O Brasil corre o risco de ter de dividir com a África, mais especificamente com a costa oeste daquele continente, os recursos que os grandes investidores do setor de petróleo e gás possuem se a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) não acelerar o processo para as próximas rodadas de licitação no Brasil.
Esta é apenas uma das controversas afirmações do presidente – e fundador – da HRT, a mais nova empresa bilionária da indústria do petróleo e gás no País, Márcio Rocha Mello.
Segundo o executivo, que trabalhou na Petrobras por mais de 20 anos, aquela região do continente africano pode guardar uma reserva equivalente à do pré-sal brasileiro. Ele não estima o volume de petróleo e gás que deve existir por lá, diferentemente do que acontece por aqui, como já fez o próprio diretor da ANP, Haroldo Lima, que diversas vezes indicou a presença de cerca de 100 bilhões de barris do produto na megarreserva brasileira. Mello, porém, afirma categoricamente que a análise das moléculas que sua empresa realizou nos campos que possui na Namíbia indica que a origem do recurso natural é a mesma, e que por isso os volumes podem se comparar tanto acima quanto abaixo da camada de sal.
Para provar essa sua teoria, Mello, que faz questão de destacar ter sido o primeiro a afirmar que existe o pré-sal (ou sub-sal, como prefere nomeá-lo), afirmou que está em vias de anunciar um grande contrato para realizar o trabalho de sísmica em 3D que deverá ser iniciado em fevereiro de 2011, o maior já realizado para identificar os potenciais campos na costa africana. A HRT possui cinco blocos offshore na Namíbia, em uma área de 27 mil quilômetros quadrados.
Estamos quebrando paradigmas, há 30 anos a sísmica era feita com raio-x, e essa tecnologia não conseguia chegar aos lugares mais profundos, região que hoje conhecemos como pré-sal, disse Mello. O método antigo era como um profeta, ou curandeiro, que queria adivinhar o sexo dos bebês que iriam nascer, e errava, comparou o executivo.
O paradigma a que se refere é o volume de petróleo que a Namíbia poderia oferecer. Pesquisas realizadas pela Shell no passado chegaram a encontrar grandes volumes de gás, fato que levou o mercado a crer que essa região era rica desse recurso, que àquela época estava subvalorizado no mercado internacional.
Mapeamento
O plano de exploração da empresa na Namíbia se dará após esse processo de mapeamento por meio da sísmica citada por Mello. Além disso, em outra área que detém o direito de explorar, na Bacia do Solimões, a empresa tem como meta abrir 130 poços em 10 anos e a primeira sonda, segundo o executivo, já está a caminho do campo. Os últimos testes do equipamento foram feitos na segunda quinzena de dezembro, e depois dessa fase começou a ser deslocado ao local onde será instalado, próximo à recente descoberta da Petrobras, local em que o próprio Mello já trabalhou pela estatal, em 1979.
Se na Namíbia Mello afirma que a HRT já possui 1 bilhão de barris certificados, no Brasil, a perspectiva de reservas na Bacia do Solimões também promete surpreender. Essa é uma região que se acreditava ser rica apenas em gás natural. Mello disse que o fato de ter gás naquela região é um indicador de que se houvesse perfurações mais profundas, o potencial do Solimões poderia ser de óleo leve. Foram perfurados 155 pontos em uma área do tamanho da França e sabe quem foi que afirmou essa asneira de que lá era um campo para gás? Pode publicar, foi o Márcio Rocha Mello!, disse ele.
O executivo atribuiu essa avaliação equivocada novamente à sísmica de três décadas passadas que não considerou áreas mais profundas. Quando se abriu a tampa daquele reservatório [a exploração de gás], o petróleo apareceu, estava a três mil metros o maior campo de óleo puro, o melhor do Brasil, afirmou ele. A Amazônia é gás e óleo, é só saber onde perfurar, afirmou ele, que também projeta criar uma nova subsidiária com a meta de monetizar o gás para a produção de fertilizantes, ureia, etanol e colocar esse recurso para gerar energia elétrica naquela região em substituição às geradoras térmicas a óleo. Além disso, Mello quer vender essa energia ao sudeste, porque vê próximo o final dos potenciais hidroelétricos brasileiros.
A HRT realizará seu teste de longa duração na região do Solimões, o que deverá durar um ano, para depois instalar o sistema definitivo. Temos nas mãos as duas maiores fronteiras do Hemisfério Sul. Pra tomar conta e tornar isso um grande ativo de sucesso preciso de uma quantidade enorme de dinheiro e focalizar nosso potencial nesses dois [Namíbia e Solimões], e, depois de se tornarem realidade, partir para outros projetos no mundo.
Equipamentos
Todo esse planejamento da HRT teve outro fator que contribuiu para o adiantamento das operações de exploração e produção. Mello destacou que o acidente da BP no Golfo do México em abril do ano passado reduziu o preço do afretamento de sondas no mundo, independentemente da demanda da Petrobras, empresa que afirma que o pré-sal brasileiro tem levado a indústria mundial de máquinas e equipamentos para o setor ao limite de produção.
Segundo Mello, esse fator foi causado pela paralisação das atividades naquela região. Com isso, foi possível encontrar disponibilidade de equipamentos no mercado internacional. A queda dos preços chegou a 50% em um ano. Com aquele desastre do México, existem muitas sondas disponíveis e o preço caiu demais. Um navio de sísmica deu uma cotação para a HRT de US$ 9 milhões por milhar de quilômetros quadrados, em 2009. Em 2010 eu o contratei pelo mesmo valor, mas para o dobro de área , revelou ele. Eu estou escolhendo [sondas] porque tem muitas no mercado. É a mesma coisa que um tomate na feira: se há pouco produto, o preço sobe; se há muita disponibilidade, o preço cai, comparou Mello.
A HRT é uma empresa originada da consultoria Ipex, fundada em 2004 no Rio de Janeiro por Mello. Iniciou atividades em julho de 2009, com a aquisição de blocos no Solimões, e realizou seu IPO em 2010 quando captou cerca de R$ 2,5 bilhões.
O Brasil corre o risco de ter de dividir com a costa oeste da África recursos vindos de grandes investidores do setor de petróleo e gás se a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) não acelerar o processo para as próximas rodadas de licitação no Brasil. A afirmação é de Márcio Rocha Mello, presidente – e fundador – da HRT, a mais nova empresa bilionária da indústria do petróleo e gás do Brasil.
Ontem, ao reassumir o Ministério de Minas e Energia, Edison Lobão disse que o primeiro leilão para a disputa de áreas do pré-sal deverá ocorrer ainda este ano, mas apenas na segunda metade.
Segundo Márcio Rocha Mello, que já trabalhou na Petrobras, os acordos comerciais na África para exploração de petróleo são feitos com o governo e são menos burocráticos.
O continente africano pode guardar uma reserva equivalente à do pré-sal brasileiro, que deve conter cerca de 100 bilhões de barris de petróleo, segundo a ANP, diz o executivo. Mello afirma categoricamente que a análise das moléculas que sua empresa realizou nos campos que tem na Namíbia indica que a origem do recurso natural é a mesma da brasileira e que por isso os volumes de hidrocarbonetos podem se comparar tanto acima quanto abaixo da camada de sal.