As vendas da commodity no mercado internacional chegaram a 1,9 milhão de barris por dia, de janeiro a maio deste ano, o maior volume da série histórica da ANP. Alta do dólar, falta de capacidade de refino e crescimento da demanda externa explicam as vendas.

O Brasil atingiu, neste ano, marca recorde de exportação de petróleo, considerando a série histórica da ANP, iniciada em 2000. Foram vendidos no mercado externo 297,8 milhões de barris, de janeiro a maio, o equivalente a 1,9 milhão de barris por dia (bpd). No mesmo período do ano passado, o comércio diário foi de 1,5 milhão de barris. A alta do acumulado dos primeiros cinco meses de 2024 é de 32,5%.
Cerca de um terço desse volume total é exportado pela Petrobras e os demais dois terços são vendidos por petrolíferas estrangeiras, segundo o diretor técnico do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), Mahatma Ramos.
A Petrobras sozinha exportou cerca de 650 mil bpd no primeiro trimestre deste ano, e 46% desse volume teve como destino a China. Apenas 7% foram para os Estados Unidos.
“O crescimento das exportações é uma tendência de longo prazo, que se acelerou agora, entre outros fatores, por conta da desvalorização do real frente ao dólar. A indústria de petróleo, que tem custos muito dolarizados, é influenciada pela pressão do dólar”, avalia Ramos, acrescentando que as petrolíferas estão olhando principalmente para o mercado chinês, que tem ampliado a demanda.
Ele destaca que a curva de crescimento das exportações do petróleo brasileiro se intensificou a partir de 2015, se manteve ascendente até 2020, mas caiu em 2021 e 2022 e, já em seguida, em 2023, voltou a crescer.
Para Rafael Costa, professor da Escola de Sociologia e Política de São Paulo e pesquisador visitante do Centro de Estudos de Energia e Petróleo da UFBA, uma mistura de fatores estruturais e conjunturais explicam esse movimento.
“De um lado, o Brasil tem ostentado uma produção de petróleo crescente, especialmente por conta do pré-sal. Há ainda um limite de capacidade de processamento do refino brasileiro, que se soma a um barril na casa dos US$ 80”, acredita o especialista.
Do ponto de vista conjuntural, ele ressalta que, nos últimos meses, os estoques de petróleo nos Estados Unidos seguiram abaixo dos níveis médios dos últimos cinco anos, o que também contribuiu para balançar o mercado internacional.
Com a alta dos volumes de óleo exportados, cresceu a receita com a venda do insumo, que também atingiu patamar recorde na série histórica da ANP. A receita de janeiro a maio deste ano é de US$ 20,7 bilhões, 31,2% mais do que em igual período de 2023. Na média de 2024, o petróleo exportado está saindo a cerca de US$ 70, o mesmo preço dos primeiros cinco meses de 2020, mas abaixo de 2021 e 2022, segundo o coordenador técnico do Ineep.
Ramos ressalta que as refinarias da Petrobras operam com nível de utilização da capacidade de 90%, o que demonstra que, para vender mais petróleo internamente, seria necessário expandir a capacidade de refino.
“Já a Acelen (ex-Rlam) e a Ream (ex-Reman) operam com ociosidade produtiva. Se as duas refinarias não tivessem sido privatizadas, o Brasil conseguiria processar maior volume de petróleo em seu parque de refino, mas, mesmo assim, ainda seria insuficiente”, disse.
Fonte: Revista Portos e Navios