Não foi apenas a carga abandonada em Pecém que tirou o sono dos produtores de frutas do Vale do São Francisco. Desde ontem, os produtores da região, um dos principais polos de fruticultura do País, passaram a ter um aumento de custo calculado em R$ 3,5 milhões. A região exporta por volta de 5 mil contêineres por ano. O motivo da despesa adicional é uma nova tarifa imposta pelos armadores, chamada de Peak Season Surcharge, ou tarifa de pico de safra.
A taxa será cobrada sobre os contêineres refrigerados, para todos os destinos no exterior, que passam pelo Nordeste. O valor, fixado por cada armador, varia de US$ 500 a US$ 900. Na média, o frete vai encarecer 35%, segundo Frederico Cabral da Costa, da Nova Fronteira. Os contratos viraram papel de rascunho aqui na empresa, lamenta o empresário. Até agora, o frete para a Europa, por contêiner, variava de US$ 1,8 mil a US$ 2 mil.
Como a nova taxa não estava prevista em contrato, segundo os produtores, cada empresa negociou uma cláusula adicional com os clientes. O mercado de armadores é muito concentrado e não há alternativa. Ou concorda ou concorda, diz um exportador.
Segundo Costa, a Maersk fixou taxa adicional de US$ 900 e a CMA CGM passa a cobrar US$ 500. A empresa, de origem francesa, no entanto, nega a cobrança. De cara, a Hamburg Süd queria dos exportadores US$ 1 mil por contêiner, mas houve acerto e o valor ficou em US$ 700.
De acordo com José Roberto Salgado, da Hamburg Süd, a taxa, na verdade, serve para cobrir o aumento de custos com combustíveis. Explica: Essa taxa sazonal de demanda foi estabelecida pela elevação de custo repentina, principalmente de combustível. Segundo o executivo, nas últimas seis semanas o bunker (óleo combustível para navios) variou até 60%.
Mario Lima Júnior, diretor comercial do Ceará Porto, estatal que administra os portos do Estado, diz que a companhia optou por não aumentar as taxas cobradas dos produtores por entender que a fruticultura sofreu com a crise externa. Essa taxa de pico de safra é mais um problema na vida do produtor, que coça a cabeça, sem saber o que fazer, enquanto a fruta espera no pé, afirma.