Pela primeira vez, armador tem um diretor Comercial brasileiro. Queremos estreitar laços com o cliente.
A Maersk Line acredita que os fretes no mercado reefer aumentarão em 2010, do contrário, não valerá a pena manter operacionais alguns serviços no Brasil. Em entrevista exclusiva ao Guia Marítimo, o diretor-geral no Brasil da companhia dinamarquesa, Jakob Bomholt, disse que a costa leste da América do Sul registrou as maiores quedas das taxas no mercado de cargas refrigeradas, com redução média de US$ 1.000,00 por contêiner. Percentualmente, o tombo foi de aproximadamente 30% sobre os valores originais.
Os fretes caíram bem abaixo do custo de produção para todos os armadores. Perdeu-se muito dinheiro. Se as tarifas não aumentarem, estou certo de que continuaremos a ver em 2010 o que ocorreu nesse ano: armadores retirando capacidade do mercado, porque simplesmente o custo da operação não será pago, disse Bomholt.
O mercado de reefer no Brasil caiu mais do que a média mundial e do que o de dry, especialmente porque no início do ano havia muita oferta de espaço para pouca demanda de produtos perecíveis, em razão do declínio das exportações. A participação da carga reefer na movimentação da Maersk no Brasil é de 28%. Mundialmente, essa fatia sobe para 30%.
Segundo Bomholt, enquanto as taxas do transporte de dry já ensaiam recuperação, a recomposição das tarifas no segmento reefer não tem ocorrido na mesma proporção. O mercado enfrenta a conjunção de dois problemas: o alto índice de sucateamento da frota de navios reefers breakbulk com mais de 20 anos e a escassez de contêineres para substituí-los.
Globalmente, 80 navios reefers breakbulk foram sucateados desde 2008. Paralelamente, os armadores não investiram em novos contêineres reefers nesse ano por falta de dinheiro. Portanto, quando a demanda retornar, os fretes aumentarão naturalmente, explicou Bomholt. Para termos de comparação, enquanto em 2007 o crescimento da frota foi de 60 mil unidades reefers, neste ano o número não deve chegar a 30 mil.
Esperamos para 2010 um incremento de mais de US$ 1.000,00 por contêiner, porque, se isso não ocorrer, avaliamos que o mercado de reefers no Brasil não será atrativo e, como há falta de equipamentos no mundo, os que existem tenderão a migrar para outros mercados, pontuou Bomholt.
A perspectiva do armador é que a demanda de cargas reefers cresça a uma taxa anual de 4% até 2015. Paralelamente, a oferta de contêineres tende a cair, em parte devido à falta de equipamento, em parte por conta do aumento do processo de conteinerização.
Novo comando
Maior armador do mundo, a Maersk não poderia atravessar incólume a pior crise da indústria do contêiner. Desde que os volumes do comércio exterior secaram, no final de 2008, a empresa seguiu o receituário básico das companhias de navegação: retirou capacidade dos tráfegos, diminui a velocidade das embarcações e cortou serviços – no caso do Brasil, deixou de fazer a rota direta com os Estados Unidos.
Ainda amargando os prejuízos da queda dos volumes – o déficit mundial da companhia dinamarquesa deve ficar em US$ 2 bilhões nesse ano – a Maersk está apostando em diversas medidas para enfrentar a turbulência.
No Brasil, um dos primeiros passos foi a escolha inédita de um brasileiro para assumir a diretoria Comercial. Trata-se de Roberto Prudente (na foto), 45 anos, egresso do freight forwarder DB Schenker. É a primeira vez que um não dinamarquês ocupa o cargo, coroando o que pretende ser uma mudança de paradigma na busca do estreitamento de laços com os clientes.
Acredito que isso é uma grande forma de a companhia mostrar para o mercado que estamos nos tornando mais locais e, assim, mais propensos a entender as necessidades dos clientes, disse Prudente. A Maersk está passando por grandes mudanças e nós queremos torná-las claras ao mercado, reiterou, acenando com uma guinada no padrão low profile da companhia.
Leia entrevista completa com Roberto Prudente na edição nº 420 do Guia Marítimo.