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Clippings - 30/06/09

Diretor da Aliança alerta: gargalos logísticos impedem crescimento da cabotagem no País

O diretor de operações da Aliança, José Antônio Balau, alertou para a possibilidade de estagnação da cabotagem brasileira caso os portos e terminais marítimos não busquem saídas para a eliminação de gargalos logísticos, como a falta de espaço para o armazenamento de cargas. O alerta foi feito durante entrevista sobre as obras de conclusão do Porto de Itapoá (SC), que está em fase de construção e deve mudar a rota de quem trabalha com contêineres no Sul do Brasil. A previsão é de que o porto entre em operação nos primeiros meses de 2010.

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PortoGente – A prioridade do Porto de Itapoá será cabotagem ou o foco estará no mercado externo?
José Balau – O nosso plano é atuar de maneira eficaz tanto em um quanto em outro, como fazem hoje os principais terminais e portos especializados em movimentação de contêineres. Aproveito a oportunidade para ressaltar que o Porto de Itapoá não será de uso exclusivo da Aliança e da Hamburg Süd. Nós estamos investindo nele, mas somos clientes como outros armadores e não é só a gente que irá movimentar contêineres lá. Nosso plano, na realidade, é tornar Itapoá um hub port de contêineres, pois o Brasil tem potencial e geografia suficientes para possuir vários portos concentradores de cargas.

PortoGente – Apesar da vontade da Aliança em incentivar a cabotagem, o empresário brasileiro pouco a utiliza. Como trazê-lo para o setor?
José Balau – Para entender o que acontece, precisaremos voltar ao ano passado. Em 2008, a cabotagem brasileira movimentou mais de 500 mil contêineres, um número expressivo para o segmento, mas que realmente poderia ser maior. Agora, nós sabemos que o crescimento da cabotagem é um caminho sem volta, vai seguir nos próximos anos e só foi possível com a Lei de Modernização dos Portos e o arrendamento dos terminais nos portos públicos. E não é só a Aliança que investe. Temos empresas concorrentes que também canalizam recursos para o transporte interno marítimo.

PortoGente – Se tanta gente investe, por que os números não são maiores?
José Balau – Porque é necessária uma infraestrutura de primeira nos portos, nos terminais e no acesso a eles. A cabotagem compete com a rodovia, um modal que chega na porta do cliente. E os portos não podem ser gargalos. Antes da crise de 2008, foram notórios os casos de terminais portuários de contêineres estrangulados com tantas cargas. Não tinha para onde crescer. Se isso for resolvido, o Brasil só terá a ganhar com a cabotagem.

PortoGente – Itapoá absorverá a demanda que hoje não existe de cargas ou poderá roubar mercadorias que hoje passam por outros portos?
José Balau – A gente trabalha com a expectativa de que o Porto de Itapoá absorva 20% da movimentação de contêineres de Santa Catarina e do Paraná até o ano de 2015. Em conjunto, os dois movimentaram 990 mil contêineres no ano passado e estimativas apontam para uma movimentação de cofres no patamar de 2 milhões ao ano nos dois estados. Ou seja, não roubaremos cargas de portos públicos, mas sim supriremos uma demanda que se apresenta mais forte a cada dia. O litoral catarinense é o segundo local mais importante em movimentação de contêiner no Brasil.

PortoGente – Como estão as melhorias nos acessos terrestres ao porto? Há o risco do porto nascer sem estradas e ferrovias em quantidade suficiente?
José Balau – Não há risco, graças ao empenho do Governo de Santa Catarina nas melhorias nas vias de acesso. Eles estão tocando uma obra de 30 quilômetros de extensão, que ligará por via terrestre e rodoviária a BR 101 ao Porto de Itapoá. Não podemos utilizar a via existente porque ela foi projetada para o tráfego de veículos, não de caminhões pesados e carregados de contêineres. Estamos livres do risco de um gargalo nos primeiros meses do porto até porque ele não entrará em operação agora.

Pedra fundamental foi instalada em Itapoá em julho de 2007

PortoGente – Mas a inauguração não será feita no começo de 2010?
José Balau – É importante lembrar que as obras do porto devem ficar prontas até março de 2010, mas ele não entrará em operação logo em seguida. A gente queria que isso ocorresse, mas precisaremos nos concentrar em dotar o Porto de infraestrutura. Senão, não teremos como atrair as cargas. Eu não posso precisar datas, mas não deve demorar muito para o Porto de Itapoá entrar em operação. Deve ser no primeiro semestre, em meados de 2010, mas não em janeiro ou fevereiro.

PortoGente – Em um momento onde só se fala de crise, não é arriscado ousar em um projeto desse? Haverá carga suficiente?
José Balau – Os recursos estão garantidos e a crise mundial não afetou os planos para o Porto de Itapoá. E a crise, em meu entender, não é algo tão complexo. Ela se trata de um evento pontual, com duração máxima de dois anos. Com regulação dos estoques em todo o mundo, não haverá mais motivo para pânico e risco de prejuízos incalculáveis.