A descoberta de petróleo em águas rasas na Bacia de Campos pela petroleira OGX comprova o sucesso do modelo de licitações de áreas exploratórias em vigor desde 1999 no País. A opinião é de analistas do setor, para quem a região ficaria sem atividade exploratória em caso de manutenção do monopólio estatal. A própria Petrobras chegou a explorar a área onde a OGX acredita ter encontrado entre 500 milhões e 1,5 bilhão de barris, mas desistiu por considerá-la pouco atrativa.
Se não houvesse licitações, essa área não entraria em produção tão cedo, afirma o consultor Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), lembrando que o foco prioritário da Petrobrás é hoje o pré-sal. A estatal perfurou um poço na região no final dos anos 70, mas não deu prosseguimento à atividade exploratória e entregou a área à ANP ao fim do monopólio, em 1998.
O bloco foi a leilão na nona rodada de licitações da ANP, em 2007, sendo arrematado pela OGX por pouco mais de R$ 100 milhões. Em dois anos, a companhia perfurou seu primeiro poço e já projeta o início da produção para 2011. A diversidade de operadores garante diversidade de ideias, de estratégias. Isso é bom para o desenvolvimento do setor, comenta o geólogo Giuseppe Bacoccoli, aposentado pela Petrobras e hoje pesquisador da Coppe/UFRJ.
Na época em que testou a região, que fica ao Sul da Bacia de Campos, a Petrobras dava seus primeiros passos rumo às águas profundas da região, onde descobriu, já nos anos 80, os primeiros campos gigantes brasileiros. Os baixos preços do petróleo limitavam a capacidade de investimento e, ao mesmo tempo, reduziam a viabilidade de petróleos mais pesados, como o existente no poço da OGX.
ex-petrobras. A viabilidade depende também do foco da companhia e da sua interpretação geológica, aponta Bacoccoli. A petroleira privada, que tem nos seus quadros o ex-gerente de exploração da Petrobrás Paulo Mendonça, corre agora para iniciar a produção e antecipar a geração de receita – hoje tem apenas blocos em exploração.
A descoberta da OGX mostra que o que é ruim para uma empresa de grande porte pode ser boa para companhias menores, completa Pires. Ele defende a retomada dos leilões de áreas do pós-sal, com o objetivo de permitir a manutenção das atividades das petroleiras independentes. A nona rodada foi o último leilão que teve áreas marítimas no País e este ano, em função das discussões sobre o marco regulatório do pré-sal, não deve haver oferta de novas áreas.