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Clippings - 23/09/24

Expansão de terminais e aumento na demanda por combustíveis impulsionam crescimento de quase 40% nas manobras

Em 2023, as operações de ship-to-ship (STS) no Brasil atingiram um novo patamar, refletindo o crescimento do mercado de exportação de petróleo e a crescente demanda por importação de gás para geração térmica. Com um aumento expressivo de quase 40% no número de manobras, empresas como Transpetro e Vast Infraestrutura destacam-se pela expansão de suas operações em portos estratégicos e mar aberto.

As operações ship-to-ship (STS), que envolvem a transferência de carga de um navio para outro em mar aberto, têm se mostrado altamente rentáveis tanto no Brasil quanto internacionalmente. No Brasil, essas operações vêm crescendo significativamente, impulsionadas por um aumento nas exportações de petróleo e na importação de gás para geração térmica. Só em 2023, houve um crescimento de quase 40% no número de operações STS no país, devido à ampliação de terminais e à demanda crescente por combustíveis​.

De acordo com dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), diversas empresas brasileiras estão autorizadas a realizar operações de transbordo entre embarcações, de acordo com a Resolução ANP 811/2020, nas modalidades “Atracadas” e “Fundeadas”. Na modalidade “Atracadas”, que envolve operações em portos ou terminais, estão autorizadas as seguintes empresas: Porto Sudeste do Brasil S.A., em Itaguaí (RJ), autorizada sob o número 219/2024; Petrobras Transporte S/A – Transpetro, em São Gonçalo do Amarante (CE), com autorização número 202/2024; e outras unidades da Transpetro em Fortaleza (CE), São Luís (MA), Rio Grande (RS), Ipojuca (PE), São Sebastião (SP) e Angra dos Reis (RJ). Além disso, a Braskem S.A., em Rio Grande (RS), e a Vast Infraestrutura S.A., em São João da Barra (RJ), também estão autorizadas nessa modalidade.

Na modalidade “Fundeadas”, que ocorre entre embarcações ancoradas em áreas específicas, as empresas autorizadas incluem Navemazônia Navegação Ltda., para operações em Novo Remanso, Itacoatiara e Manaus (AM), sob a autorização 807/2023; Transpetro, em Coari e Itacoatiara (AM), com a autorização 664/2023; e Navemestra Serviços de Navegação Ltda., no Rio de Janeiro (RJ), autorizada sob o número 1006/2022. Karpowership Brasil Energia Ltda., em Itaguaí (RJ), e outras operações da Transpetro na Baía de Todos os Santos (BA) e em Manaus, Codajás e Novo Remanso (AM), também possuem autorizações específicas para a modalidade “Fundeadas”.

De acordo com a  Diretoria de Portos e Costas da Marinha, em 2023 o número de operações ship-to-ship alcançou seu pico, com 119 operações em mar aberto e 899 em áreas portuárias. Comparando com 2022, houve um crescimento expressivo de aproximadamente 28% nas operações em mar aberto e 9% nas áreas portuárias, consolidando um aumento significativo em relação ao ano anterior. Mesmo com uma leve queda em 2022, os números de 2023 superaram os de 2021, refletindo um aumento constante na demanda por essas operações.

A Transpetro, subsidiária da Petrobras, em 2023 ampliou significativamente suas operações de STS no Brasil, superando recordes anteriores. A empresa concluiu 873 manobras de transferência direta de produtos entre navios, um aumento expressivo de 33,3% em relação ao ano anterior. 

A empresa opera em 11 localidades ao longo do Brasil, incluindo Coari, Manaus, Codajás, Itacoatiara, São Luís, Mucuripe, Suape, Baía de Todos os Santos, Angra, São Sebastião e Rio Grande. Essas operações representaram 70% do total das atividades de STS no Brasil em 2023. Entre os principais clientes da Transpetro estão empresas dos setores de óleo, gás e petroquímica.

O diferencial destacado pela Transpetro nas operações STS reside na sua capacidade técnica e na segurança operacional. A empresa oferece soluções logísticas que proporcionam maior previsibilidade e confiabilidade, resultando em eficiência para os clientes. Essa estratégia permite ganhos de escala, principalmente ao utilizar navios de maior porte, o que pode reduzir os custos de transporte no modal marítimo em até 30%.

O crescimento da produção de petróleo no Brasil aponta para uma tendência de aumento na demanda por operações ship-to-ship nos próximos anos. A Transpetro, atenta a essa evolução, informa estar preparada para expandir suas atividades nesse segmento.

