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Clippings - 15/07/09

Empresa que recebeu lixo da Inglaterra fecha

A empresa que recebeu 1.098 toneladas de lixo doméstico exportadas da Inglaterra, a Alfatech Ltda, de Bento Gonçalves, encerrou as atividades ontem. Dizendo-se vítima de um golpe, o empresário Arildo Falcade Júnior, anunciou que não pôde mais continuar como reciclador e fabricante de produtos plásticos. Fechou as portas e demitiu 22 dos 25 funcionários.

Dono da Alfatech, Falcade Júnior assegura que levou um trote dos britânicos. Ele conta que fez uma compra inicial, em janeiro, recebendo 16 contêineres (cerca de 150 toneladas) de aparas de plástico, conforme o combinado. Ao fechar o segundo negócio, surpreendeu-se com a chegada das 1.098 toneladas de lixo doméstico.

Desde que estourou o escândalo, a Alfatech vinha em dificuldades. Além da perda de clientes, foi autuada em R$ 633 mil pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) pela estocagem de lixo em Rio Grande, Santos e Caxias do Sul. Na sucessão de prejuízos, teria pago cerca de R$ 200 mil pela mercadoria aos britânicos, sem contar o frete, os impostos de importação e as despesas com o transporte marítimo. O custo operacional de cada contêiner está ao redor de R$ 3,5 mil.

Os 64 contêineres foram importados pela Alfatech, que garante ter comprado aparas de plástico – e não embalagens de talco, frascos de xampu e de detergente, bambonas, garrafas pet, fraldas usadas, cabides quebrados, luvas, tapetes rasgados, tampa de sanitário e outros rejeitos domésticos. Diante da repercussão negativa do episódio, a Alfatech perdeu clientes, que cancelaram encomendas. Situada no bairro Vila Nova, periferia de Bento Gonçalves, a recicladora passou a ser criticada, xingada por moradores indignados com a situação.

O chefe da Delegacia da PF em Rio Grande, João Manoel Vieira Filho, investiga se a Alfatech sofreu um golpe dos britânicos, comprando aparas de plástico mas recebendo lixo sujo. Ou, então, se a recicladora gaúcha está envolvida numa operação para descarte internacional de resíduos. Na próxima semana, Vieira Filho começará a ouvir os envolvidos, num trabalho conjunto com o Ministério Público Federal e a Receita Federal de Rio Grande.

Greenpeace faz alerta
O lixo europeu que veio parar em Rio Grande e Santos repercutiu entre os defensores do ambiente. Entrevistado por ZH, o diretor-executivo do Greenpeace Brasil, Marcelo Furtado, lembrou ontem que países ricos costumam enviar seus rejeitos para regiões pobres da África, América do Sul e Ásia, num triângulo de conivências entre exportador, transportador e importador.

– É mais barato, para eles, mandar esse lixo de navio do que providenciar o seu destino no país de origem – alertou.

Furtado ressaltou que o governo brasileiro deve agir, devolvendo imediatamente as 1.098 toneladas de lixo para a Inglaterra, para não criar um precedente.

– Se isso não der em nada, vai ficar a mensagem de que o Brasil é um bom destino para o lixo dos ricos. O Brasil precisa mostrar que esse tipo de comércio não é tolerado – afirmou o dirigente.

Dono da empresa que importou lixo diz ter vergonha do que está passando

Dono da Alfatech, o empresário Arildo Falcade Júnior, 36 anos, concordou em receber ZH, na tarde de ontem, em Bento Gonçalves.

Confira trechos da entrevista:
ZH – Por que decidiu comprar aparas plásticas na Inglaterra?

Arildo Falcade Júnior – No Brasil, não há controle de quantas vezes um plástico é reciclado. O nosso objetivo era buscar um plástico mais adequado e sob controle, na Inglaterra.

ZH – O senhor foi a Inglaterra?

Falcade Júnior – Eu mesmo fui lá, vi como tratam o plástico. Qualquer coisa, um arranhão num cantinho, eles põem fora. Eles descartam muito.

ZH – Antes de dar esse problema, havia feito uma compra na Inglaterra. Como foi?

Falcade Júnior – Fiz a compra, recebi os contêineres, em janeiro ou fevereiro. A Receita Federal viu o que tinha dentro e liberou.

ZH – O que houve agora?

Falcade Júnior – Calculo assim: resolveram carregar essas coisas, ele vai reciclar uma parte, se reclamar. Mandamos um pouco de reposição.

ZH – O senhor reclamou pelo lixo?

Falcade Júnior – Disseram que era problema nosso.

ZH – Como fica a Alfatech?

Falcade Júnior – Não tenho mais como continuar. Hoje (ontem) acabou a última produção. Perdi um rio de dinheiro, nem consegui calcular direito o valor. É uma vergonha o que estou passando. (Com informações Zero Hora)