Se o momento de crise mundial do setor já é propício para o aumento de operações de fusão e aquisição, no Brasil não tem sido diferente. Aproveitando os efeitos da operação Lava Jato, o real desvalorizado e economia fragilizada, empresas internacionais estão ampliando seus negócios no país; do E&P ao downstream, passando pela engenharia.
Petroleiras como a Statoil e a Karoon são dois bons exemplos. A primeira comprou a participação da Petrobras no bloco BM-S-8, onde está a descoberta de Carcará, no pré-sal da Bacia de Santos. A companhia pagou US$ 2,5 bilhões pela transação,o que gerou críticas por supostamente se tratar de um preço baixo pelo acesso a um volume recuperável de até 1,3 bilhão de boe.
Já a companhia australiana negocia com a Petrobras a compra dos campos de Baúna e Tartaruga Verde, nas bacias de Campos e Santos, respectivamente. Se adquiridos pela empresa, os campos se tornarão seus primeiros ativos de produção no mundo.
A canadense Brooksfield, por sua vez, comprou a Nova Transportadora do Sudeste (NTS) — dona de uma malha de gasodutos de 2,5 mil km — por US$ 5,19 bilhões, abrindo caminho para a ampliação de gasodutos e expansão do mercado de gás natural no país.
Enquanto no segmento de E&P e no downstream a tendência é de pulverização, com a Petrobras tendo que desinvestir para se recuperar financeiramente, na área de engenharia o movimento esperado é de concentração, com grandes players absorvendo empresas de menor porte, muitas das quais sofrem com a falta de encomendas no setor.
Nesta sexta-feira (21/10), a Aker Solutions anunciou a compra de 70% da brasileira C.S.E. Mecânica e Instrumentação. Segundo a norueguesa, a compra é parte de sua estratégia de expansão de serviços em mercados internacionais centrais para a companhia.
O acordo inclui a opção de compra dos 30% restantes da empresa, três anos após o fechamento da transação, que está previsto para o primeiro trimestre de 2017. As empresas não divulgaram o valor da transação.
Com receita de R$ 322 milhões em 2015, a C.S.E. fornece serviços de manutenção, montagem, comissionamento e operação de guindastes e instalações offshore e onshore. “A aquisição dá à Aker acesso ao promissor mercado de serviços para campos de óleo e gás no Brasil”, declarou a empresa norueguesa.
Com sede em Pinhais, no Paraná, a C.S.E. tem 2.300 funcionários em unidades distribuídas pelo Brasil. O backlog da companhia, que presta serviços para a Petrobras, é avaliado em R$ 855 milhões. Sua fábrica em Rio das Ostras (RJ) está próxima da unidade de serviços local da Aker.
Os donos C.S.E., o CEO Altair Dietrich e o CCO Luiz Joanello, permanecerão na companhia, que será mantida como entidade legalmente separada com uma diretoria formada por funcionários de ambas as companhias.
Outro caso recente de entrada de capital estrangeiro na engenharia nacional internacional é o do grupo francês Entrepose, que comprou a Intech Engenharia. A empresa brasileira, que já tinha um histórico de atuação com o Entrepose em projetos perfuração horizontal direcional, ficará na divisão de drilling da companhia.
O grupo francês pertence ao conglomerado Vinci, que já opera no país por meio da Vinci Energies do Brasil e duas de suas subsidiárias, a Actemium (antiga Cegelec) e a Omexom (antiga Orteng).
“Como integrante da Entrepose, a INTECH dá um salto significativo, ao ganhar musculatura financeira para ampliar seus negócios, principalmente na América Latina”, avalia Carlos Pimenta, Diretor Superintendente da INTECH Engenharia.
Para o presidente da Associação Brasileira da Engenharia e Construção Onshore, Offshore e Naval, Maurício Almeida, as operações não são fatos isolados e podem ser vistas como efeito da Operação Lava Jato — já que grandes empreiteiras estão impedidas de fechar novos contratos com a Petrobras e passam por dificuldades financeiras –, além de um real enfraquecido diante do dólar.
“Existe essa tendência (de entrada de estrangeiras na engenharia nacional). Vemos isso como positivo para os profissionais no país”, diz Almeida.
A percepção é que o momento é bom para fusões e aquisições no país, que, por estar com a economia enfraquecida, apresenta oportunidades de negócios com preços atrativos. A expectativa é que o mercado de engenharia no setor petróleo fique cada vez mais concentrado, já que não há mais espaço para tantos players.
“Essa consolidação é salutar, pois é um indicativo de retomada. Sinal de que essas grandes companhias estão se posicionando para a retomada e que, portanto, faz sentido investir no país neste momento”, observa o vice-presidente da sede Regional do Rio de Janeiro da Abimaq, Marcelo Campos.