As dificuldades financeiras da Quattor, controlada pela família Geyer, do Rio, por meio da holding Unipar, poderão levar a empresa às mãos da Braskem, abrindo caminho para a formação de praticamente um monopólio no setor petroquímico brasileiro.
Com a possível fusão, a empresa resultante da combinação dos ativos de Braskem e Quattor teria mais de 80% das vendas de resinas no país. O índice de concentração é superior ao obtido pela cervejaria AmBev (quase de 70%) e da compra da Sadia pela Perdigão (de 57% em carnes industrializadas a 88% em massas prontas), que resultou na criação da Brasil Foods.
Com a reorganização do parque petroquímico brasileiro nos últimos anos, com o suporte da Petrobras, que participa do controle de ambas as empresas, criou-se um duopólio no setor. Hoje, a Braskem e a Quattor respondem por 100% da oferta nacional de polipropileno, a resina utilizada desde autopeças a sacos para grãos. As duas juntas detêm 98,85% da produção nacional de polietileno, usado em embalagens, sacolas de supermercados e brinquedos.
Até agora, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) tem julgado o processo de concentração favoravelmente às petroquímicas, entendendo que o mercado relevante é o internacional, não impondo restrições às empresas. Hoje, a oferta de importados gira em 20% do mercado doméstico. A tarifa de importação varia de 12% a 14%.
A negociação envolvendo Braskem e Quattor foi admitida ontem pelas empresas em comunicado distribuído, em separado, ao mercado de capitais após a notícia ter sido publicada pelo portal da revista Exame. As empresas disseram, ao seu modo, que as conversas são preliminares e nada de concreto foi fechado. Ambas afirmam que podem firmar uma aliança estratégica, sem especificar o significado do termo.
Criada em junho de 2008, a Quattor, que controla ativos no Sudeste, parece não ter vingado. Sua dívida acima de R$ 6 bilhões tem sufocado sua estrutura de capital. A geração de caixa foi de R$ 192 milhões no primeiro semestre ante uma receita líquida de R$ 2,14 bilhões – margem operacional de 8,9%. Para reduzir a asfixia, a empresa precisaria de aporte estimado em R$ 3 bilhões até 2011.
A capitalização da Quattor terá de ser feita antes de o cenário petroquímico mundial piorar – o ciclo de baixa deve durar até meados da próxima década. Embora o mercado tenha se retraído fortemente desde o início da crise internacional, analistas avaliam que as novas fábricas petroquímicas que entram em operação no Oriente Médio e na China derrubarão ainda mais as margens no mundo todo este ano.
Com dificuldade de levantar dinheiro novo, a família Geyer tem sido pressionada pela Petrobras, sócia da Quattor com 40% do controle, a abrir mão da empresa, ficando com uma participação minoritária. A estatal saiu atrás de um sócio. A intenção era atrair a Reliance, mas houve resistência dos grupos privados em abrir a porta do mercado brasileiro para o maior grupo químico privado da Índia, segundo apurou o Valor. A opção Braskem, embora traga os riscos políticos de transformação de um monopólio na petroquímica, tem sido colocada pelo grupo Odebrecht como uma forma de salvar a Quattor como empresa nacional.
A crise na Quattor veio justo na hora em que a Braskem se prepara para a compra de ativos na América do Norte. Caso assuma agora os ativos da Quattor, a Braskem conseguirá antecipar em alguns anos sua meta de se transformar na maior petroquímica em produção das Américas, ficando pouco atrás da americana Dow Chemical, que produz 5,7 milhões de toneladas de resinas no continente. Com a Quattor, a Braskem produzirá 5,4 milhões de toneladas desse produto.(Fonte: Jornal do Commercio/RJ/André Vieira, de São Paulo)