Companhias fazem testes com combustíveis mais limpos para atender às regras da Organização Marítima Internacional de redução de emissões de gases poluentes. O limite de teor de enxofre tolerado pela IMO será reduzido para 3,5% m/m em 2012 e para 0,5% m/m em 2020.
A Aliança Navegação e Logística e a Hamburg Süd decidiram prorrogar seus testes com óleos combustíveis com 0,5% m/m de teor de enxofre. O estudo terminaria em dezembro, mas os armadores estenderam as avaliações até 31 de dezembro de 2012. O estudo visa à melhoria da qualidade do ar no delta do rio Pérola, ao sul da China, e em Hong Kong. O grupo se prepara para atender à meta de redução das emissões de gases poluentes por navios estabelecida pela Organização Marítima Internacional (IMO). O limite tolerado pela entidade, exceto em áreas de controle de emissão, será reduzido dos atuais 4,5% m/m para 3,5% m/m em 2012 e para 0,5% m/m em 2020. A mesma Convenção Internacional para a Prevenção da Poluição por Navios também prevê a redução das emissões de gás nitrogênio e de gás carbônico.
A crescente preocupação mundial com a poluição do ar por navios, especificamente, é conseqüência do crescimento do comércio internacional e do aumento da potência dos motores das embarcações. A frota mundial, em 2008, segundo a Lloyd’s Register, tinha 53 mil navios de carga em operação — 32,5% a mais do que a frota em 2003, quando havia 40 mil. Os navios lançaram no ar, cm 2005, de acordo com o estudo mais recente da IMO, o Second GHG Study, 955 milhões de toneladas de gás carbônico, 23 milhões de toneladas de nitrogênio e 13 milhões de toneladas de enxofre. Em 2000, foram 778 milhões de toneladas de gás carbônico, 19 milhões de toneladas de nitrogênio e 11 milhões de enxofre.
Para os especialistas, algumas das medidas capazes de reduzir as emissões’ são o aumento da eficiência dos propulsores, a diminuição da resistência ao movimento dos navios com melhores cascos, a manutenção adequada dos cascos e dos hélices, a redução da velocidade das embarcações e a substituição dos combustíveis fósseis por outros menos poluentes, como o gás natural liquefeito. A maioria das ações citadas acima reduz a emissão de poluentes no ar ao diminuir a potência do motor, pois isso impacta diretamente na economia do consumo de combustível – os óleos de navio costumam ser mais pesados do que os utilizados em outros meios de transporte.
A classificadora norueguesa DNV propõe a substituição dos combustíveis fósseis pelo GNL (gás natural liquefeito), onde for viável, uma vez que o gás natural reduz a emissão de gás carbônico de 20% a 25%, de oxido de nitrogênio de 85% a 90% e de oxido de enxofre e particulados em quase 100%. Para Arnstein Eknes, diretor de marketing de segmento de embarcações especiais da DNV, além de ambientalmente correto, o GNL é seguro e seu uso é tecnicamente comprovado. A era do GNL como combustível marítimo está chegando. A empresa, em 2000, classificou o primeiro ferry do mundo movido a gás natural liquefeito. O ano de 2010 já começou com 22 embarcações e, até agora, mais 20 contratos foram fechados, aposta o executivo.
Mas por enquanto, como o GNL e as demais formas alternativas de energia têm participação minoritária no mercado, é preciso colocar em prática medidas capazes de reduzir a queima dos combustíveis mais utilizados os fósseis. O professor de instalações propulsoras e dinâmica de sistemas da USP, Hernani Luiz Brinati explica que reduzir a velocidade dos navios já diminuiria consideravelmente as emissões de poluentes.
“Se a velocidade dos navios fosse reduzida em 20%, a potência do motor diminuiria em 50% e, assim, a embarcação consumiria cerca de 30% menos de combustível. Claro que com isso as empresas precisariam aumentar suas frotas para manter a quantidade de carga transportada. Mas, ainda assim, a redução dos gases poluentes seria significativa”, detalha Brinati, que também fala dos efeitos positivos de uma manutenção adequada.
As pás das hélices perfeitamente polidas as tornam mais eficientes e, assim, dependentes de menos potência para produzir a mesma força propulsora; os cascos limpos de incrustação diminuem a resistência para com menos potência do motor, manter a velocidade. O atrito também pode ser reduzido com melhores cascos.
O presidente da Projemar Estudos e Projetos de Engenharia, Tomazo Garzia Neto, embora reconheça a importância da forma dos casos e eleja as caldeiras e os motores de combustão como peças-chaves para minimizar as emissões de poluentes, considera ineficiente olhar apenas para esses pontos. Ele prega o foco no projeto como um todo para se desenvolver um navio eficiente sob o ponto de vista da eficiência de transporte, que deve levar em conta a energia consumida em função da carga transportada da rota pretendida para o navio.
“A tecnologia avançou consideravelmente, o que também resultou no desenvolvimento de equipamentos menos poluentes. Por exemplo, um motor de última geração de 11.500 kw consome hoje cerca de 20% menos combustível do que um motor da mesma potência há 25 anos. Mas não adianta usar um equipamento de última geração se o projeto for ineficiente.