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Na Mídia - 26/05/21

Azul conversa sobre compra da Latam Brasil com arrendadores dentro da recuperação judicial, dizem fontes

A aérea brasileira Azul está mantendo conversas com arrendadores de aeronaves para tentar avançar com seu plano de comprar as operações da Latam Brasil, afirmaram fontes ao Valor.

Nos bastidores, as informações são que a equipe de John Rodgerson está focando mais em convencer credores da importância do acordo, já que qualquer tipo de tratativa com o grupo no Chile não tem surtido efeito. A Latam deve apresentar até julho o seu plano de recuperação judicial aos credores e há espaço para que mais de um plano seja avaliado, conforme disse o próprio presidente da Latam, Jerome Cadier, disse ao Valor mais cedo nesta terça-feira.

Ontem, a Latam anunciou o fim da parceira de “codeshare” (compartilhamento de voos) que tinha com a Azul. Segundo a Latam Brasil, a desistência veio com o desempenho abaixo do esperado para o acordo. Fontes destacaram que a Azul desde o início das conversas sinalizou a intenção de avançar com alguma consolidação, mas que a empresa resistiu. O próprio fim do codeshare teria sido uma surpresa para a Azul e um movimento negando tal consolidação.

Ana Carolina Monteiro, responsável pela área de reestruturação e insolvência do Kincaid Mendes Vianna Advogados e que responde por alguns credores da Latam no Brasil, explicou que o cenário de recuperação judicial nos Estados Unidos torna o processo nebuloso, mas que a movimentação da Azul para tentar comprar a operação tem espaço para ocorrer.

Monteiro ponderou que para ter sucesso a Azul teria de encontrar um consenso com os grupos que ajudaram a compor o DIP (“debtor in possession”) da Latam, que tem preferência no recebimento de pagamentos por parte da empresa em recuperação judicial.

“Há personagens muito importantes no processo e com poder para desbancar o negócio”, explicou.
O grupo conseguiu o DIP de cerca de US$ 2,3 bilhões, aprovado pelo Tribunal do Distrito Sul de Nova York. A Tranche A, no valor de até US$ 1,3 bilhão, liderada pela Oaktree Capital Management conta também com a Knighthead Capital. A Tranche C considera um montante de até US$ 1,15 bilhão que engloba grupos como a Qatar Airways e os grupos Cueto e Eblen e a Knighthead Capital.

Monteiro disse que um eventual negócio aprovado dentro do capítulo 11 da lei americana — equivalente à recuperação judicial — ainda esbarraria em outros desafios, como o reconhecimento do processo no Brasil para a validação por parte da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

A nova legislação de recuperação judicial brasileira, que vigora desde o início do ano, permite o reconhecimento. A Latam, entretanto, optou por não fazê-lo. “Para que a Anac e o Cade, que não são personagens do chapter 11, validem o negócio seria necessário o reconhecimento do procedimento estrangeiro por aqui”.

No Chile, que também teria de chancelar o negócio, a aprovação seria mais simples, uma vez que o procedimento foi reconhecido naquele país, o que abriu inclusive margem para que os credores chilenos negociem suas dívidas sem precisar ir aos Estados Unidos.

Mais cedo, em entrevista ao Valor, o presidente da Latam Brasil, Jerome Cadier, foi questionado se haveria espaço para que o tema da venda da operação no Brasil entrasse dentro dos debates da recuperação judicial nos Estados Unidos. “Poderia ser”, disse, destacando que até julho o grupo apresentará o plano de recuperação aos credores. “Esse plano é discutido. Pode haver mais de um plano. Não existe nada contra isso. Pelo contrário, os planos podem competir um com o outro”, disse.

O executivo, entretanto, ponderou ser difícil imaginar um tema complexo como este correndo dentro da recuperação judicial. “Como desmembrar uma operação do tamanho da do Brasil e conseguir todas as aprovações regulatórias dentro do espaço do chapter 11?”, questionou, apontando escrutínios de autoridades no Brasil, Chile e Estados Unidos. “Nada impede que se explore outros planos, mas o plano da Latam não é esse”, disse o executivo.

O presidente da Latam foi enfático ao afirmar que o grupo não pretende vender suas operações no Brasil. “Não tem, não teve e não existe nenhum interesse na separação, venda ou negociação da Latam Brasil. A Latam Brasil não está à venda”, disse.

A Azul foi procurada para comentar as possíveis abordagens com arrendadores, mas não se
manifestou até o fechamento desta reportagem. Em comunicado ontem, entretanto, a
empresa destacou que contratou consultores e está estudando ativamente oportunidades de
consolidação na indústria.

Fonte: Jornal Valor Econômico