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Clippings - 25/01/24

ExxonMobil e Pioneer: entenda o que a fusão significa para o mercado de petróleo

Cinco previsões para o petróleo e gás natural em 2024, segundo a consultoria Wood Mackenzie. Na imagem: Sonda da Pioneer Natural Resources perfura poço de gás não-convencional, o shale gas, na Bacia do Permiano, nos Estados Unidos (Foto: Divulgação)

Sonda da Pioneer perfura poço de gás não-convencional, o shale gas, na Bacia do Permiano, nos EUA (Foto: Divulgação)

A fusão da ExxonMobil com a petroleira independente americana Pioneer Natural Resources anunciada nesta quarta-feira (11/10) deve mudar o cenário da indústria de petróleo nos Estados Unidos e impactar outros mercados.

O negócio, estimado em US$ 60 bilhões (R$ 300 bilhões) mostra o interesse das grandes empresas do setor na produção não-convencional americana – o shale gas ou gás de xisto – e pode gerar a uma nova onda de fusões e aquisições na região, dizem analistas. 

Caso a fusão seja concluída, será a maior aquisição da ExxonMobil neste século– desde a fusão com a Mobil em 1998 – e a petroleira passará a ser a maior produtora do shale americano, com 15% da extração total da região. Hoje, a companhia tem 9% de participação nesse mercado. 

A Rystad Energy classificou a transação como “um negócio monumental que pode remodelar o cenário da bacia do Permiano”. Para a consultoria, a eventual aquisição vai mudar o perfil da produção no shale americano, que passará a ser um negócio consolidado e maduro. Este ano, a Chevron fez um movimento similar com a aquisição da PDC Energy, por US$ 6,3 bilhões.


Especialistas apontam que os movimentos reforçam as apostas de algumas das maiores petroleiras do mundo na retomada da expansão do portfólio de petróleo e gás. O cenário indica a expectativa de continuidade da demanda por combustíveis fósseis, mesmo em meio à transição energética

Entenda a seguir o impacto dessa aquisição para o mercado de petróleo.

O que é a Bacia do Permiano?

É a bacia sedimentar que se estende entre os estados americanos do Texas e Novo México e que concentra parte da produção não-convencional de petróleo e gás dos EUA. Foi essa região que catapultou o país ao ranking de maior produtor de petróleo do mundo ao longo da década passada.

Em 2022, a produção americana de petróleo totalizou 20,3 milhões de barris/dia, o que correspondeu a 21% da extração global, segundo a U.S. Energy Information Administration (EIA). 


A expansão na produção americana foi baseada, sobretudo, na atividade de empresas de pequeno e médio porte. Hoje, milhares de empresas desse tipo produzem na região, por meio da técnica de fraturamento hidráulico, que usa grande volume de água e produtos químicos para retirar o petróleo e o gás depositados em rochas. 

Quais são as empresas envolvidas?

Com atuação em 60 países e mais de 140 anos de existência, a ExxonMobil é hoje uma das maiores petroleiras do mundo. A companhia atingiu o porte atual por meio de uma fusão: a combinação entre os negócios da Exxon e da Mobil em 1999.

A produção global da companhia foi de 3,6 milhões de barris de óleo equivalente por dia no segundo trimestre de 2023. A empresa tem concentrado o aumento da produção sobretudo na Bacia do Permiano e na Guiana. 


Já a Pioneer nasceu em 1997, a partir da combinação entre duas petroleiras pequenas americanas, a Parker & Parsley e a MESA Inc. A companhia opera exclusivamente na Bacia do Permiano, onde registrou uma produção de 711 mil barris de óleo equivalente por dia no segundo trimestre de 2023.

Quais são as vantagens do negócio para cada empresa?

A Exxon tinha como meta atingir uma produção de 1 milhão de boe/dia na Bacia do Permiano até 2027. Após a fusão com a Pioneer, essa meta já é ultrapassada e o volume deve chegar a 2 milhões de boe/dia em 2027.

