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Clippings - 03/02/11

Estaleiros querem exportar para garantir o futuro

Eufórico com a continuidade Lula-Dilma, o presidente do Sindicato Nacional da Indústria da Construção Naval (Sinaval), Ariovaldo Rocha, cita que, antes, nenhum governo destinou tantos recursos e deu tanta voz à construção naval.

Lula impôs uma política externa ridícula – com apoio ao Irí e pretensão de se resolver o conflito milenar de árabes e judeus – inchou a máquina estatal e não explicou o mensalão, mas, na área marítima, foi um grande sucesso – mais para a construção naval do que para a navegação.

Rocha admite o extraordinário êxito do setor nos últimos anos, mas não quer deitar sobre os louros. Afirma que a sustentabilidade da atividade só virá com a exportação.

– Os estaleiros tiveram grande sucesso na década de 70 e depois entraram em crise. Não queremos que isso se repita e achamos que a exportação é que nos dará plena eficiência e garantia de mercado mais amplo – destaca Rocha.

Para ele, essa sustentabilidade virá do chamado “Triângulo de Ouro”, formado pelo próprio Brasil – com o pré-sal, mais Golfo do México e costa Oeste da África. As encomendas do mercado interno praticamente garantem os estaleiros até 2020, mas antes disso já se planeja ação visando a ativas vendas externas.

Em relação aos preços praticados no mercado interno, Rocha tem dois argumentos. O primeiro é o de que, através do sistema de suporte do Fundo de Marinha Mercante, o valor pago pelos armadores é compatível com o mercado mundial. O segundo é que a construção naval quase fechou as portas e sua recuperação tem um custo inicial que não pode ser esquecido; portanto, os navios presentemente encomendados têm custo maior para suas primeiras unidades e valores descendentes para os seguintes.

Lembra que, em 2002, a construção naval somava 1.900 empregos – quase todos nos estaleiros Eisa e Promar Niterói (hoje STX)- e que não havia perspectivas e, portanto, o número fatalmente chegaria a zero. Hoje, há 238 obras em execução e as encomendas em carteira somam US$ 6 bilhões. Para o fim de 2011, Rocha estima carteira de encomendas próximas a US$ 10 bilhões. Para isso, leva em conta que serão encomendados alguns dos 21 navios-sonda projetados pela Petrobras; as plataformas P-58 e P-62, e parte dos 39 navios de armadores privados, contratados pelo sistema EBN.

No momento, entre as principais obras dos estaleiros, destacam-se os 49 navios da Transpetro e algumas plataformas, como P-63 e P-55.

Rocha lembra que um êxito recente foi a edição, pelo Ministério do Trabalho e Emprego, da NR 34, conjunto de normas sobre construção naval, obtido através de ação de governo, empresários e trabalhadores. Até agora, eram aplicadas normas da construção civil, absolutamente díspares em relação às condições dos estaleiros. Citou também que o estaleiro Eisa tem feito exportações, mas que se planeja estender essa linha a outros estaleiros, em razão de a exportação induzir o setor a ser cada vez mais eficiente.

Além da atual boa situação do setor, o pré-sal surge como nova era de obras para a construção naval, que alguns chegam a chamar de Eldorado. Destaca que serão necessárias inúmeras plataformas, sendo que cada uma requer de quatro a cinco barcos de apoio para sua operação. De forma genérica, Rocha estima que, dos R$ 140 bilhões a serem aplicados pela estatal até 2014 – para entrega até 2016 – a construção naval deverá reter de 30% a 40% desses valores. O número de plataformas semi-

submersíveis a serem encomendas a médio prazo é de dez unidades.

A atual capacidade de processamento de aço da construção naval é de 600 mil toneladas anuais, que deverá ser duplicada até 2012. Entre os novos estaleiros anunciados, citam-se OSX, do grupo de Eike Batista, que saiu de Santa Catarina para o Rio de Janeiro; Alusa-Odebrecht, na Bahia; Ebasa, no Rio Grande do Sul; STX-Promar, em Pernambuco e Corema, na Bahia.

Em relação a armadores que alegam haver desinteresse dos estaleiros, Rocha responde:

– Isso é folclore, de gente interessada em se beneficiar do afretamento de unidades estrangeiras. Veja-se que a brasileira Log-In está encomendando uma série de navios ao Eisa, sem problemas de preço e prazo de entrega. Quem quer mesmo encomendar, consegue, mas há quem encomende apenas pelos jornais.

Lembra ainda que, em relação ao projeto EBN, outros armadores estão fazendo encomendas, como a Pan Coast com o estaleiro Rio Nave.

– No Brasil de hoje, o estaleiro não está mais 100% disponível para o cliente, como no auge da crise. Hoje, há que se negociar a necessidade do comprador com a produção industrial do estaleiro – frisa. Em um ponto Rocha admite carência: reparos navais.

Diz que a atual capacidade não tem condições de atendimento pleno à demanda e, para isso, será necessária expansão e instalação de novos estaleiros, sejam totalmente vinculados a reparos ou parcialmente destinados a esse segmento.

Ariovaldo Rocha trabalhou na equipe do antigo estaleiro Mauá com o líder da construção naval, Paulo Ferraz e cita sua frase de que estaleiro é como bicicleta, precisa-se pedalar sempre para não cair. A pedalada do estaleiro está em novas encomendas.

– Fala-se muito na volta da crise aos estaleiros, mas há que se ver que nenhum governo quer desemprego. Além disso, o país se defronta com um comércio exterior enorme e crescente e, atualmente, há um déficit de fretes em torno de US$ 15 bilhóes anuais. Com um pouco de bom-senso se vê que o país precisa de navios próprios – destaca, além de plataformas de petróleo.

Comenta que, na euforia dos anos 70, a procura era induzida pelo sistema e, agora, é natural, decorrente de demanda firme.

Mas admite: “ Não existe construção naval sem apoio de governo. O setor não é como comércio varejista, em que abre-se o estabelecimento e o público começa a comprar. A construção naval está vinculada a política estratégica, tanto no Brasil, como nos Estados Unidos, na Europa, no Japão e na China.

– Se os próximos governos mantiveram a atual política, nosso futuro será róseo. Os próximos governos não têm o direito de deixar de lado a construção naval, essencial para a indústria, importante para dar suporte à navegação e reduzir o déficit de fretes e gerar empregos, seja nos estaleiros como na indústria de peças e equipamentos.