O grupo siderúrgico ArcelorMittal vai substituir a chinesa Baosteel na parceria com a Vale para a construção de uma usina no Espírito Santo. O novo projeto da mineradora brasileira foi batizado de Companhia Siderúrgica de Ubu (CSU) e substitui o projeto anterior no Estado, a Companhia Siderúrgica de Vitória, que não prosperou depois que o sócio chinês desistiu do negócio em meio à crise financeira internacional.
A informação sobre a decisão da ArcelorMittal foi dada ontem ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva diretamente pelo presidente do grupo, Lakshmi Mittal. Durante audiência com Lula, realizada no hotel Dorchester, em Londres, Mittal revelou que sua empresa investirá US$ 5 bilhões no Brasil. Expliquei ao presidente o que pretendemos fazer no Brasil, o que fizemos e ouvi dele quais são os planos para o crescimento do país, disse Mittal ao Valor após o encontro com Lula. Temos um programa para expandir no Brasil. Queremos aumentar a nossa presença, completou.
Indagado sobre o risco de se aumentar a produção de aço no momento em que há excesso de capacidade no mundo, o empresário indiano explicou que ainda há empresas que precisam planejar para participar do crescimento do país. Com o crescimento do Brasil no futuro, unidades de produção de aço não podem ser construídas da noite para o dia. Então, nós temos que construir pensando nisso.
Na conversa com o presidente, Mittal disse que o seu investimento no país só não será maior que o da alemí ThyssenKrupp, que está construindo a Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), também em parceria com a Vale. O indiano elogiou a forma como o Brasil enfrentou a crise financeira, fazendo um paralelo com a Rússia, que, na sua avaliação, não soube lidar com a turbulência.
Já se pode tirar o ´R, de Rússia,´ dos Brics, teria ironizado Mittal, segundo uma testemunha do encontro com Lula. Já o Brasil, disse ele, foi rápido. O empresário se esmerou em elogios ao presidente brasileiro, que o convidou a visitar o país no início de 2010. A confiança dos líderes é que desenvolve a confiança dos países, declarou Mittal durante a audiência, que durou 45 minutos.
O empresário reconheceu, ainda no encontro com Lula, que, por causa da crise mundial, seu grupo segurou a realização de novos investimentos no Brasil, mas, agora, ele reavaliou os planos e decidiu que o país será uma das prioridades dentro do plano de expansão da empresa. A explicação dada é que ele vê o Brasil como uma das economias que puxarão o crescimento mundial daqui em diante.
Na conversa, Lula expôs os planos de investimento do governo em infraestrutura, informou que deixará pronta para o sucessor uma nova versão do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e manifestou o interesse de fortalecer a indústria naval. Nesse momento do colóquio com o empresário indiano, o presidente aproveitou, segundo apurou o Valor, para dar mais uma cutucada no presidente da Vale, Roger Agnelli. Perguntei ao Roger por que a Vale compra navio no exterior. Ele explicou, mas não me convenceu, contou Lula.
A ArcelorMittal possui no Brasil a usina de aços planos ArcelorMittal Tubarão; a antiga Acesita, de aço inox; e quatro usinas de aços longos que pertenciam á antiga Belgo-Mineira – duas em Minas Gerais, uma em São Paulo e uma no Espírito Santo. Em 2008, o grupo respondeu por 31% da produção de aço do Brasil, à frente de Gerdau, Usiminas e CSN.
No começo da noite, na inauguração do escritório do BNDES em Londres, Agnelli disse a um grupo de jornalistas brasileiros que o seu relacionamento com o presidente sempre foi bom, classificando-o como muito aberto, muito direto, muito sincero, de todos os lados. Agnelli disse gostar muito do presidente. Ele é um craque naquilo que tem feito, é um presidente com mentalidade de desenvolvimento tanto na questão social, como na ambiental e na econômica.
Agnelli contou também ter almoçado com Mittal. Ele já declarou que quer ampliar a a base siderúrgica no Brasil, no que é muito bem vindo. Nós temos um relacionamento muito próximo. Temos feito alguns estudos conjuntos com a Mittal.