Os anos dourados prenunciados pelos grandes eventos esportivos e as descobertas do pré-sal nesta década transformaram o Rio em palco perfeito para o grupo finlandês Almaco apresentar a investidores, hotelaria e autoridades municipais cariocas com o seu projeto iceberg. Especialistas na construção de acomodações flutuantes para o mercado offshore, os escandinavos usaram o mesmo conceito para desenvolver um hotel cinco estrelas de altíssimo luxo. E querem o Porto do Rio como endereço do primeiro, estimado em € 100 milhões — dos quais o governo da Finlândia es¬taria disposto a financiar até 70%.
— O Rio seria a vitrine ideal. Aqui faltam hotéis e espaço para construir novos — diz o CE0 da Almaco, Mikael Hedberg, que desembarcou duas vezes no Galeão num intervalo de dez dias. O executivo é o responsável por apresentar a planta aos potenciais investidores. Com 11 andares, ela prevê 330 quartos de 35 metros quadrados, abrigando 700 pessoas. O detalhe nada trivial é que todos teriam vista para o mar, já que o iceberg será todo envidraçado. No terraço, sete suítes de luxo terão piscinas infinitas, que dão a impressão de se fundir ao mar. Estão previstos ainda heliponto, marina integrada e garagem para 110 carros. Uma entrada por terra daria acesso aos hóspedes e interessados em frequentar os restaurantes, bares, bares, boate, lojas e spa do hotel, que deve gerar 500 empregos. A Almaco estima que o investimento se pague em até dois anos. Com base numa diária de € 600 e taxa de ocupação média de 80%, calcula faturamento anual próximo a € 66 milhões, 10% vinda de serviços.
Hedberg faz questão de frisar que o iceberg não é um cruzeiro de luxo, mas um hotel comum que pode se mover pela costa do país puxado por um rebocador. É o pulo do gato para maximizar sua taxa de ocupação. Na baixa estação carioca, ele poderia circular por Búzios, Angra e até Salvador. Outro ponto forte é que se trata de um hotel verde, com sistema de reaproveitamento de água, tratamento de esgoto, uso de painéis solares e materiais recicláveis e certificados. Para garantir a qualidade, a Almaco pretende fabricar o primeiro hotel flutuante de luxo na Finlândia. Mas não descarta construções futuras no Brasil, onde está abrindo escritório.
Os estrangeiros já bateram à porta de Windsor, EBX e Corcovado Capital, entre outros. Diretor operacional dos Hotéis Marina, Cristiano Viola diz que o grupo é candidato a operar o hotel: — É um investimento alto, mas que traria retorno a médio prazo. Se de fato há tantos fundos e redes interessados em fazer hotéis no Rio, vão aparecer agora — aposta Viola. Para Alfredo Lopes, presidente da ABIH-RJ, o prazo de entrega é atraente: a previsão é de 18 meses, ante 36 meses para um hotel comum. Lopes considera a construção cara, mas acha que o fato de dispensar a compra do terreno compensa.
A articulação política para emplacar o hotel flutuante vem sendo conduzida pelo ex-deputado estadual João Pedro Figueira. Como consultor da Almaco, ele apresentou os finlandeses ao empresário Olavo Monteiro de Carvalho, presidente do conselho da Rio Negócios. A agência de promoção de investimentos vislumbrou uma possível solução para a falta de espaço em áreas como o Parque Tecnológico do Rio, na Ilha do Fundão, prestes a receber centros de pesquisa de múltis como GE, EMC e 13G Group. A Rio Negócios fará a ponte entre a Almaco e as empresas, que podem vir a instalar bases de apoio com escritórios, centros de convenção e hospitalidade em estruturas flutuantes mais simples.
Apesar de saltar aos olhos pelo luxo e beleza, o iceberg não vai sair do papel facilmente. Seu ineditisrno suscitará discussões jurídicas acerca, por exemplo, da tributação. Segundo o escritório Kincaid, que assessora a Almaco, por flutuar ele seria tratado como embarcação. Mas, ao contrário dos cruzeiros, que entram no país em regime de admissão temporária, a ideia é que seja nacionalizado. Isso significa pagar imposto de importação e outros, que podem chegar a 60% do valor do projeto. Além disso, a Secretaria de Patrimônio da União (SPU) terá que autorizar o uso do espelho d’água-, pelo qual cobrará uma taxa. Já o licenciamento ambiental ficaria a cargo do Ibama.