A Vale reabriu negociações com estaleiros no Brasil para contratar a construção de quatro navios de grande porte dedicados ao transporte de minério de ferro. Mas a menos de um mês do prazo final para a entrega das propostas, em 15 de outubro, a empresa ainda não recebeu nenhuma oferta. O Estaleiro Atlântico Sul (EAS), de Suape (PE), principal candidato a construir as embarcações, informou à mineradora que está com a capacidade de produção ocupada até 2013. A Vale quer ter uma frota montada até essa data.
A contratação dos navios se insere em estratégia da Vale para transportar minério de ferro a baixo custo para a China. Com esse objetivo, a empresa vai criar uma frota dedicada que inclui embarcações próprias e afretadas a longo prazo. A empresa gostaria de ter essa frota montada até 2012-2013, disse Humberto Freitas, diretor de operações logísticas da Vale.
Freitas disse que, em 2008, a mineradora já havia solicitado a algumas empresas propostas para a construção de navios em estaleiros brasileiros mas não obteve resposta. Recentemente, a empresa teve um encontro com estaleiros para discutir o assunto. A reunião foi intermediada pelo Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore (Sinaval). Tivemos uma reunião com o Sinaval e depois reafirmamos o interesse de construir (os navios) no Brasil, disse Freitas.
Em agosto, o Sinaval e a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) se queixaram ao ministro da Fazenda, Guido Mantega, de encomendas feitas pela Vale na China, segundo noticiado pelo Valor. O tema foi levantado em reunião do Grupo de Acompanhamento da Crise. A Vale reagiu às declarações e o clima esquentou. O inconformismo do Sinaval estaria no fato de que a Vale contratou na China a construção de 12 grandes navios, cada um com capacidade de carga de 400 mil toneladas, em uma encomenda de US$ 1,6 bilhão. O primeiro navio tem previsão de entrega no início de 2011 e os demais até o fim de 2012.
Os navios que agora a Vale tenta encomendar no Brasil têm a mesma capacidade de carga das embarcações chinesas. Em carta enviada no início deste mês ao presidente do Sinaval, Ariovaldo Rocha, o diretor de operações logísticas da Vale destacou a retomada das negociações. Sempre tivemos a firme intenção de viabilizar a construção desses navios em estaleiros brasileiros e nossa posição permanece a mesma, afirmou Freitas na carta. Rocha, do Sinaval, disse que o mais importante foi que a Vale e os estaleiros começaram as conversas. Mas as discussões não são garantia de que se conseguirá chegar a um acordo comercial.
Entre as seis empresas que participaram da reunião da Vale ou que receberam a solicitação de proposta da empresa para a construção dos navios, duas não têm interesse na encomenda. É o caso da Odebrecht e do estaleiro Keppel Fels, com instalações em Angra dos Reis (RJ). Ambos estão focados na área offshore, de construção de plataformas e sondas de perfuração para a indústria de óleo e gás. A Setal, que participou da reunião com a Vale, disse que ainda estuda a viabilidade da encomenda, mas é outra empresa cujo foco recai sobre o offshore, um negócio de maior valor agregado do que construir grandes navios graneleiros.
A W. Torre disse que recebeu o convite e ainda está analisando. E o Estaleiro Ilha S.A. (Eisa), do Rio, também estuda o assunto mas para construir os navios da Vale precisaria de um novo local. O estaleiro, controlado pelo grupo Synergy, de Germán Efromovich, tem projeto de construir novas instalações. Fontes do setor avaliam que o Estaleiro Atlântico Sul entraria em melhores condições nessa concorrência por ser uma construção nova e de tecnologia mais avançada.
O problema é que o próprio estaleiro já informou à Vale que não tem condições de atender à encomenda no prazo que a mineradora gostaria. Hoje o EAS tem contratos para construir 22 navios para a Transpetro, além do casco da plataforma P-55 da Petrobras. Procurado, o estaleiro não se pronunciou. Freitas, da Vale, indicou que o problema pode ser contornado: Se o estaleiro não pode (atender) hoje mas pode (fazê-lo) depois de 2013, vamos analisar.