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Clippings - 29/11/10

Megaoferta de gás reativa investimento em térmicas

A grande oferta de gás natural que o Brasil terá nos próximos anos está abrindo caminho para que o governo federal volte a licitar usinas termelétricas.

Em apenas cinco anos, a oferta do combustível vai praticamente dobrar se levadas em conta as bacias que já estão sendo exploradas pela Petrobras e as novas descobertas feitas nos Estados de Minas Gerais e Maranhão. Nessas contas não estão incluídas as descobertas do pré-sal.

O presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, prevê a volta das térmicas no Plano Decenal de Energia e a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) já fala em leilões de termelétricas que operem na base, ou seja, que gerem energia durante boa parte do ano e não somente em perãodos emergenciais.

Pela primeira vez, o Brasil terá, de fato, gás suficiente para investir em energia elétrica, diz o diretor-geral da Aneel, Nelson Hubner. Com isso, o setor privado poderá desengavetar projetos parados desde 2008 – último ano com leilão de termelétricas. Só os projetos a gás natural naquele perãodo somavam mais de 5.000 MW. Boa parte deles sequer teve a energia ofertada, pois não dispunham de combustível.

A Duke Energy, que há dez anos não faz grandes investimentos no país, será uma das competidoras. Além de tocar projeto térmico para cumprir o edital de privatização em São Paulo, o presidente da empresa, Armando Henriques, busca projetos em outros Estados. A MPX Energia é outra candidata, pois pode usar gás descoberto no Maranhão pela OGX, empresa do mesmo grupo. A portuguesa EDP também tem térmicas paradas no Espírito Santo e pode voltar a fazer investimentos. A AES Tietê, outra empresa parada há anos, tem planos para térmica no Estado de São Paulo.

Alguns diretores da EPE falam inclusive na possibilidade de se adiar leilões de grandes hidrelétricas na Amazônia para o aproveitamento do gás do pré-sal na geração de energia elétrica. A retirada do gás é obrigatória na exploração do petróleo e o combustível não pode ser queimado nas quantidades que se espera obter. Isso significa que é preciso encontrar um destino para o gás do pré-sal.

O ministro das Minas e Energia, Márcio Zimmermann, diz que o governo federal continuará incentivando as energias renováveis. O mesmo diz Tolmasquim, mas o presidente da EPE está preocupado com as dificuldades para o licenciamento ambiental de hidrelétricas e linhas de transmissão. Além disso, as novas usinas não têm grandes reservatórios, por isso, requerem fontes complementares, e ficam distantes dos centros consumidores, encarecendo o custo do empreendimento.

Hidrelétrica tem problemas ambientais e atrasos devem incentivar leilão de térmicas

Usina de Tapajós será postergada

O processo de licitação da megausina hidrelétrica de São Luiz do Tapajós será atrasado em pelo menos um ano. O Plano Decenal de Energia de 2011, que está sendo finalizado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), remanejou o projeto para entrada em operação das primeiras turbinas para o ano de 2017. O presidente da EPE, Maurício Tolmasquim, diz que grandes blocos de energia devem entrar nos anos anteriores, sem grande prejuízo do planejamento.

O problema é de licenciamento ambiental. A usina que será constituída no conceito de plataformas de petróleo será instalada no Pará e terá capacidade de gerar mais de 6.000 MW de energia e faz parte de um complexo que poderá gerar mais de 10 mil MW. Algumas fontes da EPE informam inclusive que é possível que o processo licitatório fique para o fim de 2012 e poderá até mesmo só ser possível de ser realizado em 2013. Tolmasquim não quis falar sobre os problemas ambientais e disse apenas que o prazo está apertado para licenciar a usina no próximo ano.

A dificuldade de licenciar ambientalmente as grandes e também as pequenas hidrelétricas associada à expectativa da grande oferta de gás que deve baratear o custo de termelétricas deve levar o governo a licitar esse tipo de usina já no próximo ano.

Tolmasquim diz que em algum momento vai ter que usar térmica. Mas ele reforça que quanto mais se atrasa projetos hidrelétricos, mais difícil de concretizá-los. O PDE que está sendo elaborado por Tolmasquim ainda não trata do gás do pré-sal para o uso de geração de energia elétrica, mas ele diz que parte desse gás terá que ser direcionado para térmicas. Mas terá que ser uma equação que o torne interessante, diz Tolmasquim.

De acordo com Marcos Tavares, diretor da Gas Energy, a oferta de gás, sem contar o pré-sal, terá um adicional de 50 milhões de metros cúbicos por dia a partir de 2015. E como no mundo inteiro as descobertas de poços de gás têm sido freqüentes, existe uma tendência mundial na queda de preços, o que vai favorecer o uso do combustível não só pela indústria, mas também para geração de energia. Mesmo os 30 milhões de metros cúbicos que vêm da Bolívia tendem a ficar mais baratos. O contrato acaba em 2019, mas os gasodutos já estarão amortizados.

Nos últimos anos, as usinas térmicas movidas a gás natural ficaram praticamente de fora dos leilões em função da falta de oferta da Petrobras. A empresa se negou a fornecer combustível nos preços-teto estabelecidos pelo governo nos leilões de energia. O grande problema para a estatal é que o modelo atual não permite que as térmicas operem durante todo o tempo. Um executivo do setor comenta que a Agência Nacional do Petróleo proíbe que se retire gás que não seja usado. Há um limite para a queima. Mesmo assim, a Petrobras queima hoje 5 milhões de metros cúbicos por dia, o que daria para gerar 1.000 MW de energia.

Mas o diretor-geral da Aneel, Nelson Hubner, diz que, para aproveitar o gás do pré-sal, as térmicas deverão gerar na base, ou seja, grande parte do ano, melhorando a condição para se obter contrato com a estatal. Segundo Hubner, as térmicas a gás estavam mais caras que as eólicas nos últimos anos. Mas a grande oferta de gás deve mudar isso, afirma. E nem será questão de postergar hidrelétricas, elas naturalmente têm processo de maturação mais lento.