As brasileiras Queiroz Galvão Exploração & Produção (QGEP) e Barra Energia acertaram, em junho, seu ingresso na região a partir de um farm-in com a Shell, no bloco BM-S-8, localizado na área norte do cluster, onde foi descoberto o prospecto de Bem-Te-Vi. Cada uma ficou com 10% da área.
Negociada desde dezembro do ano passado, a operação foi o maior farm-in exploratório isolado já firmado no país. As duas petroleiras desembolsaram, juntas, US$ 350 milhões, o maior valor já pago por um ativo exploratório no Brasil. Diante do preço pago, o valor atual do BM-S-8 é de US$ 1,75 bilhão.
A saída da Shell do BM-S-8, antecipada pela Brasil Energia em setembro de 2010, foi bastante con-corrida. A oferta também atraiu BP, OGX, YXC, Sinopec e Statoil. A intenção original da Shell era vender sua parte no bloco num pacote que incluiria os campos de Atlanta e Oliva, em Santos, e as áreas exploratórias BM-S-45 (S-M-322), em Santos, e BM-ES-28, na Bacia do Espírito Santo, devolvida recentemente à ANP. O desenrolar das conversas, porém, forçou a separação.
A atratividade do BM-S-8 estava diretamente ligada ao fato de o bloco estar no cluster. Também pesou o fato de não ter havido licitações nos últimos anos – ou seja, as novas oportunidades de negócios estão limitadas a operações de venda e troca de ativos entre as empresas. E não fosse o risco exploratório do projeto, mesmo com a descoberta de Bem-Te-Vi, a disputa teria sido ainda maior assim como o valor pago pela participação de 20% no ativo.
Com 2.449 km2, o BM-S-8 é o maior bloco de Santos, embora não seja prioridade para a Petrobras, que opera a área. Apostase na existência de mais prospectos. No momento, a petroleira perfura um poço exploratório na região com a Sevan Driller, voltado ao prospecto batizado Biguá, na parte central do bloco e ao norte de Bem-Te-Vi.
Para cumprir o programa exploratório acordado para a área será preciso perfurar ainda mais um poço firme no fim do ano, em locação a ser definida em função do resultado alcançado em Biguá. A expectativa é de que o poço de Biguá seja concluído também até o fim do ano.
Sem o BM-S-8, a Shell fica fora do cluster, ajustando sua carteira ao processo de venda de ativos no mundo. Nos últimos tempos, a companhia vem se desfazendo de projetos e reduzindo participações em todo o mundo, o que inclui o farm-out de 20% no bloco BM-S-54, firmado com a Total, e a saída do bloco BM-ES-28, concretizadas no início do ano.
QGEP com lugar entre as grandes
Depois da devolução de três blocos na Bacia de Santos (BM-S-75, BM-S-76 e BM-S-77) e uma parada de manutenção em cinco dos seis poços de seu único ativo de produção e principal fonte de receita – o campo de Manati, na Bacia de Camamu –, a Queiroz Galvão Exploração e Produção (QGEP) deu um bom passo para reestruturar seu portfólio. A aquisição da participação de 10% no BM-S-8, no cluster de Santos, pode ser a porta de entrada para outros ativos na região e também a qualifica para futuros leilões da ANP de contratos de partilha de produção.
A estratégia montada para a compra de metade da participação da Shell no ativo – um negócio avaliado em US$ 175 milhões – também considerou a possibilidade de retorno de curto prazo e o ingresso na que pode ser hoje a principal área exploratória do mundo, o pré-sal brasileiro. “O negócio mostra o interesse de crescer e o cuidado da companhia na seleção de ativos para o nosso portfólio”, diz o diretor de Exploração da QGEP, Lincoln Guardado.
Mesmo não tendo a magnitude das descobertas do campo de Lula ou do prospecto de Guará, no BM-S-9, o BM-S-8 pode ampliar significativamente o volume de reservas da empresa, hoje da ordem de 390 milhões de barris de óleo equivalente (BOE), considerando reservas, recursos contingentes e recursos prospectivos.
