Duas siderúrgicas chinesas confirmaram ontem o fechamento de acordos de preços provisórios do minério de ferro. Um executivo da Hebei Iron and Steel Group, que não quis ser identificado, informou que sua companhia fechou acordo com a Vale, prevendo um desconto provisório de 28% em relação ao preço de contrato do ano passado, e com as mineradoras anglo-australianas Rio Tinto e BHP Billiton para um desconto provisório de 33%.
Ainda estamos esperando a posição da Associação do Ferro e do Aço da China e da Baosteel sobre o preço final. Depois disso, pagaremos a diferença para as mineradoras, disse o executivo da Hebei. O diretor-geral da Hunan Valin Iron também afirmou que a companhia atualmente está utilizando um preço provisório com desconto de 33% em relação ao ano passado e que a diferença será ajustada após o acordo final.
Tanto a Associação do Ferro e do Aço da China (Cisa, na sigla em inglês) quanto as principais mineradoras reiteraram que continuam as negociações para o preço final do ano contratual 2009-2010. Os acordos fechados ainda não significam, na visão de analistas de mercado, que a China tenha aceitado o preço de referência (benchmark) definido entre as mineradoras e as siderúrgicas do Japão, Europa e Coreia do Sul, que acertaram com as mineradoras descontos de 33% a 44% sobre os preços do ano passado.
Segundo analistas, os acordos preveem apenas contratos provisórios com descontos de 28% a 33% que valerão até que o novo contrato anual seja definido com a China. Eles destacam que este desconto é o mesmo mecanismo adotado no início do ano, quando a Vale anunciou que concederia um corte provisório de 20% para seus clientes. A diferença é que hoje o acordo de 28% estabelecido com japoneses, europeus e coreanos serve como parâmetro no mercado.
Este acerto está servindo como balizador dos descontos, disse o analista da Corretora Geração Futuro, Rafael Weber. Apesar de a China não ter aderido ainda ao novo contrato anual, os acordos provisórios devem ajudar a pressionar as grandes usinas chinesas a aderirem ao acordo. O bom senso leva a crer que elas vão ter que acabar aceitando. O risco hoje é o preço no mercado spot disparar, afirmou o analista Pedro Galdi, da SLW.
MERRILL LYNCH. Em relatório divulgado ontem, o banco Merrill Lynch informou que o minério de ferro negociado atualmente no mercado à vista já está 10% acima do valor dos contratos de longo prazo, o que deve motivar a migração das empresas para os contratos longos. Em nossa visão, é apenas uma questão de tempo para que os chineses aceitem o mesmo desconto que as outras siderúrgicas globais, informou o analista Felipe Hirai.
A tendência de alta do minério de ferro no mercado à vista começou a se acentuar em março. Desde então, as cotações passaram de US$ 62,50 para mais de US$ 90 por tonelada no mercado spot chinês, segundo o analista Carlos Kochenborger, do Banco Sicredi. A migração crescente das usinas para o mercado à vista contribuiu para a valorização, assim como a redução dos estoques e o aumento da demanda no país.
O spot está cada vez menos compensador, o que coloca pressão sobre os chineses, disse. Várias siderúrgicas chinesas importantes que adotaram o desconto de 33% como preço provisório esperam que este seja o preço final a emergir das conversas entre as principais mineradoras e os negociadores.
Na terça-feira, circularam rumores de que as usinas chinesas tinham chegado a um acordo final com as mineradoras. Qi Xiangdong, vice-secretário-geral da Cisa, que lidera as negociações Qi Xiangdong, disse que não estava sabendo de nenhum acordo.
O analista Hu Kai, da consultoria Umetal, está em contato direto com mineradoras e disse que muitas usinas, incluindo Baosteel, Shougang e Anshan Iron and Steel, fecharam acordos provisórios para um desconto de 33%. Segundo o analista, tais acordos foram fechados com a Rio Tinto. Ele disse não ter conhecimento de acordos semelhantes com a BHP.(Fonte: Jornal do Commercio/RJ/Natália Gomez e Mônica Ciarelli Da Agência Estado-Dow Jones)