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Clippings - 20/08/24

CMM e Wärtsilä fecham acordo para PSVs movidos a etanol

Operadora obteve prioridade do FMM para construção de 10 embarcações, que devem contar com motores multicombustíveis e soluções da fabricante finlandesa

A Compagnie Maritime Monégasque (CMM) tem intenção de construir os primeiros barcos de apoio marítimo do mundo movidos a etanol no Brasil. A aposta é uma parceria com a Wärtsilä, que desenvolve motores multicombustíveis e que vem estudando essa fonte entre as opções de abastecimento. As duas empresas assinaram um memorando de entendimento (MoU) para uso desse insumo como combustível, com equipamentos da fabricante finlandesa, em PSVs (transporte de suprimentos) da operadora, que podem vir a ser construídos em estaleiro brasileiro. A CMM obteve recentemente prioridade do Fundo da Marinha Mercante Brasileira (FMM) para construir 10 PSVs 5.000 no país.

A Wärtsilä vem relatando testes bem sucedidos com a utilização do etanol como combustível principal do motor ‘Wärtsilä 32’ em escala real, como os realizados em fevereiro de 2024, no laboratório da fabricante, em Vaasa, na Finlândia. De acordo com a empresa, os experimentos confirmam a capacidade do motor de operar de forma eficiente com uma variedade de combustíveis, incluindo diesel, biodiesel, óleo combustível pesado (HFO), metanol e etanol.

Na 54ª reunião ordinária, o Conselho Diretor do Fundo da Marinha Mercante (CDFMM) aprovou prioridade de R$ 4,2 bilhões para a CMM Offshore Brasil voltados à construção de 10 embarcações de apoio marítimo, classe PSV 5.000 TPB, modelo Damen Green Ethanol. A prioridade concedida está associada à construção no estaleiro da Wilson Sons, no Guarujá (SP). Caso a empresa de navegação busque financiamento do FMM, terá que seguir com os trâmites junto aos agentes financeiros para obtenção do crédito.

O CEO da CMM Offshore, Christophe Vancauwenbergh, observa que, apesar de o foco das pesquisas na Europa estar mais voltado ao metanol, as avaliações sobre o uso do etanol vêm reunindo comprovações e demonstrando, de forma convincente, que é uma alternativa viável, do ponto de vista de construção, financiamento e operação. “É uma solução para desenvolvimento muito interessante para o Brasil. Acreditamos em novas oportunidades [para o etanol] ao redor do mundo (…). Existem discussões nessa direção”, afirmou Vancauwenbergh.

Ele destacou à Portos e Navios que o FMM recebeu bem esse projeto, que é uma solução que não sairá muito mais cara e terá uma pegada sustentável, contribuindo com o processo de descarbonização do setor marítimo. O executivo chamou atenção para os efeitos positivos na redução do consumo de combustível e de emissões de carbono. “Nosso objetivo é construir esses navios no Brasil, garantindo que nossos clientes possam alcançar reduções substanciais nas emissões de gases de efeito estufa, apresentando uma alternativa viável para um futuro mais verde no setor marítimo”, afirmou Vancauwenbergh.

O gerente de desenvolvimento de negócios e sustentabilidade da CMM Offshore, Bruno Azevedo, acrescentou que, para uma embarcação que ficará pronta antes de 2030, a empresa considera importante e mais racional construir um projeto capaz de navegar com combustíveis alternativos. “Mesmo que o bid não exija no tempo zero, nosso foco é trabalhar para entregar uma embarcação que esteja pronta para o uso do etanol”, projetou Azevedo.

A CMM viu a possibilidade de uma solução viável tecnicamente e economicamente no curto prazo. O entendimento, segundo Azevedo, é que a instalação de um motor versátil permite a utilização do biodiesel em percentuais menores e usa grande massa de combustível com etanol, que é um insumo cada vez mais amadurecido no Brasil e que pode também ser produzido em outros países.

O gerente geral da Wärtsilä na América Latina, Mário Barbosa, disse à reportagem que a CMM apostou no etanol como solução num momento em que a pressão global por eficiência energética e por combustíveis alternativos contribui com a aceleração do desenvolvimento desse insumo para uso em embarcações. “Inicialmente, esse motor foi desenvolvido para metanol e acreditamos que nossa tecnologia também poderia trabalhar com etanol”, destacou.

Um dos desafios para a consolidação do etanol, nos próximos anos, é o trabalho de convencimento da viabilidade junto à matriz, além de quebrar uma visão de que esta é uma alternativa mais ‘regionalizada’. A Wärtsilä acredita que essa tecnologia vai ganhar espaço não só no Brasil, como em outros países. Barbosa adiantou que essa nova embarcação virá com tecnologias e conceitos que vêm sendo trabalhados, como hibridização, eficiência energética e combustíveis do futuro. Barbosa contou que a empresa estuda outros projetos, não somente no segmento offshore, mas em outros mercados que oferecem possibilidades, por exemplo, na cabotagem.

Wärtsilä e CMM destacaram que a parceria para incorporação do etanol na estratégia operacional dos futuros PSVs visa reduzir significativamente as emissões de gases de efeito estufa na indústria marítima, de forma alinhada com o desenvolvimento de uma frota com combustível mais limpo para operações. As empresas avaliam que o acordo tem um cronograma acelerado para a construção do primeiro navio, marcando um passo significativo em direção à aplicação industrial da plataforma multicombustível.

A Wärtsilä reiterou que segue dedicada ao desenvolvimento e teste de tecnologias e soluções para combustíveis marinhos de baixo e zero carbono, num cenário em que as empresas de transporte marítimo estão sob crescente pressão para descarbonizar suas operações. “Estamos totalmente alinhados com a visão da CMM de acelerar a indústria marítima em direção ao transporte com emissões líquidas zero. Este acordo reforça ainda mais nosso compromisso com soluções inovadoras que possibilitam um futuro mais sustentável”, declarou, por meio de nota, Roger Holm, presidente da Wartsila Marine e vice-presidente executivo da Wartsila Corporation.

Fonte: Portos e Navios