Apesar das críticas a respeito do maior controle estatal sobre o setor brasileiro de petróleo, as mudanças propostas pelo governo não deverão afugentar o investidor estrangeiro. A opinião é de duas renomadas consultorias americanas especializadas em energia, que dizem não haver comparação entre o processo em curso no País e as nacionalizações promovidas recentemente por Venezuela e Bolívia, que reduziram a atratividade dos dois países.
O interesse (das empresas estrangeiras) vai continuar. As companhias preferem a oportunidade de atuar como operadoras, mas o papel de parceiro continua sendo melhor do que o que é oferecido, por exemplo, no México, diz o diretor da consultoria Energia.com, baseada em Houston, George Baker. No México, citado por Baker, empresas estrangeiras só podem atuar como prestadoras de serviço da estatal local Pemex.
Em Houston (onde estão baseadas as maiores companhias do setor), o Brasil tem a melhor reputação do que qualquer país na América Latina. Eu duvido que qualquer um possa comparar essa mudança com aquelas promovidas por Hugo Chávez e Evo Morales, completa o consultor. Ele ressalta, porém, que o País deve priorizar as parcerias entre a Petrobrás e companhias privadas, que garante o acesso a melhores práticas para aumentar a produção e reduzir os riscos.
Não creio que as reformas no Brasil sejam vistas como algo radical como na Venezuela. A percepção aqui é que o Brasil é diferente, que respeita os contratos, concorda Erasto Almeida, analista da consultoria Eurasia Group, com sede em Nova York. Mas o processo se tornou um pouco mais negativo com a ideia de que a Petrobrás será operadora única. É um sinal de que o governo quer ter controle mais direto, pondera.
Na sua opinião, a exclusividade da Petrobrás na operação dos blocos pode desagradar às gigantes do setor, que preferem atuar como operadoras. Mas não muda a situação para as companhias independentes ou para as que só estão interessadas em suprimento de petróleo, notadamente as asiáticas.
Há companhias de menor porte, que preferem ser apenas sócias da Petrobrás, já que não têm capacidade técnica para operar áreas de tanta complexidade. Mesmo as grandes, concordam os especialistas, continuarão analisando com interesse as oportunidades. Isso porque o acesso a reservas é cada vez mais restrito e, dado o enorme potencial do pré-sal, pode valer a pena manter fatias pequenas na produção.
De fato, executivos de companhias com operações no Brasil dizem que a participação privada nos novos projetos depende apenas das condições de economicidade dos contratos que serão propostos pelo governo. (O Estado de S. Paulo – 1/9/2009 )