– A ambiciosa construção de ferrovias de alta velocidade na China resultou em uma dívida de US$ 868 bilhões, mas o país parece determinado a seguir em frente.
O tema da dívida e das ferrovias surgiu em uma entrevista coletiva do Ministério das Relações Exteriores em outubro, quando o porta-voz Guo Jiakun foi questionado sobre as negociações para reestruturar a dívida da Indonésia referente ao seu serviço ferroviário de alta velocidade, apoiado por Pequim.
“É preciso ressaltar que, ao avaliar um projeto ferroviário de alta velocidade, além dos números financeiros e indicadores econômicos, também é necessário levar em consideração o benefício público e o retorno abrangente”, disse Guo.
A ferrovia de alta velocidade da Indonésia começou a operar há dois anos com apoio financeiro e técnico da China. Mas a receita das passagens ficou abaixo das projeções, levando a um aumento exorbitante da dívida.
As observações de Guo não se referiram especificamente ao projeto ferroviário indonésio, mas sim à ferrovia de alta velocidade em geral. Projetos ferroviários endividados também são um problema na China.
A dívida das ferrovias nacionais da China totalizou 6,19 trilhões de yuans (US$ 868 bilhões) no fim de junho, uma queda de apenas 0,2% em relação ao ano anterior, sendo a maior parte contraída pela operadora China State Railway Group.
Essa dívida decorre da enorme expansão da rede ferroviária de alta velocidade do país. Havia 48 mil quilômetros de linhas em operação no fim de 2024, segundo a Administração Nacional de Ferrovias, o triplo do nível registrado dez anos antes.
Em comparação, toda a rede de trens-bala Shinkansen do Japão percorre aproximadamente 3,2 mil quilômetros de trilhos. A China construiu o equivalente a toda a rede de trens-bala do Japão em cada um dos últimos 10 anos.
Mas o número de passageiros não acompanhou a expansão. Muitas estações permanecem praticamente vazias.
O turismo pode se beneficiar do acesso ferroviário, mesmo que a linha em si não seja lucrativa. O Monte Changbai, conhecido como Baekdu em coreano, fica na fronteira com a Coreia do Norte. A dificuldade de acesso fez do vulcão e de seu lago de de cratera de tirar o fôlego um tesouro escondido para turistas, mas uma estação de trem de alta velocidade foi construída ali há alguns anos.
Os moradores locais podem se orgulhar de saber que o trem de alta velocidade chegou às suas comunidades. A construção de infraestrutura ferroviária também contribui para o produto interno bruto.
Mas a transferência da dívida para as gerações futuras levanta questões sobre a sustentabilidade das ferrovias chinesas, mesmo com o apoio do Estado aos projetos.