A QGEP estima investir US$ 25 milhões até o fim do ano no ativo recém-adquirido. A Petrobras está perfurando na área o poço 4BRSA946SPS, prospecto batizado de Biguá, que atingirá profundidade final de 6.425 m, em lâmina d’água de 2.177 m. A previsão é que os trabalhos, conduzidos pela Sevan Driller, sejam concluídos em outubro. A perfuração de um segundo poço pode ser iniciada ainda este ano, com conclusão prevista para 2012. Nesse segundo poço a QGEP estima investir US$ 20 milhões. A empresa, porém, já mapeou, com os dados adquiridos da Shell, três novas estruturas para campanhas no bloco.
O primeiro óleo do sistema definitivo do BM-S-8 deve acontecer entre 2017 e 2018. “É um prazo corriqueiro dentro dos projetos da Petrobras”, conclui Guardado.
Barra Energia em águas profundas
O ingresso no cluster de Santos traz um novo parâmetro para a Barra Energia. Pouco mais de um ano após ser criada como uma companhia de ativos terrestres e águas rasas, a petroleira brasileira já adianta que projetos onshore não são mais prioridade para o grupo, e que o novo foco estratégico passa a ser águas profundas do pós-sal e do pré-sal.
“O BM-S-8 é extremamente significativo para nós e passou a ser um bom balizador para o grupo. Não quer dizer que não iremos mais analisar projetos de terra e de águas rasas e investir neles, mas isso não é mais prioridade, pois ajustamos nossa estratégia à nossa estrutura de capital”, avalia Renato Bertani, diretor executivo da Barra.
Desde o primeiro semestre, a petroleira, cujo capital inicial era de US$ 500 milhões, conta com um capital total de US$ 1,2 bilhão. O aporte vem de dois grandes fundos privados internacionais, o First Reserve e o Riverstone, e mais outros 20 pequenos grupos investidores estrangeiros.
Os planos da empresa são de ampliar a carteira, sempre exclusivamente no Brasil. “Devemos investir cerca de US$ 30 milhões no BM-S-8 até o fim do ano, e ainda temos cerca de US$ 1 bilhão para investir em novos projetos”, antecipa João Carlos De Luca, diretor presidente da petroleira.
Para De Luca, o ingresso no cluster demonstra o interesse do grupo em investir em risco. “O BMS-8 tem a descoberta de Bem-Te-Vi e mais umas quatro estruturas importantes para serem analisadas, mas há um grande risco exploratório pela frente, que reforça o apetite da Barra Energia em apostar no Brasil e nossa visão de longo prazo”, reforça de Luca.
A busca por um ativo no país teve início em 2010, logo após a criação da petroleira. Antes do BM-S-8, foram examinadas várias outras oportunidades. “Nossa equipe trabalhou exaustivamente nos últimos anos analisando as bacias brasileiras. Chegamos a avaliar uma dúzia de projetos. Sempre que havia um ativo sendo ofertado estávamos lá”, lembra Bertani.
Entretanto, os projetos avaliados ao longo do último ano não se encaixaram na estratégia da companhia. Na maioria dos casos, os ativos não detinham porte exploratório condizente com as expectativas do grupo, apresentando risco exploratório muito alto ou não fazendo sentido econômico.
Apostando na vantagem competitiva do mapeamento das bacias brasileiras, a Barra investiu US$ 35 milhões nos últimos anos na compra de dados sísmicos e de poços. As avaliações já feitas apontaram, segundo César Cainelli, diretor de E&P do grupo, para a existência de quatro áreas foco em Campos e Santos – mantidas, é claro a sete chaves.
O grupo tem planos de se firmar como operador. Enquanto isso não acontece, a Barra pretende ser um sócio ativo. “Queremos trazer contribuições técnicas, não ser apenas um sócio investidor”, afirma De Luca.
A Barra Energia conta hoje com uma equipe de 20 pessoas. Até o fim do ano, a petroleira deverá contratar mais dez pessoas, no mínimo.