De acordo com a Diretoria de Portos e Costas (DPC) da Marinha, as operações ship-to-ship realizadas em mar aberto representam aproximadamente 10% das operações anuais totais ao longo da costa brasileira. As áreas autorizadas para essas operações estão estrategicamente localizadas ao sul do litoral do estado do Rio de Janeiro e a leste do litoral do estado da Bahia, permitindo uma cobertura eficiente das regiões mais demandadas.

Essas operações STS, essenciais para a transferência de carga entre navios em alto-mar, incluem a operação de “bunkering”, que é a transferência de óleo combustível para o consumo das embarcações. Tradicionalmente, esse processo era realizado exclusivamente por chatas, mas, atualmente, embarcações especializadas também estão habilitadas para esse tipo de serviço, ampliando a eficiência e a capacidade das operações de abastecimento marítimo.

Desde o início da operação Double-Banking no segundo semestre de 2022, o Porto Sudeste tem ampliado significativamente suas operações de ship-to-ship. O Double-Banking, que envolve a atracação de dois navios lado a lado para a transferência direta de carga ou passageiros, sem a necessidade de descarregar no cais, tem permitido uma maior eficiência nas operações do porto.

Com o aumento da demanda no mercado e a variabilidade dos fretes de navios-tanque, o terminal está planejando expandir seu portfólio de movimentação de granéis líquidos, incluindo a recepção de navios da classe VLCC em meia carga, projeto que atualmente se encontra em fase de estudo. Além disso, investimentos futuros estão sendo considerados para a construção de dolfins de atracação, reforçando ainda mais a infraestrutura do porto para suportar o crescimento contínuo das operações de STS.

No mercado brasileiro, o Porto Sudeste tem se destacado como uma alternativa logística de alto desempenho para a exportação de petróleo, especialmente no escoamento do petróleo produzido nos campos offshore da Bacia do Pré-sal. 

“Um dos principais gargalos no Brasil é justamente a logística para escoamento do petróleo produzido nos campos offshore, principalmente na bacia do pré-sal em águas profundas, nas quais o alívio em navios DP (“Dynamic Position”) são requeridos. O Porto Sudeste se apresenta como uma alternativa logística de alto desempenho para a consolidação e exportação de petróleo por meio da operação Double-Banking”, relatou o Porto Sudeste.

Em termos de operações, o porto projeta dobrar o número de operações STS realizadas em 2024 em comparação com o ano passado. O terminal alcançou um índice notável na prancha média operacional, com uma movimentação de 5.845 toneladas por hora de granéis líquidos.

Com o crescimento significativo da produção de petróleo no Brasil, a empresa prevê um aumento contínuo na demanda por operações STS nos próximos anos. As projeções indicam que o volume de exportação de petróleo deve triplicar até 2029, com o Brasil se posicionando como um importante fornecedor para os mercados da Ásia, Europa e Estados Unidos.

O Porto Sudeste destaca a Baía de Sepetiba, localizada no litoral sul fluminense, como uma região com grande potencial para as operações STS, devido às condições meteoceanográficas favoráveis e à proximidade com as áreas de extração das plataformas da Bacia de Santos, responsável por quase 90% da produção de óleo cru do pré-sal.

A Vast Infraestrutura, operadora do terminal privado no Porto do Açu, é destaque no mercado de exportação de óleo bruto no Brasil. Segundo dados da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) divulgados em agosto de 2024, a empresa lidera o setor, responsável por 50,2% da movimentação nos terminais de exportação de petróleo do país, com 13,6 milhões de toneladas movimentadas no ano e um crescimento de 1,3% em relação a 2023. Em um cenário nacional de declínio de 0,55% na movimentação de óleo bruto, a Vast registrou um crescimento de 0,9%, ocupando a segunda posição no mercado, com 27,1 milhões de toneladas movimentadas.

A empresa tem se destacado como o único terminal privado no Brasil a realizar operações de transbordo em águas abrigadas. Em 2024, a Vast realizou aproximadamente 120 operações de transbordo até agosto, movimentando cerca de 13,6 milhões de toneladas de óleo bruto apenas no primeiro semestre.

Com uma infraestrutura moderna e licenciada para movimentar até 1,2 milhão de barris de petróleo por dia, a Vast projeta um crescimento contínuo nas operações de ship-to-ship (STS) no Brasil. O país, atualmente com uma produção de cerca de 3,5 milhões de barris de petróleo por dia, deve alcançar cinco milhões de barris diários até 2030, conforme estimativas de mercado. A Vast, que já é responsável por cerca de 40% de toda a exportação de petróleo nacional, espera acompanhar esse crescimento nos próximos anos.

