Projeto que escoa combustíveis de Brasília ao miolo do agro deve reduzir importações e aumentar market share da Petrobras

O oleoduto de 2 mil quilômetros que a Petrobras planeja construir para atender o Centro-Oeste deverá causar mudanças expressivas na origem do abastecimento da região, com mais volume de combustíveis nacionais em vez de importados. Em geral o mercado dependerá menos de importadores, o que deverá aumentar o market share da petroleira estatal – seu objetivo declarado.
Norte e Nordeste respondem atualmente por quase metade das importações de combustíveis do País. A carga desembarca principalmente no Porto de Itaqui, em São Luís, Maranhão (4 milhões de metros cúbicos de derivados vindos do exterior no ano passado). Em segundo lugar em desembarque de combustíveis está o Porto de Manaus, com mais de 2 milhões de metros cúbicos. O Centro-Oeste tem sua demanda majoritariamente preenchida pelo escoamento do Norte do País.
Com o oleoduto, as refinarias de São Paulo e região serão capazes de levar com muito mais competitividade os combustíveis para o centro do agronegócio, avaliam especialistas em logística e infraestrutura ouvidos pela Brasil Energia.
“Este projeto garante o mercado de São Paulo e blinda a Petrobras, garantindo seu market share”, afirma Marcus Delia, da consultoria Leggio.
A Petrobras leva combustíveis até Brasília pelo oleoduto que vai de São Paulo à capital federal. Foi o último grande oleoduto construído no País, inaugurado há quase 30 anos. Recentemente um terminal foi inaugurado em Rondonópolis, mas a solução definitiva para entregar combustível ao mercado consumidor do agro deve ser o novo oleoduto.
Delia lembra que este projeto vem sendo discutido há dez anos. A Petrobras ainda não teria definido se o destino final será a região central do Mato Grosso ou Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. Isso dependerá da demanda que conseguir capturar pelo duto, ao longo da rota e na ponta. Outro fator fundamental para determinar a rota é sua geografia, definitiva para balizar custos.
Localidades perto de centros urbanos exigem investimentos elevados em desapropriação. E precisa-se também considerar regiões ambientalmente sensíveis, para evitar impactos e custos muito mais elevados. Dependendo da rota, o oleoduto por custar até mais de dois dígitos de bilhões.
O diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura Pedro Rodrigues afirma que o “Brasil tem deficiência absurda” em dutos de maneira geral e a necessidade é evidente na região. Mas pondera que é preciso avaliar os desafios e viabilidade comercial de um projeto desta monta.
Ele lembra que a Petrobras historicamente sempre foi a grande investidora de infraestrutura do País ao longo das últimas décadas. Mas os desafios ambientais são muito maiores, licenciar demora anos, avalia. Locais com nascentes, rios, apas, devem ser evitados ao longo da rota.
“Que o Brasil precisa de um oleoduto não tenho dúvidas, mas os desafios operacionais são muito grandes. É preciso ver se tem viabilidade comercial”.
Considerando que a Petrobras está considerando um oleoduto de 2 mil km e a distância entre as duas capitais em linha reta é da ordem de 800 km, Delia não descarta a possibilidade de a petroleira construir outro na mesma faixa para transportar biocombustíveis, por exemplo.
“A vantagem de ter um duto de etanol na mesma faixa é que pode representar boa receita para amortizar o investimento”, afirma.
Outra hipótese para explicar o tamanho do duto bem maior que a distância da ponta final, segundo Rodrigues, pode ser um traçado que aproveite por exemplo rotas já desbravadas, como a servidão de linhas de transmissão.
Fonte: Revista Brasil Energia