As deficiências de infraestrutura aumentam substancialmente os custos de produção, fazendo com que o setor portuário necessite de um investimento de aproximadamente R$ 42,9 bi. A avaliação é do economista da ACSP (Associação Comercial de São Paulo), Ulisses Gamboa. “No caso dos portos, a continuidade da deterioração fiscal poderá implicar investimentos públicos ainda menores, aumentando seu estrangulamento”, acrescentou Gamboa, durante encontro de empresários e especialistas do setor, realizado na quarta-feira (21), na sede da entidade, em São Paulo.
Segundo o economista, as características do atual cenário econômico do país impactam diretamente o setor de transporte, que possui um peso de 5,1% do PIB nacional (cerca de US$ 54 bilhões). A economia nacional vive um momento peculiar: a previsão é fecharmos 2010 com um crescimento de 7,5%, enquanto em 2011 ele deve apresentar um indicador de 4,5%. Entretanto, vale evidenciar que esse de modo algum será um desempenho pífio, uma vez que serão 4,5% sobre 7,5%, destacou o especialista, acrescentando fatores de risco que, embora não alarmantes, merecem atenção especial – entre eles a deterioração das contas públicas e das contas externas, e a apreciação do real.
A dívida pública brasileira, atualmente, representa nada menos que 60% do PIB. Enquanto isso, apesar do aumento do IOF para conter o capital especulativo, a taxa básica de juros brasileira ainda é a maior do mundo. Além disso, ainda temos o excesso de importações sobre exportações, argumentou Gamboa, acrescentando que “para fechar as contas, cada vez mais o Brasil depende do capital especulativo.
Operações 24 Horas – O projeto Porto 24 Horas, que prevê a realização ininterrupta de operações portuárias, durante os sete dias da semana, no Porto de Santos, no Litoral Paulista, deverá atenuar algumas das deficiências que se verifica no segmento. O local representa mais de 1/4 do escoamento marítimo brasileiro, o que, atualmente, corresponde a mais de dois milhões de TEUs (contêineres de 20) por ano, informa José Cândido Senna, coordenador Executivo do Comitê dos Usuários de Portos (COMUS).
Segundo Senna, com o funcionamento contínuo do terminal haverá uma melhor sincronia nas chegadas de contêineres e navios, o que proporciona melhoria nos fluxos e no tempo médio de permanência. Com as reduções dos tempos de permanência, passamos a apresentar maior rotatividade, o que representa aumento de carga e descarga, o que irá refletir também na redução das filas, apontou.
Seguros – O mercado de seguro para transportes também passa por embates estratégicos no Brasil. A área mais paga sinistros do que arrecada prêmios, ao passo que cresce menos que os demais ramos de seguros e o próprio PIB, alertou Artur Luiz Souza dos Santos, vice-presidente da Mapfre Seguros.
De acordo com Santos, cerca de dez seguradoras concentram 90% do faturamento dos seguros do transporte, o que torna o cenário insustentável a longo prazo. Além disso, contamos com uma sinistralidade exorbitante: fechamos 2009 chegando a 70%. Ou seja, de cada R$ 100 arrecadados em prêmios, R$ 70 foram destinados a cobrir sinistros que, em sua maioria, consistiram em roubo de carga.
O fato de 75% das viagens rodoviárias serem conduzidas por autônomos também é visto como uma questão sensível, uma vez que metade dos caminhoneiros é autônoma. Dentro dos autônomos, a maioria presta serviços a mais de uma transportadora, o que faz com que as seguradoras tenham a necessidade de conhecer seus antecedentes criminais, creditícios e profissionais, alegou o executivo.
Além disso, as seguradoras contam com o percalço colocado pela Procuradoria Regional do Trabalho – 2ª Região, que defende ser prejudicial ao caminhoneiro o serviço proposto pelas seguradoras de conhecer melhor o profissional, especialmente quando tentam obter análises creditícias. Numa situação limite, esse problema pode inviabilizar o seguro de Responsabilidade Civil Facultativa – Desvio de Carga (RCF-DC, que cobre roubos e desvios dolosos de carga), quando as seguradoras só aceitarem cobrir viagens conduzidas por motoristas empregados por transportadoras, afirmou Santos, acrescentando que é necessário haver bom senso de todas as partes envolvidas para não chegarmos a esse extremo.