Além disso, a aquisição tem potencial para reduzir custos e aumentar a eficiência das operações da major americana, apontam os analistas de óleo e gás da Bloomberg Intelligence, Fernando Valle e Brett Gibbs. 

Eles lembram que os ativos da Exxon estão em uma área da bacia que tem restrições na infraestrutura de transporte e queima de gás natural, o que pode limitar o crescimento da produção da companhia. 


“Os ativos da Pioneer são contíguos e estão próximos à infraestrutura necessária, o que cria oportunidade de desenvolvimento a baixo custo”, disseram Valle e Gibbs em relatório.

O diretor em pesquisa em upstream da Wood Mackenzie para a América Latina, Marcelo de Assis, lembra ainda que o alto patamar do barril de petróleo hoje, na faixa de US$ 90, ajuda a tornar a operação mais atraente, pois o break even (preço de equilíbrio) na região do shale americano está entre US$ 40 e US$ 60. A ExxonMobil estima que seu custo na região será inferior a US$ 35/boe.

“São recursos já descobertos, em produção, que estão gerando caixa. Além disso, são ativos em território americano, lugar que a Exxon conhece e onde já tem produção, o que ajuda a reduzir os custos”, diz. 

A alta produtividade dos poços da Pioneer também pode contribuir para uma melhora nos custos das operações da Exxon. Os analistas apontam ainda que o momento é oportuno para a compra, pois o fluxo de caixa livre da Pioneer atingiu um rendimento semelhante ao das majors do setor, o que reduz os impactos negativos da transação no balanço da Exxon. 


Em termos financeiros, a Rystad estima que a aquisição tem potencial para ampliar a geração de caixa livre por barril produzido da Exxon na bacia já em 2024. A previsão é que a companhia, sozinha, geraria um fluxo de caixa livre de US$ 14,47 por barril de óleo equivalente produzido. O valor pode subir para US$ 16,95 com a fusão, estima a consultoria. 

Para a Pioneer, a fusão pode ajudar a empresa a lidar melhor com desafios enfrentados pela indústria atualmente nos EUA, como a inflação dos custos e a alta da taxa de juros, além do enfraquecimento da demanda por petróleo. A compra por uma empresa maior ajuda a reduzir despesas e a ter um fluxo de caixa livre estável, dizem os analistas da Bloomberg Intelligence. 

Quais são os possíveis impactos no mercado?

Um dos principais sinais que a operação passa ao mercado, dizem analistas, é o interesse das grandes empresas do setor por ampliar reservas de petróleo em uma região estável e conhecida do setor, como os EUA. 

Assis, da Wood Mackenzie, lembra que as majors americanas, como a ExxonMobil e a Chevron, não têm investido tanto em energias renováveis quanto as grandes companhias europeias.

“Essa operação sinaliza o fortalecimento dessa estratégia”, afirma. 


A combinação dos negócios entre a Pioneer e a Exxon e a consequente redução dos custos da produção na região do Permiano abre espaço também para a ampliação dos investimentos no shale americano, dizem os analistas da Bloomberg Intelligence. 

Além disso, o negócio entre a Exxon e a Pioneer pode levar a produção norte-americana a entrar em uma nova fase, com uma onda de fusões e aquisições. O crescimento da produção na região no começo da década de 2010 foi marcado por avanços tecnológicos e altos investimentos.

Desde 2019, a indústria tem focado na disciplina de capital. Os esforços nesse sentido reduziram as disparidades entre as métricas financeiras das pequenas e médias operadoras que produzem no shale e as grandes empresas do setor. 

A região vive uma mudança do cenário de crescimento acelerado para um negócio maduro, diz a Rystad. A aquisição da Pioneer pela Exxon seria uma nova etapa, marcada pela consolidação do mercado, com as grandes empresas do setor ampliando o portfólio de reservas que detém na região.

Empresas como Chevron, ConocoPhilips e Occidental Petroleum, que estão com balanços financeiros saudáveis, estão entre as candidatas a movimentos similares. 

Fonte: EPBR