Entre os principais clientes da Vast estão dez das maiores operadoras de óleo e gás presentes no Brasil: BW Energy, PRIO, Petronas, CNOOC, Equinor, Galp, Petrobras, PetroChina, Shell e TotalEnergies. A empresa se destaca no mercado não apenas pela capacidade operacional, mas também pela localização estratégica de seu terminal, próximo aos principais campos produtores de petróleo das bacias de Campos e Santos, além das condições favoráveis proporcionadas por suas instalações, que incluem três berços de atracação e suporte de infraestrutura portuária.

Com o aumento da produção de petróleo e a demanda crescente por operações seguras e eficientes, a Vast continua investindo na expansão e modernização de suas operações. Além do foco atual no transbordo de petróleo, a empresa está desenvolvendo novos projetos voltados para o armazenamento e movimentação de líquidos, em resposta às mudanças globais no setor energético.

No Brasil, várias operações de ship-to-ship (STS) são realizadas em portos estratégicos, como os portos de Santos, Paranaguá, e Suape. Essas operações são fundamentais para a logística de commodities, especialmente em regiões onde a infraestrutura portuária pode ser limitada para grandes embarcações atracarem diretamente nos terminais.

Contudo, o STS enfrenta desafios como, por exemplo, aperfeiçoamento na regulamentação para garantir a segurança ambiental e operacional, devido ao risco de derramamentos de óleo e outros acidentes. Além disso, as operações de STS demandam uma infraestrutura adequada e a capacitação constante das equipes envolvidas, o que muitas vezes esbarra em limitações técnicas e financeiras, especialmente em portos menores.

O governo brasileiro tem investido na modernização e expansão da infraestrutura portuária, com o objetivo de aumentar a capacidade e a eficiência das operações portuárias, incluindo STS. Entre 2024 e 2026, estão previstos investimentos de R$ 14,5 bilhões em concessões e arrendamentos de terminais portuários. Esses investimentos buscam, entre outras coisas, melhorar as condições para operações de STS, além de promover a segurança e a sustentabilidade das atividades portuárias.

Além disso, há projetos específicos, como a concessão do canal de acesso do Porto de Paranaguá, que tem como objetivo melhorar a infraestrutura necessária para operações portuárias complexas, incluindo as operações STS, e garantir que o Brasil continue competitivo no cenário global.

Em 2022, a Associação Brasileira de Terminais de Líquidos (ABTL) enviou duas cartas ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), sugerindo a atualização da Instrução Normativa 16/2013. Esta normativa regulamenta as operações de transferência de petróleo e derivados em alto-mar, conhecidas como operações ship-to-ship underway. Com a previsão de que até 2031 dois terços da produção nacional de petróleo sejam destinados à exportação, segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), espera-se um aumento dessas operações.

Esta modalidade é complexa e demanda rigorosas medidas de segurança e prevenção para evitar acidentes e impactos ambientais. As principais medidas incluem a inspeção prévia das embarcações envolvidas, o uso de equipamentos de contenção para prevenir derramamentos e a realização de treinamentos regulares para as equipes operacionais. Além disso, é essencial o monitoramento contínuo das condições meteorológicas e marítimas, além da manutenção rigorosa dos equipamentos de comunicação entre as embarcações para garantir uma coordenação eficaz durante toda a operação.

Em outubro de 2021, a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) aprovou a Resolução nº 59/2021, que estabeleceu novas diretrizes para as operações STS. Essa resolução foi fruto de análises iniciadas em 2018 e inclui a obrigatoriedade de as Empresas Brasileiras de Navegação (EBN) reportarem à Antaq dados mensais sobre movimentação e tempo de permanência nas áreas de transbordo. Esta regulamentação busca suprir lacunas anteriores e promover maior controle sobre essas atividades.

Além da Antaq, outras entidades reguladoras, como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), com a Instrução Normativa nº 16/2013, e a Marinha do Brasil, através da Normam nº 08/DPC, também desempenham papéis na supervisão desta modalidade. Essas normas abordam desde questões ambientais até procedimentos operacionais, garantindo que as operações ocorram dentro dos padrões internacionais de segurança e sustentabilidade​. 

A evolução das modalidades de operações STS no Brasil também é notável. As operações com navios fundeados, atracados (conhecidas como double banking) e em movimento têm sido aprimoradas, com a incorporação de novas tecnologias e práticas operacionais mais seguras. Esses avanços são parte de um esforço contínuo para adaptar as operações às condições específicas das águas brasileiras, onde desafios como correntes marítimas e condições climáticas podem influenciar diretamente na segurança das manobras. 

Fonte: Revista Portos e Navios