O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que o acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia tem “o desafio de ir além de tarifas e subsídios”. A declaração, dada durante o seminário Brasil-Itália, em São Paulo, se refere à primeira rodada de negociações dos dois blocos econômicos, que começou ontem em Buenos Aires. “Estamos sinalizando o compromisso de ambos os blocos em ganhar escalas de competitividade e multiplicar oportunidades de investimento. Também estamos juntando forças em defesa de uma ordem global mais justa”, afirmou Lula ao primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, e a empresários italianos no auditório da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp).
Para Lula, há motivos para otimismo. “As oportunidades estão traçadas com a realização da Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016, sem falar nos projetos de infraestrutura no âmbito do Programa de Aceleração do Crescimento”, disse o presidente.
O objetivo, segundo ele, pode ampliar o comércio bilateral entre Brasil e Itália. “Estão dadas as condições para continuarmos a multiplicar um comércio bilateral que triplicou entre 2002 e 2008, chegando a US$ 9 bilhões. Mais comércio será a resposta à crise internacional. Queremos ultrapassar a barreira dos US$ 10 bilhões, de forma a refletir as dimensões e potencialidades das nossas economias”, afirmou. De acordo com o presidente, o potencial de balança comercial entre os dois países pode chegar a US$ 30 bilhões.
Lula comentou ainda a reunião do G20, em Toronto, à qual não compareceu para visitar Alagoas e Pernambuco e avaliar os estragos das chuvas. O presidente disse confiar em um “compromisso do G20 em tomar as medidas de saneamento das economias europeias” e apostar em “estímulos necessários para garantir uma retomada forte e sustentável do crescimento global. A crise internacional reforçou o papel decisivo dos países emergentes e em desenvolvimento. A Itália encontrará no Brasil uma alternativa sólida e segura contra choques futuros. Isso só é possível porque não repetimos os erros do passado”, afirmou Lula.
Berluconi fez elogios a Lula e à política econômica brasileira. Ressaltou o tratado de cooperação assinado entre os dois países, em 2 de abril, em Washington. E fez uma brincadeira. “Lula tem 62 anos. Ele agora vai descansar necessariamente quatro anos e depois vai poder trabalhar mais oito pelo Brasil. E ainda terá 74 anos.” Em seguida, no entanto, durante uma coletiva, Lula rechaçou a possibilidade de voltar ao cargo.
Battisti – O presidente Lula disse que aguarda parecer da Advocacia Geral da União (AGU) para decidir sobre pedido de extradição de Cesare Battisti, refugiado no Brasil por ser considerado terrorista na Itália. Numa entrevista com jornalistas brasileiros e italianos, o premiê italiano não foi indagado sobre o assunto, e coube ao presidente brasileiro explicar à imprensa internacional porque ainda não se manifestou sobre autorização do Supremo Tribunal Federal (STF) para mandar Battisti de volta a seu país. Lula disse que seja qual for a sua decisão, Brasil e Itália não sofrerão nenhum arranhão em suas relações diplomáticas.