Acompanhar a carteira de sondas da Petrobras está se tornando uma tarefa cada vez mais difícil, diante do forte ritmo da perfuração no Brasil. Ocupando com folga o posto de a maior contratante do planeta, a petroleira mantém em operação hoje 54 unidades de perfuração – 45 afretadas e nove próprias – e irá receber, somente neste ano, nada menos que 14 unidades – oito semissubmersíveis e seis navios-sonda.
Ao todo, a carteira da petroleira contempla o expressivo número de 85 unidades de perfuração – 73 afretadas (já incluídos os sete navios-sonda a serem construídos no Brasil) e 12 próprias. Das unidades afretadas, restam entrar em operação 28. Além das 14 programadas para 2011, serão sete no próximo ano e outras sete entre 2015 e 2019, todas para águas profundas.
Não bastasse isso, a frota muda com certa frequência por contratações isoladas, por licitações ou cotações diretas ao mercado. No ano passado, foram firmados quatro novos contratos e, no momento, a petroleira coordena dois processos, que deverão resultar na contratação de três novas unidades com operação programada para 2011.
A área de perfuração ainda tem previsão de lançar, nos próximos meses, novos editais para o afretamento de sondas com disponibilidade para operação possivelmente em 2012. E não será surpresa se a petroleira recorrer outras vezes ainda neste ano ao mercado para consultas de emergência, voltadas a projetos operados em consórcios com parceiros.
Novas contratações
A aposta do mercado é de que a Petrobras não colocará o pé no freio, aumentando ainda mais o ritmo das contratações. Com a criação da Sete Brasil, o mais provável é que os novos pedidos para construção no país fiquem a cargo da nova empresa, cabendo à área de E&P os afretamentos no exterior.
Na busca por novas unidades, outro recurso que também ganha força é o remanejamento de sondas originalmente contratadas para operar no exterior. Depois da Sevan Marine, em 2009, a petroleira firmou, há pouco tempo, contratos de cessão com a Transocean e a Schahin, ambos direcionados aos navios-sonda de 3 mil m que foram construídos na Coreia do Sul pelo Samsung.
A exemplo da Sevan Driller, o navio-sonda Vitória 10.000, da brasileira Schahin, nem sequer chegou a estrear no exterior e opera em águas brasileiras desde o mês passado. Já a Petrobras 10.000, da Transocean, está vindo da Namíbia e deve chegar aqui entre o fim de março e o início de abril.
Gap da frota
Mesmo tendo a maior carteira do mundo, a Petrobras terá de superar alguns desafios em curto e médio prazos. Afora a dificuldade natural de gerenciar uma frota desse porte e controlar o andamento da construção de 25 unidades, a maior parte delas no exterior, a petroleira terá de buscar uma solução para o fato de não ter sondas contratadas para entrar em operação no perãodo 2013-2014, quando há nada menos que 20 contratos por vencer.
Ou seja, se os indicadores dos contratos para entrada em operação impressionam, o volume de contratos de afretamento por vencer nos próximos anos também merece atenção. Somente entre 2013 e 2016, 43 unidades terão seus contratos expirados. Entre o próximo ano e 2036, serão assombrosos 73 contratos.
Com o mercado dando sinais de aquecimento e apostando na crescente atividade em Angola e na retomada, mesmo que a médio prazo, no Golfo do México, a Petrobras precisará ter uma reação rápida e eficiente para assegurar a sua atual frota. Especialistas acreditam que, se a petroleira quiser garantir taxas satisfatórias, precisará iniciar as negociações para renovar os primeiros contratos já em 2012.
Outra dificuldade, que recairá sobretudo no colo das perfuradoras, será a de treinar mão de obra para essas unidades. Apenas para as 25 sondas já contratadas será necessária a formação e contratação de um contingente de, no mínimo, 3,75 mil trabalhadores offshore.
Além das sondas com a Petrobras, 13 unidades flutuantes e mais duas jack-ups de perfuração operam no offshore do Brasil, executando campanhas para outras petroleiras.
