unitri

Filtrar Por:

< Voltar

Clippings - 14/05/12

Brasil deve intensificar sua relação com a China

O Brasil está entre os maiores exportadores de soja para a China e negocia a ampliação do comércio de outros produtos com o país asiático. Quem vê apenas por esse lado, acha que o Brasil está fazendo o dever de casa, tirando o melhor dessa relação e que a tendência, mesmo que acomodada, será a de vender sempre mais aos chineses.

Mas na verdade, o Brasil ainda vê a China como um urso hibernando que, de tempos em tempos, acorda com fome. O país continua olhando a China como um concorrente, quando deveria vê-la como uma parceira. Em meio a um caldeirão de novas perspectivas, as equipes brasileiras, que deveriam se encontrar com os chineses a cada três meses, continuam se vendo a cada dois anos.

Os ministérios e suas subcomissões precisam fazer com que os mecanismos já existentes funcionem de fato. Os encontros precisam acontecer trimestralmente e devem aproximar mais o setor privado no desenvolvimento dessa estratégia, afirma Rodrigo Tavares Maciel, chefe do Departamento da Ásia da LLX – empresa do Grupo EBX – durante a palestra China, inimigo ou parceiro?, que fez no seminário Agronegócios de Futuro, em São Paulo.

Segundo Tavares Maciel, que já foi do Conselho Empresarial Brasil-China, os encontros conjuntos precisam ser frequentes e os brasileiros devem ser mais ativos, promovendo feiras e exposições dos nossos produtos na China. Não adianta ir lá uma vez e não voltar mais. Quando o presidente vai, vai uma grande delegação, mas depois fica um vazio de dois a três anos sem que brasileiros e chineses conversem, acrescenta.

Nessa estratégia de aproximação, Tavares Maciel sugere que a Embaixada Brasileira seja reforçada, mas que haja também um suporte do setor privado, dos ministérios e das subcomissões para que a imagem do Brasil se fortaleça na China. O executivo refere-se à subcomissão de Quarentena, Inspeção e Vigilância Brasil/China, no âmbito da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concentração e Cooperação (Cosban). O Brasil ainda é um país desconhecido dos chineses, continuamos sendo comprados pelos chineses, quando deveríamos vender, reforça.

O executivo lembra que, em 2008, quando estava no Conselho Empresarial Brasil-China, foram identificados 560 produtos que poderiam ser exportados para aquele país, gerando US$ 200 bilhões em divisas. Mas fizemos pouca coisa, afirma.

No seu entender, o Brasil conserva ideias erradas sobre a China, olhando mais o cenário de desaceleração, que fato ocorre, do que os números que colocam o país asiático como superpotência e mercado quase inesgotável. A abertura do mercado de carnes de porco, frango e bovinos na China foi um processo extremamente lento e muitas vezes em razão da nossa deficiência na negociação, reforça.

Apesar de um processo de desaceleração, a China cresce 8% ao ano e em 2012 o Produto Interno Bruto (PIB) chinês poderá repetir os 8%, o que é fenomenal para um país com US$ 7 trilhões de PIB, diz. Ele afirma que a China tem ajudado o Brasil a superar a crise internacional e é um aliado para manter a estabilidade durante a crise, superada em grande parte em razão das trocas comerciais. Segundo o executivo, o comércio com a China, que era praticamente de US$ 2 bilhões há uma década, atingiu US$ 70 bilhões no final de 2011.

A China é hoje o primeiro parceiro comercial do Brasil, ultrapassando a Argentina e o os Estados Unidos. O agronegócio brasileiro foi muito beneficiado e a soja está entre os três maiores produtos que exportamos para a China, ao lado do minério de ferro e do petróleo, afirma.

Tavares Maciel lembra que é preciso que novos mercados sejam formados na China porque tudo o que o país compra provoca um impacto gigantesco na economia brasileira. Em 2005, o Brasil não exportava açúcar para os chineses e em 2011 embarcamos US$ 1 bilhão. As nossas carnes, que finalmente conseguimos fazer entrar no mercado chinês, já somaram quase US$ 500 milhões no ano passado, afirma o executivo.

Esse movimento continuará, segundo ele. A China já representa 8,93% do consumo mundial. Até 2020, o esperado é que ela seja o terceiro maior consumidor do mundo, diz.

Paralelamente, o executivo lembra o processo de urbanização que acontece naquele país. Em 2011, as populações urbana e rural se equipararam pela primeira vez na história, o que vem gerando mais empregos, ampliando a renda e, automaticamente, aumentando e melhorando o consumo, diz.

O número de novas cidades que serão construídas nos próximos 10 a 20 anos deixa muito claro o potencial. O mercado consumidor continua com um ritmo de crescimento significativo, devendo em 2012 repetir a mesma taxa de crescimento do ano passado, afirma o executivo. Na sua definição, para o Brasil, principalmente para o agronegócio brasileiro, a China é um parceiro estratégico, não é um inimigo.

É claro que tem competição, mas a China também é um grande exportador do agronegócio, diz Maciel. Ele acredita que o país asiático terá que melhorar a produtividade de sua produção, e obviamente isso vai acontecer. Mas isso não tira o espaço do produto brasileiro no mercado chinês. Ao contrário, o Brasil tem um mercado enorme, mas precisa ter estratégia, ter apoio do governo e ações mais eficazes para conquistar os chineses, afirma. E acrescenta: É preciso que o Brasil encare a China como um parceiro estratégico de verdade, coisa que ainda está muito no discurso.