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Clippings - 05/08/09

Crédito à exportação volta com força e juro cobrado despenca

Os juros cobrados nos financiamentos à exportação de curto prazo para empresas brasileiras despencaram nos últimos três meses, com a agora ampla liquidez disponível. A atuação do Banco Central se tornou dispensável – desde 4 de maio a autoridade monetária deixou de ofertar Adiantamentos de Contrato de Câmbio (ACCs) em leilão por falta de demanda.
Uma empresa de primeiríssima linha, que no início deste ano chegou a pagar até 4% ao ano sobre a Libor, taxa interbancária de Londres, por um crédito de vencimento em um ano, hoje consegue obter a mesma linha à exportação pagando de 1,20% a 1,30% de prêmio de risco de crédito.

Os grandes bancos nacionais, que agora pagam spreads sobre a Libor tão baixos quanto 0,70% ao ano pelo prazo de 360 dias, já têm crédito mais do que o suficiente para atender os clientes – excluídas, é claro, as companhias para as quais as instituições financeiras agora não se dispõem mais a emprestar por causa de inadimplência ou risco de não-pagamento tido como excessivo.

Há instituições financeiras com tamanha disponibilidade de crédito que já devolveram antecipadamente todas as linhas oferecidas pelo Banco Central em meio à crise. O BC informa que emprestou US$ 24,4 bilhões em recursos com dinheiro das reservas internacionais com lastro em ACC e ACE (Adiantamento sobre Cambiais Entregues) e já foram devolvidos até 8 de junho US$ 15,9 bilhões. Segundo o BC, o impacto nas reservas internacionais existe apenas no conceito de caixa, o que significa um total de US$ 8,5 bilhões.

A atuação do BC foi fundamental para atender o mercado e as empresas exportadoras brasileiras no final do ano passado. A Lehman Brothers quebrou em 15 de setembro e o financiamento externo secou, o crédito em geral apertou e até empresas de primeira linha tiveram de recorrer aos ACCs e aos ACEs para suprir as mais básicas necessidades de capital de giro.

Hoje, com a normalização do financiamento externo de curto prazo e outras opções de captação para as empresas, as linhas do BC ficaram caras. Em novembro, nos primeiros leilões de ACC, o BC vendeu linhas de seis meses com juros de 1% ao ano sobre a Libor para os bancos e linhas de um ano com spreads de 1,5% ao ano. No último leilão do BC, a linha de um ano saiu a 0,85% ao ano para os bancos e a demanda foi fraca: o mercado tomou pouco mais de US$ 800 milhões dos US$ 2 bilhões oferecidos. Os bancos internacionais já fornecem aos bancos brasileiros linhas mais baratas que isso, de 0,7% ao ano sobre a Libor, e são capazes de suprir completamente a demanda por crédito à exportação do país.

É verdade que essa demanda foi reduzida na comparação com o ano passado. Em primeiro lugar porque as próprias exportações caíram. No primeiro semestre deste ano o volume de ACCs e ACEs, o financiamento à exportação de prazo de vencimento até um ano, caiu 24,8% na comparação com o mesmo perãodo do ano passado, para US$ 16,354 bilhões, segundo o BC. As exportações no mesmo perãodo tiveram queda de 23%. Na comparação com o segundo semestre de 2008, a redução no volume de ACCs e ACEs foi de 32,9%. Mas também neste caso o tombo nas exportações foi proporcional, de 34,8% no perãodo. A atividade econômica mais fraca no país e no mundo também desestimula os investimentos, reduzindo a demanda por crédito.

As grandes corporações brasileiras, que tomam os maiores volumes de crédito à exportação, estão conseguindo alongar sua dívida, lembra Paulo Cezar Souza, diretor comercial do Société Générale. As empresas estão também acessando os mercados internacionais de capitais , comenta. Recentemente a Votorantim obteve US$ 350 milhões por três anos em um empréstimos sindicalizado que obteve oferta de crédito de US$ 520 milhões dos bancos. A Cosan conseguiu US$ 350 milhões por meio de um eurobônus pelo prazo de vencimento em cinco anos pagando juros de 9,625% ao ano.
Segundo o diretor de comércio exterior do Banco do Brasil, Nilo Panazzolo, a disponibilidade de crédito à exportação para o banco já está normalizada considerando-se os prazos de vencimento em até cinco anos. A situação já voltou ao normal, ao que era antes da grave crise, afirma o executivo. O BB acabou ganhando mercado e passou a ter participação de 44% em junho no total de ACCs e ACEs feitos pelo país, na comparação com os 26% de participação que mantinha antes da crise. No primeiro semestre, fechou US$ 5,5 bilhões no crédito de mais curto prazo, grande parte disso com as linhas oferecidas pelo BC. O banco ainda não devolveu tudo o que tomou da autoridade monetária, mas está cogitando fazer isso em breve, de acordo com Panazzolo. O BB no primeiro semestre pediu juros de 5,2% na média nos seus ACCs, pelo prazo médio de 180 dias, níveis mais baixos inclusive do que em 2006 e 2007.

Para José Augusto Durand, diretor de negócios de tesouraria de atacado do Itaú BBA, a demanda pelo ACC caiu também porque tomar recursos em reais é mais barato. Se uma empresa for converter um ACC para reais por meio de um swap pode conseguir melhor negócio se tomar por exemplo uma Nota de Crédito à Exportação, que tem os mesmos benefícios fiscais, diz o executivo. Segundo ele, as diferenças a favor das NCEs são de 0,20% a 0,30% para 90 dias.

A maior disponibilidade de linhas em dólar têm ajudado a derrubar o valor da moeda americana, que foi para R$ 1,8230 ontem, uma queda de 21,89% ano. O dólar está no menor nível desde 25 de setembro de 2008. Isso apesar das compras feitas pelo BC, que levaram as reservas em 31 de julho pelo conceito de liquidez internacional para o recorde de US$ 211,8 bilhões. Os economistas do Itaú Unibanco já consideram que o dólar poderá chegar a R$ 1,70 no final deste ano.

É importante lembrar que os prêmios de risco nos ACCs para os bancos e empresas brasileiras ainda não chegaram aos níveis mínimos históricos de 2007. Além disso, a maior parte da liquidez externa disponível ainda se deve a injeções de dinheiro do Fed, o banco central americano, e do Banco Central Europeu. Mas Durand lembra que o ritmo de injeção das linhas do Fed de 28 e de 84 dias, no entanto, foi reduzido de US$ 125 bilhões por leilão para US$ 100 bilhões para cada um dos dois prazos. É um dos muitos sinais de que a liquidez começa a voltar mesmo no mercado interbancário lá fora, diz. (Cristiane Perini Lucchesi e Arnaldo Galvão, de São Paulo e Brasília – 05/08/2009)