Principais indicadores da carteira de sondas da Petrobras
* 85 sondas de perfuração, sendo 73 afretadas – 45 semissubmersíveis, 27 navios-sonda e uma jack-up – e 12 próprias – sete jack-ups e cinco semissubmersíveis
* Das 73 sondas afretadas, 45 estão em operação – 36 semissubmersíveis, oito 8 navios-sonda e uma jack-up –, 25 estão em construção – 17 navios-sonda e oito semissubmersíveis – e três aguardam início de contrato/mobilização – dois navios-sonda e uma semissubmersível
* Das 12 unidades próprias, nove estão em operação – cinco jack-ups e quatro semissubmersíveis –, duas estão em construção (jack-ups) e uma em modernização (semissubmersível)
Mãos à obra
Menos de duas semanas após a aprovação, em fevereiro, do contrato de construção dos primeiros sete navios-sondas para 3 mil m a serem fabricados no Brasil, o ritmo de trabalho do Estaleiro Atlântico Sul (EAS) já era frenético por conta das negociações para adquirir as chapas de aço e os pacotes de perfuração e de posicionamento dinâmico (DP). Considerados itens críticos ao negócio – que é o maior contrato individual da história da Petrobras –, essas contratações devem ser finalizadas até abril, garantindo de uma só vez cerca de 80% de todo o suprimento das unidades, que custarão US$ 4,637 bilhões – US$ 662 milhões por sonda.
Valendo-se do benefício da escala e da experiência adquirida com a construção, em curso, de 22 petroleiros para a Transpetro, o grupo EAS, formado por Queiroz Galvão, Camargo Corrêa e PJMR, adotará, na maior parte dos casos, a estratégia de contratação global única para os navios-sonda, com entrega escalonada, de acordo com o cronograma de obra de cada um dos equipamentos.
Embora admita que as negociações para a compra de chapas e dos pacotes de perfuração e DP estejam adiantadas, o grupo não revela detalhes sobre as empresas já selecionadas. Sabe-se que toda a parte de pré-negociação macro já foi fechada, restando apenas o detalhamento das condições de garantia, o cronograma de entrega e pequenas negociações comerciais.
O desembolso será alto no primeiro ano de contrato. A expectativa é de que seja desembolsado nesse perãodo algo próximo a 20% do valor total do contrato – cerca de US$ 900 milhões.
Tecnologia coreana
Com peso unitário estimado em 20 mil t e devendo demandar em média 1,2 mil t de tubulações, as sondas serão construídas a partir de projeto do estaleiro coreano Samsung Heavy Industries, parceiro da Queiroz Galvão em outras empreitadas, com entrega prevista para o perãodo 2015-2019. Com a experiência de ter construído cerca de 40 sondas nos últimos anos, o Samsung usará o mesmo conceito dos navios-sonda Petrobras 10.000 e Vitoria 10.000, com posicionamento dinâmico do tipo 3.
A Samsung será responsável também pela elaboração do projeto de engenharia. O trabalho dessa etapa será focado, basicamente, nos ajustes das características das sondas e na elaboração dos desenhos de fabricação, como detalhamento das chapas.
Além da compra dos equipamentos críticos, o EAS atua em outras duas frentes: conclusão dos trâmites legais necessários à assinatura do contrato com a Petrobras e mobilização da equipe que gerenciará o projeto. Para assegurar a assinatura do contrato neste mês, data estimada pela petroleira, o estaleiro terá de apresentar carta de garantia de 50% do Fundo Garantidor de Construção Naval, gerido pela Caixa Econômica Federal, adquirir 0,25% das ações do fundo e ainda apresentar performance bond de 3% do valor do contrato.
Num primeiro momento, a equipe de gerenciamento será composta de cerca de cem pessoas, distribuídas entre as atividades de engenharia (80) e de gerenciamento (20). Na fase de pico do contrato, estima-se que 235 técnicos integrem o grupo de engenharia, e 450, o de gerenciamento.
Proposta audaciosa
Na avaliação do EAS, o ponto chave para que o grupo apresentasse uma proposta bastante competitiva e ainda tivesse margem para reduzir a proposta original em US$ 13 bilhões foi o fato de já ter o estaleiro instalado e operando. Construído em 2007, sob o conceito da quarta geração, com investimento de US$ 1,4 bilhão, o Atlântico Sul está operacional desde 2008, finaliza a construção do petroleiro Zumbi dos Palmares, segunda embarcação da Transpetro, e monta o casco da P-55, semissubmersível que irá operar no campo de Roncador, na Bacia de Campos. Já carrega o título de o maior estaleiro da América Latina.
Embora não seja suficiente para garantir a amortização dos investimentos feitos – a expectativa é de que os recursos aplicados venham a ser pagos em 25 a 30 anos –, a conquista do contrato dos sete navios-sonda assegura um bom fôlego ao grupo. Economicamente, é muito mais vantajoso construir sondas do que petroleiros. Enquanto as sondas custarão, cada uma, US$ 662 milhões, o custo médio de um Suezmax gira em torno de US$ 130 milhões. Não bastasse isso, o valor agregado de um navio-sonda é expressivamente maior, em função de todo o aparato do pacote de perfuração, responsável por cerca de 35% do valor de cada unidade.
