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Para ABEEólica, Brasil precisará dar outros passos rumo à consolidação da geração eólica no mar associados aos custos, financiamento e a condições de desenvolvimento, a fim de viabilizar os projetos
A Associação Brasileira de Energia Eólica projeta que, após a regulação, o Brasil ainda precisará dar outros passos rumo à consolidação da geração eólica offshore, que estão associados aos custos, linhas de financiamento e a condições de desenvolvimento, a fim de viabilizar os projetos e preparar a cadeia produtiva com antecedência. A avaliação da ABEEólica é que cada mercado tem sua característica específica e que a demanda vai se diferenciar, especialmente, pela capacidade de atendimento dessa cadeia.
“Temos visto, nos últimos anos, a tecnologia de eólica offshore escalando patamares de capacidade instalada pelo desenvolvimento de fatores como infraestrutura portuária e logística e maturidade na regulação”, comentou o head de energia eólica offshore na ABEEólica, Matheus Noronha, na última semana, durante o evento “Portos Verdes: Oportunidades de Parceria na Transição Energética”, promovido pelo Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), em parceria com o Consulado da Bélgica no Rio de Janeiro e a Prumo Logística.
Um dos pontos de atenção no mercado internacional é como os grandes bancos vão se posicionar para auxiliar no financiamento da descarbonização. Noronha cita relatório do Banco Mundial, com participação da ABEEólica, que recomendou ações de blended finance (financiamento misto, em tradução livre) e parcerias para endereçar essa agenda. A leitura é que as próximas conferências climáticas (COPs) serão fundamentais e que é possível criar um ambiente de mercado propício para o desenvolvimento.
Para a ABEEólica, a redução de custo da energia eólica passa por essas parcerias. De 2010 até 2023, o custo dessa energia caiu 63%, segundo dados da International Renewable Energy Agency (IRENA). Em 2023, a queda foi de 7% do custo das eólicas. Segundo Noronha, isso significa que a média dos demais mercados continua conseguindo comercializar esta fonte de energia a um valor e numa tendência que reduz o custo. “Se essa tecnologia continuar nesse passo de redução de custo, se tornará muito competitiva”, projetou.
O percentual do último ano levou em conta, entre outros fatores, que países como China diminuíram a média, mas tiveram uma curva de aprendizado no período. “Alguns países observaram que, se bidarmos somente olhando para critérios econômicos e financeiros, teremos risco em relação à tecnologia ascendendo a sua maturidade”, analisou. Noronha mencionou que leilões no Reino Unido utilizam mecanismo de apoio CfD (Contracts for Difference) para compensar valores e chegar a uma competitividade factível.
Outros exemplos, segundo ele, ocorreram em certames na Holanda e em outros países que adotaram o No Price Character (NPC) — critérios não precificáveis, como a concessão de áreas que auxiliavam na industrialização de regiões para a escala da tecnologia. “Isso faz com que consigamos diluir o custo de capital ao longo dos anos do projeto. É uma das coisas que poderia ajudar na maturidade”, sugeriu.
Para o head do segmento offshore da ABEEólica, os editais dos leilões de área no Brasil vão precisar ser ajustados conforme a maturidade da tecnologia. Ele comparou ao hidrogênio, que também possui questões similares em relação a eletrolisadores e aos materiais utilizados. “São provocações para que o governo e instituições entendam que é uma mescla de fatores: financiamento, preço da energia, regulação (…)”, ressaltou.
A ABEEólica enxerga que existem muitos passos a serem dados na descarbonização diante do compromisso que diversos países assinaram em acordos climáticos para alcançar NetZero até 2050. Noronha considera que parcerias entre governos e empresas serão essenciais para estruturar o arcabouço regulatório. Ele lembrou que o projeto de lei tramita desde 2017 e está em fase final, aguardando o relatório para sanção presidencial. Na pauta, acrescentou, estão projetos relacionados ao mercado de carbono e aos combustíveis do futuro. “Não é possível o Brasil se posicionar na transição energética sem aprovar essas pautas. É fundamental pelo horizonte da descarbonização e da reindustrialização”, apontou.
Fonte: Revista Portos e Navios