUA, atingindo a média diária de 200 mil barris diários (bpd).
Marques também lembra que o relatório de produção e venda da Petrobras divulgado semana passada mostrou que a participação dos EUA nas exportações de óleo da empresa passou de 4% para 8% no segundo trimestre deste ano.
Fonte: Brasil Energia