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Clippings - 13/07/09

Estatal venezuelana exige novo contrato com estaleiro brasileiro Eisa

Em meio ao risco de simplesmente perder uma encomenda de US$ 670 milhões para construção de petroleiros para o governo da Venezuela, executivos do Estaleiro Ilha S.A. (Eisa) devem concluir nesta semana a renegociação dos novos termos do contrato firmado em 2006 com a Petroleos de Venezuela S.A. (PDVSA). Os entendimentos com a estatal venezuelana que chegaram a suscitar boatos de calote no tradicional estaleiro carioca deverão resultar, na prática, não só em novos prazos de pagamento, mas também na remodelagem tecnológica das encomendas. Se, antes, o contrato previa a construção de oito petroleiros do tipo Panamax, além de duas embarcações para transporte de derivados, agora prevê a encomenda de sete navios de derivados e só três petroleiros.

Às voltas com a queda dos preços do petróleo no mercado internacional desde o ano passado, a PDVSA deu início, no fim de 2008, à renegociação do contrato firmado em 2006. As conversas, de acordo com interlocutores do setor, chegaram a gelar executivos do Eisa. Na semana passada, no entanto, técnicos do estaleiro praticamente concluíram a renegociação dos pontos finais do contrato as características técnicas de cada embarcação. A renegociação, de acordo com executivos do Eisa, readequou os projetos à nova realidade de um setor que, em todo o mundo, vive um coquetel de problemas capaz de torpedear a confiança do mais otimista dos empresários.

A depreciação do barril que chegou ao pico de US$ 140 em junho do ano passado produziu uma onda de problemas para a indústria naval que inclui não só a superoferta de embarcações, como também a suspensão unilateral de contratos, baixos custos de frete e dificuldades de financiamento bancário. Em vias de quebrar, muitos fundos especializados em investir em embarcações para o mercado de curto prazo (spot) simplesmente cancelaram, também de forma unilateral, encomendas principalmente para estaleiros asiáticos. O mesmo fez a petroleira venezuelana, em 2008, que só não cancelou os contratos com o Eisa e um estaleiro argentino por compromisso político dos presidentes Hugo Chávez, Luiz Inácio Lula da Silva e Néstor Kirchner.

Produtos claros
Executivos do estaleiro envolvidos nas conversas fazem questão de minimizar tanto o risco de calote como também a responsabilidade da PDVSA.

A despeito do susto com o fantasma do calote, o próprio diretor comercial do Eisa, Jorge Gonçalves, admite que, dos males, o menor: apesar da dilatação do prazo em pelo menos seis meses para construção dos navios e da postergação das parcelas de pagamento, a renegociação aumentou o custo do contrato em cerca de US$ 30 milhões. Se antes envolvia cerca de US$ 670 milhões, agora deverá ser ampliado para algo em torno de US$ 700 milhões.

Houve, sim, problemas lá atrás, no fim do ano passado, mas isso está sendo resolvido de forma amigável e negociada minimiza Gonçalves. Nesse meio tempo, o máximo que tivemos que fazer foi reescalonar outras encomendas do nosso estaleiro, de modo a construirmos outras embarcações, como as encomendadas pela Log in (o braço de logística da Vale S.A.).

Dos 10 navios originalmente concebidos, oito seriam utilizados para a exportação do petróleo cru produzido na Venezuela hoje o maior produtor da região. Outros dois seriam destinados ao transporte dos chamados produtos claros, derivados como gasolina, nafta e óleo diesel. A intenção era aproveitar a oportunidade aberta pelas altas cotações do barril de petróleo. Com a crise mundial, no entanto, a empresa simplesmente cancelou encomendas para estaleiros da China e Europa.

Depois de diversas viagens de executivos do Eisa para Caracas, decidiu-se pelas novas encomendas. Uma das cláusulas do contrato não foi modificada, como ressalvou Gonçalves: a que prevê a transferência da tecnologia de construção para estaleiros venezuelanos. Hoje, um dos petroleiros já se encontra em fase de conclusão, com previsão de entrega no início do próximo ano. Do tipo Panamax (classificação que lhes assegura calado para atravessar o Canal do Panamá), as embarcações vão dividir o lote com navios para claros que deverão dispor, em média, de capacidade para transporte de 43 mil toneladas de derivados.

Pelo contrato, cabe ao Eisa construir as embarcações, enquanto ao estaleiro Mauá, de Niterói, foi conferida a responsabilidade pelo treinamento de técnicos venezuelanos a transferência de tecnologia propriamente dita. Contratados em consórcio, os dois estaleiros fazem parte do Sinergy Group, a holding do empresário boliviano German Efromovich. Hoje, só a carteira do Eisa inclui 16 encomendas de US$ 1,5 bilhão, no total. Além das 10 embarcações para a PDVSA, também inclui cinco outros para a Log in e mais um para a petroleira argentina Ultrapetrol. Também vão fazer outros quatro Panamax para a Transpetro, a subsidiária de transporte da Petrobras. Os navios foram arrematados, em 2004, originalmente pelo consórcio Rio Naval, também do Rio, que não conseguiu, no entanto, local para construí-los.

Até o fechamento desta edição, o JB tentou sem sucesso contato com escritório da PDVSA.

Encomendas amortecem impacto da crise no Brasil

O próprio Gonçalves admite um cenário nebuloso para o setor naval mundial, apesar da carteira de encomendas que assegura ao Eisa ocupação pelo menos até 2011. Atualmente com 3 mil empregados diretos e outros 1 mil indiretos ? contratados de empreiteiras, o estaleiro da Ilha do Governador vai disputar, no fim de agosto, a licitação de quatro navios gaseiros, incluídos na última etapa do Programa de Expansão e Modernização da Frota da Transpetro (Promef) que, até o fim do ano, vai ser responsável pela contratação de 49 navios de grande porte junto a estaleiros nacionais.

Tanto o diretor do Eisa quanto outros executivos do setor, que pediram para não ser identificados, atribuem a tais encomendas condições de assegurar uma travessia segura à indústria naval do país pelo menos até 2015. Só assim, de acordo com os executivos, será possível passar ao largo da crise que já começou a se desenhar no setor naval mundial, com o estouro de uma espécie de bolha de encomendas desde que o petróleo começou a despencar no terceiro trimestre do ano passado.

Os estaleiros asiáticos estavam supercontratados com encomendas de embarcações pela modalidade asset playing, por meio da qual fundos de investimento especializados no setor encomendavam a embarcação, antes, para alugar depois explica Gonçalves. Quando os preços do petróleo caíram, ocorreu a redução do transporte de petróleo e derivados. Com isso, muitos fundos simplesmente começaram a quebrar, por não ter para quem afretar os petroleiros. Dessa forma, vários deles simplesmente suspenderam as encomendas de novos navios cujos estaleiros já haviam começado a construir.

Como consequência, explica o diretor do Eisa, uma cadeia de lucros começou a ir por água abaixo, ao levar fundos, estaleiros e armadores a pique. A existência de encomendas por um cliente estatal, do porte da subsidiária da Petrobras, amortece o impacto da bolha sobre os estaleiros brasileiros.(Fonte: , Jornal do Brasil/Ricardo Rego Monteiro)