Ritmo fabril
Pelo cronograma, o primeiro corte de chapa deverá ser feito no 14º mês após a assinatura do contrato, ou seja, em maio de 2012. As projeções são de que o drill-ship comece a ser montado no dique seco entre maio e junho de 2013, 27 meses após a homologação do contrato. O pacote de perfuração da primeira unidade deverá chegar ao Brasil por volta de janeiro de 2013.
Nos primeiros anos do contrato, o dique seco do Atlântico Sul abrigará a construção simultânea de um petroleiro e uma sonda. A meta é que o último dos 22 petroleiros seja concluído até o fim de 2015, prazo para a entrega de três navios-sonda.
O tempo médio de construção de cada sonda no dique seco será de três meses, e o dos navios, de dois meses. A construção das unidades irá criar, no pico, 5 mil empregos diretos e 25 postos de trabalho indiretos.
Para garantir a construção das sondas, o grupo terá de investir mais R$ 600 milhões no estaleiro. Os recursos serão aplicados até o fim do ano e direcionados à ampliação do pipe-shop, à construção de uma nova linha de panelização e à complementação da uma nova unidade de jato e pintura.
Riscos do negócio
Duas questões demandarão cuidados especiais durante o desenrolar do contrato, na avaliação do EAS: contratação de mão de obra e matriz de suprimento. Na instalação do estaleiro, o grupo investiu R$ 3 milhões em treinamento de mão de obra, e montou um centro técnico de treinamento na região de Suape, com vistas à contratação de pessoal local.
Outra frente de atuação tem sido a tentativa de trazer de volta decasséguis – brasileiros descendentes de japoneses que foram para aquele país –, aproveitando a recessão da indústria naval do Japão. Atualmente, já foram contratados 60 ex-emigrantes.
As apreensões em relação à matriz de suprimento são proporcionais ao porte do negócio. No caso dos equipamentos de perfuração, cerca de 70% do valor do contrato são relativos ao suprimento, o que garante um nível de exposição alto em caso de variações de preço dos componentes das sondas. No último ano, no perãodo de janeiro de 2010 a janeiro de 2011, por exemplo, o preço do aço subiu 37%.
Risco quase zero
A apreensão do mercado com as restrições impostas pelo acidente da BP no Golfo do México parece ser coisa do passado. Somente de dezembro de 2010 a fevereiro, a indústria colocou pedido para construção sem contrato de 12 unidades de águas profundas, com opção para mais outros 12 equipamentos. As iniciativas foram tomadas por Diamond, Noble, Atwood, Aker, MetroStar, Seadrill, Ensco e Maersk e colocadas em estaleiros como Hyundai, Daewoo e Samsung, na Coreia do Sul.
Nos tempos atuais, é cada vez menor o número de empresas que ainda não se rendeu à modalidade do risco, como Transocean e Saipem. Assim, a opção pelo risco deverá ser seguida por outras perfuradoras, que já demonstram ânimo com o futuro do mercado, independente de haver unidades sem contrato no momento e sondas que deverão ter suas obras concluídas no perãodo 2011/2012.
Essa aposta na demanda é baseada no potencial de crescimento dos mercados do Brasil e da África e também na retomada, em algum momento, das atividades no Golfo. Some-se a isso os movimentos populares em países do Oriente Médio e norte da África nos primeiros meses do ano, que aumentaram a instabilidade política e elevaram os preços do óleo a patamares semelhantes a setembro de 2008, antes da crise financeira mundial. E óleo em ascendência se traduz, inevitavelmente, em taxas de afretamento de sondas maiores.
Segundo dados da consultoria internacional RS Platou, há hoje 75 unidades flutuantes em construção no mundo, das quais 29 estão sem contratos – dez semissubmersíveis e 19 navios-sonda.
Mais três unidades a caminho
Nos próximos meses, a área de E&P da Petrobras deverá acertar o afretamento de pelo menos outras três novas unidades de perfuração, com operação programada para 2011. Voltados a águas profundas, os equipamentos estão sendo contratados em dois processos distintos: uma licitação convencional, direcionada ao afretamento de uma ou mais sondas com posicionamento dinâmico (DP) para 1,5 mil m, e uma negociação direta para operação exclusiva no bloco BM-SEAL-11, na Bacia de Sergipe-Alagoas, em águas de até 3 mil m.
O contrato destinado à campanha de Sergipe-Alagoas está sendo negociado pelo consórcio Petrobras/IBV Brasil, responsável pela campanha exploratória no BM-SEAL-11, onde, em dezembro, foi anunciada a descoberta de grandes reservatórios de óleo leve. O equipamento terá capacidade para operar em lâmina d’água de 3 mil m e ficará afretado por dois anos.
