A CarVal Investors, uma gestora de fundos de hedge com US$ 8 bilhões em ativos, está comprando bônus da produtora brasileira de petróleo OGX Petróleo & Gás, controlada por Eike Batista, depois que eles foram alvo da pior onda de vendas de títulos de mercados emergentes. Os papéis, que vencem em cinco anos, caíram 82 centavos por dólar em relação ao pico registrado em janeiro, para 16 centavos por dólar, a maior queda entre todos os títulos de mercados emergentes que fazem parte do índice Global Corporate High Yield Index do Bank of America.
É o menor preço do mundo para um bônus corporativo. O Crédit Suisse estima que a OGX, que tem US$ 3,6 bilhões em dívidas vencendo em 2018 e 2022, poderá ter em caixa US$ 13 milhões até o fim do ano. Investidores como a BlackRock, a maior gestora de recursos do mundo, vêm se desfazendo dos títulos de dívida da OGX, depois que a empresa de Eike não apresentou a produção de petróleo prometida. Mas Joseph Graf, um diretor-gerente sênior da CarVal, diz que os papéis estão subvalorizados.
A Greylock Capital Management, o fundo de hedge de Nova York que ajudou a negociar o swap da dívida da Grécia no ano passado, disse ontem que os bônus da OGX estão atraentes ao nível de preço atual. Abaixo desses níveis, temos uma situação muito interessante por causa da complexidade, dos regimes legais diferentes e do setor envolvido, disse Graf, que não quis fornecer detalhes sobre as posições que a CarVal tem na OGX.
A CarVal está tentando repetir o sucesso que teve ao investir em título de dívida de empresas em dificuldades financeiras, como o frigorífico brasileiro Independência e a fabricante mexicana de vidros Vitro AB, que, segundo Graf, vêm ajudando as estratégias de mercados emergentes desse fundo de Minneapolis a apresentarem um retorno anual líquido médio de 15,2% desde 1999.
Os investidores em dívidas de empresas com problemas financeiros, como a CarVal, agora representam a maioria dos compradores dos bônus da OGX, segundo Sam Aguirre, um diretor-administrativo sênior da firma de consultoria FTI Consulting. A FTI, juntamente com escritórios de advocacia como o Cleary Gottlieb Steen & Hamilton e o Bingham McCutchen, vem realizando reuniões com os detentores de bônus da OGX para discutir as leis de insolvência brasileiras.
Informes enviados entre fevereiro e abril às autoridades reguladoras mostram que a BlackRock vendeu cerca de US$ 160 milhões em títulos em dólar da OGX, pelo valor de face, nos seis meses anteriores, reduzindo suas posições em cerca de 70%, para US$ 69 milhões. Melissa Garville, porta-voz da BlackRock, não quis comentar as posições da companhia em OGX.
É uma compra arriscada, mas mesmo assim uma compra, disse Diego Ferro, diretor adjunto de investimentos da Greylock, que supervisiona US$ 500 milhões em títulos de dívida de emergentes. Mesmo na eventualidade de uma falência, o valor de recuperação parece maior que os atuais preços. É uma situação muito complicada e os preços parecem estar refletindo o pior cenário que se possa imaginar. Ele não quis dizer se a Greylock possui bônus da OGX.
Na sexta-feira, Eike escreveu um artigo para o Valor, no qual disse que vai honrar todas as suas obrigações, ao mesmo tempo em que atribuiu a culpa pelo fracasso da OGX em atingir as metas de produção à firma de auditoria DeGolyer & MacNaughton, que, segundo ele, ajudou a criar as expectativas para os acionistas.
A agência Moody’s reduziu a nota de crédito da OGX em dois pontos na semana passada, para Ca, dez degraus abaixo do grau de investimento, e manteve sua perspectiva negativa para a companhia. Segundo a agência, as obrigações com nota Ca provavelmente entrarão em default, ou estão muito perto disso.
Ao que parece, somente uma notícia positiva, por menor que seja, poderá tirar a companhia do nível corrente, diz Ferro, da Greylock. Não é comum ver um bônus sendo negociado a 15 centavos. Os detentores dos bônus estão bem alinhados com [Eike] Batista. Ou ele reverte a situação, ou poderá quebrar.