unitri

Filtrar Por:

< Voltar

Clippings - 26/09/25

Governo federal programa relicitar Malha Sul em 2027

– O Ministério dos Transportes planeja publicar em 2026 o edital de relicitação da Malha Sul, ferrovia que conecta os três Estados do Sul do país com São Paulo, e realizar o leilão no início de 2027. Segundo George Santoro, secretário-executivo da pasta, a tendência é que a licitação seja dividida em três lotes. O primeiro, partindo de São Paulo, atende o porto de Paranaguá (PR) e chega ao porto de São Francisco do Sul (SC). O segundo lote abrangerá o trajeto de São Francisco do Sul ao porto de Rio Grande (RS), e terceiro, o de Porto Alegre a Uruguaiana (RS), com conexão com a malha argentina.

Os trechos, suas ramificações, obras e investimentos e o cronograma de licitação estão em fase de validação. O projeto, desenvolvido pela Infra SA, passará por audiência pública e aprovação pelo Tribunal de Contas da União (TCU), antes de ir a leilão.

Hoje a Malha Sul é administrada pela Rumo Logística, com concessão que se encerra em fevereiro de 2027. Cerca de 60% dos 7.223 km da ferrovia estão inativos. O Paraná, com 2.000 km de trilhos, concentra cerca de 70% dos trechos úteis. Santa Catarina tem 1.300 km de trilhos, a maioria inoperante. No Rio Grande do Sul são 3.823 km, sendo 921 km em operação.

Soja, farelo de soja, milho, açúcar, celulose e fertilizantes são os principais itens transportados, e a Malha Sul apresenta baixa atratividade para os embarcadores de carga. “A ideia é recuperar a ferrovia e aumentar sua capacidade de transporte de carga”, diz Santoro. “A revitalização da Malha Sul é vital para a região”, segue João Arthur Mohr, superintendente da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep). Segundo ele, em média, o custo do transporte ferroviário é 30% menor do que o rodoviário, além de proporcionar benefícios socioambientais. Uma composição com cem vagões, diz o superintendente, substitui 150 caminhões, desafoga rodovias e emite 80% menos carbono na atmosfera.

A Fiep e as federações paranaenses da agricultura (Faep), das cooperativas (Ocepar) e das empresas de transportes de cargas (Fetranspar) são favoráveis à divisão da licitação e reivindicam que o lote 1 incorpore a Ferroeste, ferrovia estadual que se conecta à Malha Sul em Guarapuava e se estende por 248 km até Cascavel (oeste do Paraná).

A proposta de operador único prevê que o novo concessionário assuma o compromisso de reformular os trilhos na Serra Esperança, em Guarapuava, onde a velocidade média hoje é de 10 km/h. “Uma carga que sai de Cascavel leva seis dias para chegar ao porto de Paranaguá. Deveria fazer o percurso em 30 horas”, diz Mohr. “Apenas 5% da carga originada no oeste paranaense utiliza a Malha Sul, o resto segue de caminhão”, afirma.

Na proposta dos setores produtivos, a descida da serra do Mar até Paranaguá continua sendo realizada pela Malha Sul, que tem capacidade para transportar no trecho 30 milhões de toneladas por ano, mas hoje é subutilizada, carregando cerca de 43% dessa capacidade. O novo concessionário também assumiria o compromisso de expandir a Ferroeste para Maracaju (MS) e Chapecó (SC), formando um corredor para o transporte de grãos para as principais regiões produtoras de frangos e suínos do país. “A própria receita operacional da concessionária proveria parte expressiva dos recursos para a expansão”, avalia Mohr.

Essa expansão é reivindicação antiga dos setores produtivos catarinenses e paranaenses. O governador do Paraná, Ratinho Júnior, já reiterou o interesse na obra, como também a construção de uma nova descida da serra do Mar. Mas as obras teriam forte impacto socioambiental, fato que dificulta o licenciamento e encarece o projeto, que no momento não tem previsão de ser efetivado.

Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul criaram uma comissão conjunta para, em bloco, influenciar a licitação. “Não se trata apenas de defender um modal logístico, mas de impedir a desarticulação de uma infraestrutura estratégica para o desenvolvimento regional”, disse o governador gaúcho, Eduardo Leite (PSD), em julho. Nos bastidores, avalia-se que a Rumo tem interesse apenas em 2.000 km da Malha Sul, em trechos que atendem aos portos de Paranaguá (PR), São Francisco do Sul (SC) e Rio Grande (RS).

Em nota, a companhia afirmou que a operação segue a lógica da complementariedade intermodal, com trens para longas distâncias e caminhões para trajetos curtos. “A concessionária mantém diálogo constante com o Ministério dos Transportes (Poder Concedente) e demais autoridades visando a contribuir, de forma racional e efetiva, para o endereçamento da complexidade inerente à configuração atual da Malha Sul”, informou.

Fonte: https://valor.globo.com/publicacoes/especiais/infraestrutura-logistica-regiao-sul/noticia/2025/09/25/governo-federal-programa-relicitar-malha-sul-em-2027.ghtml