A Petrobras não revela a lista das empresas envolvidas nessa consulta ao mercado. Segundo apurado, foram convidadas apenas perfuradoras que possuem sondas com disponibilidade de operação. Por essa peculiaridade, a petroleira diz que o grupo se resume a cerca de sete empresas. A Petrobras quer a sonda em outubro, mas, para assegurar maior competitividade, irá aceitar também equipamentos que possam estar disponíveis apenas em dezembro.
No fim de março, a companhia receberá as propostas da licitação destinada ao afretamento da unidade DP para 1,5 mil m. A exemplo de outros processos, os proponentes poderão apresentar ofertas para dois prazos distintos de afretamento – um para três anos e outro para cinco anos.
Lançado no ano passado, o edital de licitação não especifica o número exato de unidades a serem contratadas. No entanto, como a demanda da Petrobras por novas unidades de perfuração é inquestionável, mesmo com a previsão de entrada de 14 novas sondas até o fim do ano, a aposta do mercado é de que venham a ser afretados dois equipamentos.
Como as unidades dos dois processos terão de estar disponíveis para operação antes do fim do ano, a expectativa é de que o número de ofertas apresentadas fique aquém do obtido nas últimas licitações.
Licitação da Engenharia: novo negócio, velhas propostas
Embora tenha sido cancelada em fevereiro, a licitação do outro pacote da área de Engenharia destinado à construção, no Brasil, de duas unidades de perfuração poderá ser resgatado em breve. Movida pela necessidade de contratar outras unidades e pelo interesse demonstrado pelas perfuradoras, a Petrobras vem analisando a possibilidade de retomar o processo a partir de negociações diretas com o mercado.
Se aprovada, a iniciativa já seria conduzida pela Sete Brasil, companhia autônoma criada para gerir o empreendimento das sondas a serem construídas no país e formada pela petroleira, por fundos de pensão e pelos bancos Santander e Bradesco. A aposta é de que a atuação fique centrada na tentativa de negociação com o Estaleiro Atlântico Sul (EAS), visando assegurar o mesmo preço praticado no primeiro pacote, após a fase de negociação – US$ 662,4 milhões por unidade.
A licitação do segundo pacote da Engenharia foi oficialmente cancelada em meados de fevereiro, sob a alegação de preços excessivos. O mesmo EAS apresentou o menor preço no processo: US$ 719,02 milhões por equipamento.
No comparativo com as propostas originais, o preço unitário das sondas no segundo pacote foi superior ao apresentado no lote dos sete navios-sonda em quase US$ 55 milhões por equipamento. No processo dos oito navios-sonda, o preço original cotado pelo EAS foi de US$ 664,2 milhões por unidade.
Ensco e Pride: valores invertidos
A notícia da aquisição da Pride pela Ensco pegou de surpresa o mercado de perfuração. Não era novidade que a Pride vivia dificuldades financeiras e operacionais, mas o que não se esperava era que os problemas da terceira maior companhia de perfuração do mundo pudessem ser resolvidos por uma perfuradora de pouca tradição no mercado.
Com uma frota até então modesta – oito unidades flutuantes de águas profundas, das quais três ainda em construção, e algumas dezenas de jack-ups –, a Ensco ganha uma posição de destaque no mercado a partir da operação. Juntas, Ensco e Pride terão uma frota total de 74 plataformas, sendo 27 para águas ultraprofundas e 27 jack-ups. Não é suficiente para abalar a gigante Transocean. Mas desloca a Noble do segundo para o terceiro lugar no ranking.
A nova empresa manterá o nome Ensco e irá operar em todos os continentes, em 25 países. O valor estimado do grupo é de US$ 16 bilhões, e a projeção de receita, da ordem de US$ 10 bilhões anuais.
A oficialização do negócio ainda depende da aprovação dos acionistas. Alguns acionistas da Pride já declararam estar insatisfeitos com a operação e ameaçam ir à Justiça para cancelar o negócio.
No Brasil, o nome da Ensco ainda é pouco difundido. A empresa arrematou seu primeiro contrato por aqui no início deste ano, a partir do afretamento, por dois anos, da semissubmersível Ensco 7.500.
Prevista para iniciar operação em julho, a unidade está passando por upgrade e poderá operar em lâmina d’água de até 1,5 mil m. A taxa diária de afretamento foi firmada por US$ 320 mil.
Já a Pride mantém, no momento, nove unidades de perfuração em operação no Brasil, sendo sete para a Petrobras e duas para a OGX.