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Clippings - 25/01/21

Novos operadores do refino devem despontar no país a partir de 2021

Novos nomes devem começar a despontar no refino brasileiro em 2021, à medida em que a Petrobras avance com seus desinvestimentos. A chegada de novos agentes no setor, no entanto, pode ocorrer não só pelas aquisições de ativos da estatal. Na esteira do fim do monopólio do setor, empresas vivem a expectativa de tirar do papel projetos de pequenas e médias refinarias, voltadas para mercados locais. A ideia dos empreendedores é concluir este ano o licenciamento e conseguir fechar, mesmo num momento adverso da economia, a equação financeira dos projetos – que, embora de menor escala, devem exigir bilhões de reais.

Oil Group, Energy Platform (EnP) e Noxis Energy têm em carteira projetos do tipo, modulares, que podem atingir ao menos 400 mil barris/dia – 16% da capacidade autorizada do parque nacional. As empresas apostam num ambiente de negócios mais favorável à atração de investidores, conforme o monopólio se quebre.

A expectativa é que o tabuleiro do refino, no Brasil, comece a ser povoado por novos atores a partir deste ano. Dentre os candidatos a protagonistas, nessa abertura, está a Ultrapar, que negocia a compra da Refinaria Alberto Pasqualini (Refap/RS), num negócio que pode movimentar de US$ 1,2 bilhão a US$ 1,4 bilhão, segundo fontes do mercado – a Petrobras nega os valores. Já o fundo Mubadala, dos Emirados Árabes, é favorito à aquisição da Landulpho Alves (Rlam/BA). A chinesa Sinopec, a indiana Essar e a Raízen também miram os ativos à venda pela estatal.

“O mercado brasileiro de refino tem espaços vazios para ocupar”, diz Félix, ex-secretário do MME e fundador da EnP
Seja por meio dos desinvestimentos da Petrobras, seja por meio de projetos construídos do zero, a abertura do setor tenta avançar depois de um 2020 turbulento. Em meio à retração forte da demanda global por derivados frente à pandemia de covid-19, os negócios da estatal atrasaram. A petroleira tem compromisso com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para concluir, até o fim do ano, a alienação das oito refinarias do programa – uma nona, Clara Camarão (RN), foi colocada à venda junto com campos terrestres no Polo Potiguar.

Assim como a Petrobras atrasou seus negócios, as pequenas novas refinarias também não avançaram muito em 2020. Oil Group, EnP e Noxis apostam no conceito de unidades modulares – refinarias de pequeno porte construídas em fases, de acordo com o avanço da demanda. Os projetos devem abastecer mercados locais.

Este é o caso do projeto da Oil Group no Porto do Açu, em São João da Barra (RJ). Enquanto a maioria dos ativos colocados à venda pela Petrobras têm capacidade para processar mais de 100 mil barris/dia, a Oil Group, de origem texana, tem planos para uma unidade de 20 mil barris/dia e que pode chegar a 50 mil barris/dia no futuro. O investimento na primeira fase é estimado entre US$ 300 milhões e US$ 350 milhões.

O diretor de downstream (abastecimento) da Oil Group, Luiz Massa, conta que a pandemia “deu uma travada” no desenvolvimento dos projetos do tipo no país, mas que os empreendimentos são “o futuro do refino” no Brasil e devem avançar com o fim do monopólio. A lógica é fornecer derivados para mercados locais, sobretudo aqueles próximos ao porto. No Açu, a unidade focará na produção de gasolina e diesel para Campos dos Goytacazes (RJ), que está a mais de 300 quilômetros da refinaria de Duque de Caxias (RJ). “O Brasil tem carência de meios logísticos. O refino vai virar um mercado de nichos. Se processo o petróleo e vendo [o derivado] próximo à refinaria, meus preços serão mais competitivos, pelo ganho logístico. E o mercado se abrirá para quem for competitivo”, diz Massa.

Previsto para 2024, o projeto do Açu está sendo concebido para processar o óleo do pré-sal – segundo Massa, a Oil Group tem conversas para compra de cargas da Shell. A ideia é que em 2021 o licenciamento da refinaria seja concluído, depois de atrasos em meio à pandemia, e que as obras civis, como a terraplenagem, comecem no segundo semestre. Massa conta que a ideia é financiar o projeto com instituições de fomento da França e da China, de onde virá a maior parte dos equipamentos. A empresa também busca sócios.

O diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires, vê com ressalvas a atratividade dessas pequenas refinarias. Ele lembra que o projetos do tipo existem há anos, no Brasil, sem nunca terem saído do papel. “Sem subsídios é difícil viabilizar”, disse.

Também pesa contra os projetos o cenário de transição energética para fontes de baixo carbono e os efeitos da crise econômica. Mesmo assim, a perspectiva é de expansão para o mercado. A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) projeta alta de 28% no consumo de derivados de petróleo até 2030.

O sócio-diretor da consultoria Leggio, Marcus D’Elia, acredita que os projetos de pequenas refinarias tendem a ganhar força com a abertura do refino. Segundo ele, é natural que investidores sejam mais cautelosos neste momento de transição. “A abertura do mercado vai mexer muito na precificação dos derivados, isso influencia na viabilidade dos projetos. Mas vejo esse tipo de projeto com potencial para atrair investidores, se houver um modelo de negócios bem estruturado”, explicou.

A Oil Group também negocia com a EnP duas refinarias no Espírito Santo. O presidente da EnP, Márcio Félix, conta que a mais adiantada delas é a RelubES, voltada para produção de lubrificantes e derivados como gasolina e bunker para navios. A unidade foi desenhada para ter 20 mil barris/dia, podendo chegar a 50 mil barris/dia. O projeto, estimado entre US$ 200 milhões e US$ 250 milhões, aguarda o desfecho da venda dos campos maduros da Petrobras na região, a fonte de suprimento prevista para a unidade.

“O petróleo capixaba é vendido bruto para outros Estados, enquanto os navios que atracam no Espírito Santo têm demanda suficiente para atrair investimentos. O mercado de refino brasileiro tem espaços vazios a ocupar”, disse.

Segundo Félix, a ideia é que em 2021 a empresa consiga fechar a equação para tirar o projeto do papel. “Com a conclusão dos desinvestimentos dos campos da Petrobras teremos uma definição mais clara do quadro geral de produtores do Estado. Aí vamos amarrar a garantia de fornecimento [de óleo] e avançar com a comercialização para nos financiarmos”.

Félix disse que conversa com “tradings”, bancos e fundos de private equity para tentar financiar o projeto. EnP e Oil Group também estudam uma unidade de 50 mil barris/dia (30 mil barris/dia na primeira fase), para processar o óleo do pré-sal, no futuro Porto Central, em Presidente Kennedy (ES).

Já a Noxis estuda uma unidade de 50 mil barris/dia em Sergipe, orçada em US$ 600 milhões e que produzirá a partir de 2025 bunker com baixo teor de enxofre para navios. O presidente, Gabriel Debellian, conta que, para 2021, a ideia é obter a licença de instalação da unidade e iniciar a terraplenagem da área. A empresa também quer iniciar este ano o licenciamento de um segundo projeto, maior (de US$ 900 milhões e capacidade para 100 mil barris/dia) no Porto de Pecém (CE). A empresa negocia o financiamento com o Exim Bank e busca “private equity” para a refinaria, prevista para 2024. A Noxis planeja ainda uma unidade de 100 mil barris/dia no Espírito Santo.

Fonte: Valor