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Clippings - 04/11/09

Estado de Pernambuco pede terreno do estaleiro

Novo plano diretor de Suape prevê a utilização de 3 hectares do terreno do Estaleiro Atlântico Sul para construção de canal de acesso para outro estaleiro

A definição do novo Plano Diretor do Complexo de Suape poderá se transformar em mais um motivo de conflito na (já delicada) relação entre o governo de Pernambuco e o Estaleiro Atlântico Sul (EAS). Se for executado como está desenhado, o novo leiaute da zona portuária vai invadir parte da área do empreendimento e obrigar a diretoria a alterar o projeto. Suape solicita parte do terreno para abrir um canal de acesso com 350 metros de largura para atender a outro estaleiro (ainda virtual) capitaneado pelo consórcio Galvão Engenharia-Alusa, que vai ocupar um terreno de 100 hectares por trás do Atlântico Sul.

Fontes do mercado ligadas ao EAS comentam que a área solicitada pela diretoria de Suape está dentro da área de expansão que vai servir ao projeto de offshore do empreendimento. No local, já foi iniciado o estaqueamento para a construção de um cais e o empreendimento já entrou com um pedido adicional de financiamento no valor de R$ 150 milhões ao Fundo da Marinha Mercante.

Na semana passada tivemos reunião com a diretoria do estaleiro e o resultado foi positivo, minimiza o secretário de Desenvolvimento Econômico, Fernando Bezerra Coelho, enquanto fontes afirmam que o governo ameaça resolver a questão na Justiça, com um pedido de reintegração de posse do terreno que foi comprado pelo EAS. No mundo empresarial, o comentário recorrente é que o governo tem tratado bem os empreendimentos que ainda nem confirmaram implantação e desprestigiado empresas como EAS, M&G e Tecon Suape.

O que estamos pedindo é que, ao invés de seguir a linha limite de seu terreno, conforme está na escritura, o estaleiro mude o traçado, fazendo uma inclinação na largura que tem o canal, explica. Segundo o secretário, isso vai dar uma diferença de cerca de 3 hectares no terreno do EAS, que totaliza 156 hectares. O canal de acesso ficará entre o estaleiro e a Ilha de Cocaia. Como a ilha tem uma série de restrições dos órgãos ambientais e do patrimônio histórico, a saída mais fácil para o governo será fazer o corte dentro do terreno do estaleiro.

COCADA

Antes mesmo desse episódio do terreno, as relações entre o governo do Estado e o EAS têm se desgastado. A diretoria de Suape não conseguiu licitar as obras do acesso rodoferroviário ao empreendimento nem a dragagem do canal de acesso que precisa estar pronta até fevereiro do próximo ano para flutuar o primeiro petroleiro da encomenda da Transpetro, que será lançado ao mar. Interlocutores do governo do Estado têm comentado que, por pequenez política, o Tribunal de Contas do Estado está atrasando a licitação dessas obras.

Vez por outra, os executivos do estaleiro também são surpreendidos com a chegada às suas mesas de cocadas que são produzidas pelos moradores da Ilha de Tatuoca. O comércio de produtos como picolé, pipoca e docinhos dentro dos domínios do empreendimento é uma demonstração da difícil convivência de um negócio do porte do estaleiro com uma comunidade de pescadores. A situação expõe a população a perigos, em função da grande movimentação de veículos na obra e do tráfego de pedestres. O governo se comprometeu a construir uma agrovila para abrigar essas 51 famílias, mas as obras ainda estão em fase de terraplenagem.

A relação estremecida entre estaleiro e governo é um dos motivos apontados pelo mercado para os sócios do EAS estarem prospectando outras localizações para a construção de uma nova unidade naval. Na semana passada, durante um evento no Rio de Janeiro, Fernando Tourinho (um dos integrantes do conselho de administração) comentou que 17 localizações já foram prospectadas. Na história da indústria naval, a tradição tem sido a ampliação das plantas existentes, ao invés de bancar o custo de um novo empreendimento.

Questionado pela reportagem do JC sobre a intenção do EAS de investir em outro Estado, o governador Eduardo Campos comentou que gostaria que as empresas que optaram pelo Estado continuassem aqui. Briga regional já não é mais positiva para o Nordeste, desconversou, querendo dar uma conotação de que a saída seria um processo de descentralização e não uma insatisfação dos investidores.

O diretor de Engenharia e Meio Ambiente de Suape, Ricardo Padilha, afirma que os investimentos em infraestrutura no porto têm crescido. Em 2007 foram R$ 104 milhões, no ano seguinte chegaram a R$ 157 milhões e para 2009 estamos com uma previsão de R$ 450 milhões, calcula. Nos seus discursos, o governador tem destacado a grandiosidade dos investimentos no complexo. Em três anos vamos aplicar o equivalente a tudo o que foi aportado nos 30 anos de história do porto, disse Eduardo, durante o seminário Pernambuco Business, na última quinta-feira.

O JC procurou a diretoria do Atlântico Sul para comentar os assuntos, mas eles preferiram não se pronunciar, alegando que não gostariam de fazer a discussão crescer.