Apontado entre os países que menos sofreram com a crise financeira mundial, o Brasil se tornou uma espécie de terra das missões, alvo do interesse do capital estrangeiro que busca oportunidades de investir no setor produtivo. Pesquisa da Organização Mundial do Comércio mostra que o país ocupa o quarto lugar na preferência dos investidores internacionais, depois dos Estados Unidos, China e Índia, e à frente de potências como Japão, Alemanha e Reino Unido, assim como de toda a Europa Ocidental, Leste europeu, África e Oceania. No intervalo entre 2009 e 2011, entre os mais de 190 países, o Brasil está no topo da lista dos destinos mais atrativos.
Além do reconhecimento de agências internacionais, que consolidam o mercado interno como um lugar seguro para investimentos, eventos como a exploração do pré-sal, a Copa do Mundo e a construção do trem de alta velocidade entre Rio e São Paulo aguçam interesses. “São centenas de empresários, principalmente da China, Estados Unidos, Japão e Europa, visitando o país e já dispostos a atuar em uma oportunidade específica”, diz Márcia Nejaim, gerente-geral de investimentos da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil).
Os projetos de infraestrutura do Brasil, incluindo as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), devem movimentar de R$ 60 bilhões a R$ 80 bilhões. “Somente a construção de estádios para o Mundial de 2014 somam R$ 5 bilhões. Isso sem citar obras de grandes setores como o de telecomunicações”, aponta Márcia.
A Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) deve fechar o ano com a visita de mais de 20 missões entre empresários e delegações governamentais, de diversos países, dispostos a investir em Minas Gerais em setores que variam da mineração, logística, infraestrutura e meio ambiente ao agronegócio. Sexta-feira, empresários de Miami, cidade americana que tem o Brasil como principal parceiro comercial, participaram de uma missão de negócios no estado.
O objetivo da missão da empresa WSI (Serviços de Limpeza da Flórida) foi buscar oportunidades para investir no mercado brasileiro de limpeza urbana, começando por Minas Gerais e São Paulo. Segundo a gerente da empresa, Adriana Pineda, foi identificado no país um grande potencial para coleta seletiva. Ela explica que a WSI atua nos Estados Unidos e Canadá em parceira com o poder público. “Colocamos os contêineres específicos para plástico, vidro e lixo comum. Levamos o material orgânico para o aterro sanitário e montamos uma planta para triagem do produto reciclado. Vendemos o material principalmente para a China.” Empolgada com o potencial do mercado brasileiro, ela não estima investimentos, mas diz que nos Estados Unidos o serviço de coleta seletiva realizado quatro vezes por semana custa em média US$ 25 por domicílio. “Não recebemos dos condomínios, mas do poder público, nosso contratante.”
Italianos
Em novembro, chega ao Brasil uma missão composta por 150 empresas italianas interessadas em fechar negócios em todo o país, em cinco áreas: infraestrutura e construção, energia e meio ambiente, bens de consumo, agroindústria, mecânica e equipamentos e investimentos financeiros. “É a maior missão econômica realizada este ano. Participam o governo italiano, indústrias e ainda os bancos”, diz o analista de negócios do Instituto Italiano para o Comércio Exterior, Rogério Padovani. Segundo ele, serão realizados 200 encontros de negócios.
“A economia brasileira foi pouco afetada pela crise e se recupera mais rapidamente. As empresas italianas querem participar desse processo”, avalia Padovani. “O pré-sal é mais uma grande oportunidade assim como as obras do Mundial de Futebol. Grandes empresas de tecnologia mecânica e infraestrutura participam dessa missão e trazem propostas para investir no Brasil.”
Interesse maior
Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic) mostram que o interesse pelo Brasil cresceu em todo o mundo. Entre 2003 e 2009, a participação dos destinos considerados não tradicionais na pauta de exportações do país cresceu 15,8%.
Em 2010, a estimativa é de que os investimentos estrangeiros no país somem US$ 40 bilhões, um salto de 60% em relação a este ano. “É possível que as reservas do Brasil, próximas a US$ 225 bilhões, cresçam ainda mais, como resultado dessa entrada de dólares no país”, comenta o professor de economia e analista de mercado Paulo Vieira.
O aumento de renda das famílias e o avanço da classe média, que representa 52,3% da população brasileira, são apontados por Márcia Nejaim também como combustível para a boa imagem do Brasil no exterior. A advogada do escritório americano Nero Imigration Law, especializado em imigração, Deirdre Nero participou da missão promovida pela Fiemg em Minas e diz que nos últimos anos o que se tem observado é o crescimento do interesse bilateral. “Especialistas brasileiros querem trabalhar na Flórida. Ao mesmo tempo, quanto mais o Brasil se torna conhecido, mais cresce o interesse dos americanos pelos investimentos no país, que, além de uma boa economia, tem bom clima e hospitalidade”, compara.