Os últimos leilões A-3 e de reserva, realizados em 17 e 18 de agosto, estabeleceram um novo patamar de preços para a geração elétrica. Pela primeira vez projetos eólicos venderam energia a menos de R$ 100/MWh – a média das eólicas foi de R$ 99,56/MWh, preço que só perde para o de projetos estruturantes como Belo Monte e Teles Pires.
A média de preço dos parques eólicos nos leilões deste ano ficou abaixo do valor negociado pela hidrelétrica Garibaldi (SC), de 177,9 MW, e Colíder (MT), de 300 MW, por exemplo. A energia das duas usinas foi negociada a R$ 107,98/MWh e R$ 103,4/MWh, respectivamente.
Além disso, a eólica mais barata do leilão A-3, Cerro Chato VI (RS), de 30 MW, fechou contrato ao preço de R$ 96,39/MWh. O valor é inferior ao preço do leilão da hidrelétrica de Santo Antônio (RO), de 3.150 MW, de R$ 96,71/MWh, levando em conta a correção pelo IPCA de dezembro de 2007 até agosto deste ano.
Os leilões negociaram 2004 MW médios a um preço médio de R$ 101,53/MWh. Ao todo, foram contratadas 92 usinas com capacidade instalada de 3.962,7 MW. São 78 eólicas (1.928,7 MW, 832,1 MW médios), 11 térmicas a biomassa (554,8 MW, 96,4 MW médios), duas térmicas a gás natural (1.029,2 MW, 866,4 MW médios) e a ampliação da UHE Jirau (450 MW, 209,3 MW médios).
A esperada competição entre térmicas e eólicas de fato aconteceu, com vantagem aparente para as usinas a gás natural, que venderam mais eletricidade a um preço superior: R$ 103,26/MWh. A energia dos ventos, porém, levou o maior número de projetos, com quase o dobro da capacidade instalada e por um preço mais baixo.
Concorrência
Nesse nível de preço, a eólica sinalizou que pode concorrer não só nos leilões A-3, como também pode ocupar o lugar das hidrelétricas nos leilões A-5, por eventuais dificuldades na obtenção de licenças ambientais. “Eu acho que vai ter hidrelétrica no A-5, mas é provável que não o suficiente para atender à demanda”, afirma Maurício Tolmasquim, presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE). A participação das eólicas foi confirmada para a próxima concorrência, marcada para o dia 20 de dezembro, que reunirá novamente todas as fontes.
Os preços baixos pegaram a EPE de surpresa, mas podem estar chegando a um limite. “Fica cada vez mais difícil baixar o preço. Vai se chegando a um determinado limite da tecnologia. Acho que os preços não devem baixar mais, porém, como tenho sido surpreendido, prefiro não arriscar”, afirma Tolmasquim.
Segundo Ricardo Savoia, da consultoria Andrade & Canellas, os projetos vencedores entraram sem gordura para queimar. A competitividade pode ser demonstrada pelo alto fator de capacidade dos parques. A média ficou em 47%, mas 31 parques apresentaram fator de 50% ou mais. Duas usinas, registradas em nome do fundo de investimentos Sequoia Capital, chegaram a 61% de capacidade, Corrupião (22,4 MW) e Inhambu (25,6 MW), na Bahia.
Ainda é uma incógnita se os fatores de produção esperados serão de fato atingidos. A maioria dos parques atualmente em operação faz parte do Programa de Incentivo às Fontes Alternativas (Proinfa), que não exigia um bom desempenho como nos leilões. “As empresas estão num limite agressivo de competição. Com o menor custo de investimento e o maior fator de carga associado. Caso exista algum imprevisto ou custo adicional, talvez os empreendimentos possam ficar comprometidos.”
Por outro lado, o fato de grandes grupos terem ganho contratos, como Enel/Endesa, Eletrobras/Eletrosul e Renova/Light, reduz a possibilidade de não execução dos projetos por eventuais problemas de rentabilidade. “Quem entrou realmente conhecia o negócio. Já tem resultado verificado que talvez permita vender a esse nível de preço.”
7 GW em 2014
Com as contratações dos leilões A-3 e de reserva, a capacidade instalada de energia eólica no Brasil passará de 7 GW em 2014, 5,4% da matriz elétrica brasileira.
Os 1.928 MW negociados em agosto se somarão aos 5.346 MW instalados ou contratados em leilões anteriores, totalizando 7.274 MW.
A capacidade já supera a estimativa feita pela EPE no Plano Decenal de Expansão de Energia 2020 (PDE 2020), em consulta pública. De acordo com o documento, a energia eólica atingiria uma capacidade instalada de apenas 6.172 MW, em 2014. A marca de 7 GW só seria ultrapassada no ano seguinte.
A forte resposta dada pelos investidores eólicos vai modificar as previsões do PDE. O estudo atual considera que a energia eólica atingirá a capacidade instalada de 11.532 MW em 2020. Se o volume de contratação deste ano (de quase 2 mil MW) for repetido nos dois anos seguintes, a previsão da EPE será atingida já em 2016.